A COVID-19 transformou a resiliência operacional em um tema chave para os reguladores. Por isso, é fundamental que os traders estudem atentamente o que já foi publicado sobre o assunto para entender quais escolhas estratégicas devem ser feitas de agora em diante na busca desse objetivo.
- O envolvimento dos setores financeiro e regulatório com a resiliência operacional vai hoje muito além de segurança cibernética e Covid-19.
- Os órgãos reguladores estão focando em cinco temas principais dentro da área de resiliência operacional: segurança cibernética, computação em nuvem, terceirização, clientes e sistema financeiro.
- Todos esses temas são importantes para os times de trading, que devem incorporar, o mais rápido possível, as melhores práticas de resiliência operacional às suas estratégias de dados e tecnologia.
À medida que a pandemia segue seu curso, a resiliência operacional vai se tornando um tópico cada vez mais importante para empresas e agências reguladoras. Hoje em dia já temos consciência das potenciais vulnerabilidades das organizações, como infraestruturas de dados e tecnologia, que podem impactar a sua capacidade de fornecer produtos e serviços. Existem ainda preocupações sobre a força da relação que empresas mantêm com os clientes, terceiros, intermediários financeiros e até mesmo com a concorrência.
A resiliência operacional é particularmente importante para as equipes de trading, que são muito dependentes de dados, novas tecnologias e relacionamentos em seu trabalho.
Com foco nesse público, o novo white paper da Refinitiv, “Por que a Resiliência Operacional agora é Essencial para os Negócios de Trading”, explora as formas pelas quais traders em empresas de serviços financeiros têm começado a se preocupar com a resiliência operacional –tanto para o sucesso dos negócios como para cumprir futuras exigências regulatórias.
Neste post, o segundo de uma série de três sobre o assunto, abordamos importantes temas regulatórios dentro do conceito de resiliência operacional que podem fornecer insights de melhores práticas para as equipes de trading.
Leia o white paper: “Por que a Resiliência Operacional agora é Essencial para os Negócios de Trading”
Quais são os principais temas regulatórios?
Reguladores em todos os continentes vêm elaborando documentos sobre resiliência operacional, mas de diferentes formas. A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (UK FCA, na sigla em inglês) talvez seja a que mais tenha avançado nessa área, após ter emitido, em dezembro de 2019, um documento de consulta formal que propõe uma estrutura de resiliência operacional. De qualquer forma, o tema também tem recebido atenção de agências reguladoras dos EUA e da UE, bem como em outras jurisdições. O Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia publicou seu próprio documento de consulta sobre resiliência operacional em agosto de 2020.
Mas, no geral, há cinco temas básicos sobre os quais os documentos regulatórios se concentram:
1. Cibersegurança – Esta é a questão que deu início ao interesse das agências regulatórias pelo tema da resiliência operacional. Afinal, os ataques cibernéticos provocam interrupções nos sistemas, violam e corrompem dados –todas ameaças reais às operações de trading. Globalmente, a incidência de ataques cibernéticos às instituições financeiras é muito maior do que a empresas de outros setores. Isso significa que este continuará a ser um foco importante, mesmo quando outros temas de resiliência operacional entrarem em foco na esteira da Covid-19.
No primeiro trimestre de 2020, por exemplo, o Centro de Análise e Compartilhamento de Informações de Serviços Financeiros (FS-ISAC) relatou um aumento de 33% no número de casos de phishing ao portal de compartilhamento de inteligência da organização. Em meio a esse cenário, as empresas estão investindo mais em segurança cibernética para aumentar a resiliência operacional. De acordo com uma pesquisa realizada pelo FS-ISAC, 75% dos profissionais de segurança cibernética das empresas globais fizeram mudanças significativas em suas estratégias de ação a fim de lidar com a repentina mudança para o trabalho remoto imposta pela pandemia.
2. Computação em nuvem – O crescente interesse dos reguladores sobre a computação em nuvem não quer dizer que eles se oponham a essa abordagem cada vez mais popular de armazenamento e uso de dados. O que os órgãos de supervisão desejam é que as instituições financeiras enxerguem o uso de provedores de serviços em nuvem como uma forma de terceirização, e garantam que esses parceiros sejam confiáveis, seguros e operacionalmente resilientes.
Apesar de uma recente pesquisa da Refinitiv ter mostrado que 94% das empresas estão limitando o uso da nuvem devido a questões regulatórias, é provável que isso seja um problema de curto prazo. Na verdade, a mesma sondagem da Refinitiv, mas de 2019, apontou que 64% dos entrevistados sentiam que a adoção da nuvem será importante, ou até mesmo transformadora, para o seu setor nos próximos cinco a dez anos. E com a pandemia de Covid-19, tanto as instituições financeiras quanto os reguladores puderam comprovar a importância desse recurso tecnológico para a resiliência operacional.
3. Terceirização – Os reguladores querem que as empresas de serviços financeiros se assegurem de que os terceiros com os quais escolheram fazer parceria têm resiliência operacional. A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (UK FCA), por exemplo, reconhece que a inovação baseada em dados é hoje um tema crucial dentro da terceirização, e enfatiza que a qualidade e a transparência dos relacionamentos com os terceiros são mais importantes do que nunca.
Os riscos operacionais nos relacionamentos com terceiros precisam ser gerenciados e tratados de forma proativa. E isso também faz sentido do ponto de vista de negócios. Em uma recente pesquisa da Refinitiv, profissionais que atuam em empresas de serviços financeiros foram questionados sobre qual o impacto negativo no valor corporativo se sua organização ou terceiros violassem os regulamentos; a estimativa média foi de 28%.
4. Clientes – O que sustenta a resiliência operacional é a ideia de que as empresas devem ser capazes de fornecer produtos e serviços a seus clientes mesmo durante acontecimentos negativos que gerem altos graus de disrupção. Na crise causada pela Covid-19, as instituições financeiras tiveram que continuar operando em nome de seus clientes em meio à intensa volatilidade dos mercados, deslocamento físico de suas equipes e fluxos de dados acelerados.
Além disso, é essencial que as empresas consigam incorporar novos clientes. Isso se mostrou um desafio significativo para muitas organizações europeias e norte-americanas durante os lockdowns impostos pela atual crise sanitária, já que muitas delas ainda se valiam de processos manuais de onboarding. Mesmo antes de a pandemia se instaurar, um estudo já mostrava que 14% dos potenciais negócios das instituições finceiras eram perdidos devido à rejeição de transações, pois faltavam informações sobre a identidade legal das contrapartes. E outros 15% não saíam do papel devido à demora nos processos de onboarding. Durante a pandemia, é bem possível que esses números tenham aumentado em empresas que ainda mantêm formas manuais de integração. Já as que se amparam em processos digitais conseguiram oferecer aos clientes uma experiência mais agradável e, sobretudo, ágil.
5. Sistema financeiro – Da mesma forma, uma instituição financeira incapaz de realizar operações de trading (ou de fazê-lo de forma satisfatória) pode causar danos a outras empresas, aos intermediários e ao sistema financeiro como um todo. Os acontecimentos das últimas duas décadas –o 11
de setembro, a crise financeira de 2008 e, agora, a pandemia— demonstraram a importância de ter dados sólidos para que o sistema financeiro seja resiliente.
A incapacidade de uma instituição financeira de realizar operações de trading, independentemente do motivo, já seria uma falha de resiliência operacional. As perdas operacionais nessas áreas já são significativas: entre 2014 e 2019, os prejuízos totais para as equipes de trading e investimento por falhas de execução, entrega e gerenciamento de processos foram de € 9,3 bilhões; as perdas totais para clientes, produtos e práticas de negócios somaram € 18,3 bilhões.
Como as exigências de resiliência operacional vão evoluir na esteira da Covid-19?
É claro que os reguladores ao redor do globo estão se preparando para focar na resiliência operacional assim que a crise internacional deflagrada pela pandemia COVID-19 arrefecer. “Podemos esperar que o interesse regulatório e as medidas visando maior resiliência operacional fluam pelos mercados como resultado da Covid-19. E isso terá impacto imediato sobre as estratégias de tecnologia, compras e dados das empresas”, diz Gavin Carey, Head of Enterprise EMEA na Refinitiv.
As equipes de trading devem examinar o que os reguladores já emitiram em relação aos temas mencionados acima. Para auxiliá-las nessa tarefa, uma lista de documentos está incluída em nosso novo white paper.
Adotando agora uma nova abordagem para resiliência operacional, as equipes de trading têm a oportunidade de associar prováveis exigências regulamentares a práticas operacionais aprimoradas, estratégia com potencial de gerar grande valor comercial.