Diante de fatores como o agravamento da crise climática e o exponencial crescimento da população mundial, pensar em alternativas para o consumo de proteína animal torna-se cada vez mais urgente.
Em 2050, estima-se que haverá quase 10 bilhões de pessoas na Terra. Isso significa 3 bilhões a mais de bocas para alimentar do que há uma década, e exigirá uma produção de alimentos 56% maior do que a de hoje.
Além do crescimento populacional, a mudança nas dietas ao redor do globo contribuiu para dobrar o consumo mundial de carne desde 1960 –e essa elevação deve se repetir novamente até 2050!
Isso porque conforme a renda aumenta nas economias em desenvolvimento, as pessoas passam a consumir mais alimentos à base de origem animal, o que exige um intenso uso de recursos naturais.
Portanto, se olharmos a partir de uma perspectiva ambiental, podemos dizer que o real custo da carne tem sido levado em consideração?
Bem, vamos aos dados. Hoje em dia, os animais criados globalmente para consumo humano (cerca de 1,5 bilhão) respondem por 14,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa na forma de metano. Como o dióxido de carbono (CO2), esse é um gás que contribuiu para o rápido aquecimento da Terra, mas consegue ser ainda mais nocivo, causando danos climáticos 23 vezes maiores do que o CO2.
Além disso, a criação de gado:
- consome um terço de toda a água doce usada no mundo.
- é responsável por 80% do desmatamento global, como resultado da limpeza de terras para cultivo de alimentos para o gado ou simplesmente para pasto.
Atualmente, mais de um terço da terra arável do mundo é utilizada para o cultivo de alimentos para a criação animal, em especial, milho e soja. Aliás, cerca de 70% da produção mundial de soja, e 40% de milho, destina-se à alimentação de gado.
Embora sempre tenham existido grupos de indivíduos que não consomem carne por razões culturais, éticas ou de saúde, a preocupação com o impacto ambiental gerado pela presença maciça da proteína animal em nossa alimentação tem aumentado.
O crescente esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (greenhouse gas, ou GHG, na sigla em inglês) no mundo tem não só aumentado a conscientização sobre os movimentos de conversão de florestas em terras agrícolas, mas também feito com que consumidores, investidores e a própria indústria de alimentos busquem alternativas.
Muito além da carne
E as alternativas para a proteína animal não páram de surgir –e de melhorar. Em restaurantes (incluindo Burger King e Dunkin Donuts), a venda de substitutos vegetais quadruplicou. E as principais empresas multinacionais do setor de alimentos, como Kellogg, Nestlé e General Mills, além de outras de menor porte, estão se adaptando rapidamente ao aumento da demanda por produtos que não contenham nenhum tipo de carne. Inclusive, um dos IPOs mais bem-sucedidos de 2019 nos Estados Unidos foi da startup Beyond Meat, que produz “carne” de origem vegetal, ou plant-based, como agora muitos preferem chamar.
Até agora, a América do Norte representa a maior parcela do mercado global de proteínas de base vegetal, apesar de Europa e Ásia-Pacífico estarem crescendo rapidamente. A forte adoção desses alimentos nesses países vem sendo motivada por motivos que incluem desde preocupações crescentes com os métodos de produção da carne e o meio ambiente até os recentes avanços tecnológicos no desenvolvimento das opções plant-based.
Em um mundo em que chegamos a desperdiçar um terço de todos os alimentos produzidos, devemos fazer mais do que reavaliar a origem do produto consumido. Precisamos focar também na otimização de nossos recursos.
Conforme iniciamos esta nova década, em meio a projeções para os desafios que nos aguardam, a capacidade de gerenciar nossas riquezas naturais será fator decisivo para a construção de um mundo sustentável.
Não importa se a preocupação é principalmente ética ou com a eficiência dos métodos de produção; pensar em alternativas para a produção de alimentos será uma questão global cada vez mais importante nos próximos anos.