Embora o fim do oligopólio do mercado de petróleo, na década de 70, tenha feito o trade finance evoluir em complexidade e volume, a regulamentação dos índices de alavancagem bancária e corporativa após a crise de 2008 deixou um vácuo na oferta de financiamentos.
Neste post, Mikael Bonalumi, Head of Physical Risk Management da Audentia Global –instituição parceira da Refinitiv— explica como provedores de capital alternativo estão preenchendo a lacuna de mais de US$ 2,5 trilhões em trade finance com transações de valor agregado amparadas em um profundo conhecimento do setor.
Por que o trade finance é necessário?
Como a produção de petróleo passou de 50 milhões de barris por dia (mbpd), em 1971, para os atuais 100 mbpd, a necessidade de financiar as transações internacionais também aumentou exponencialmente. A alta no preço da commodity também levou a uma demanda de financiamento muito maior do que a das décadas de 1970 e 1980, quando a cotação variava de US$2 a US$20 por barril –atualmente o valor está na faixa de US$50 a US$100.
As instituições financeiras foram rápidas em capitalizar essa oportunidade, e o petróleo logo se tornou uma espécie de “garantia comoditizada”. Afinal, havia muito pouco risco na emissão de cartas de crédito e os bancos não exigiam ações das empresas comercializadoras como garantia. Era praticamente dinheiro de graça.
Contudo, após a crise financeira de 2008, as práticas inadequadas de governança corporativa dos bancos foram expostas e, aparentemente, todos queriam um pedaço do mercado. A especulação nos mercados era abundante, assim como procedimentos de empréstimo excessivamente frouxos e alavancagens em tomada de risco. Dessa forma, algumas instituições foram forçadas a sair do financiamento de commodities por falta de compliance nessas transações, o que aumentou ainda mais a possibilidade de lucro para as que sobraram.
Novas condições do mercado
Nos últimos dois a três anos, empresas de trading de pequeno e médio porte tiveram suas linhas bancárias reduzidas ou até mesmo canceladas. As linhas de crédito restantes são baseadas (pelo menos para estruturas menores) no que chamam de take-or-pay, em que se paga um valor mensal, como uma “taxa de assinatura”, quer você a utilize ou não. As exigências de capital como garantia para os bancos também aumentaram.
Antes da crise financeira de 2008, a carga transportada era suficiente como garantia para os bancos –hoje, isso claramente não é mais assim. Como a quantidade física de trading de cada empresa é menor neste ambiente mais competitivo, e ela ainda paga custos fixos, como pessoal e aluguel, gerar margens de lucro estáveis ao longo do tempo é extremamente desafiador. Se combinarmos todos esses fatores à escassez e aos preços mais altos dos financiamentos, a pressão sobre o setor fica quase insustentável.
Com as novas regulamentações, os principais favorecidos serão os grandes players da indústria, com seus ativos, balanços robustos e promessas de boa governança. Essa tendência, no entanto, leva ao risco de uma concentração sistêmica, situação em que os bancos têm pouca ou nenhuma diversificação em suas carteiras. Além disso, traz incertezas para as pequenas e médias empresas de trading de commodities, responsáveis por levar bens essenciais de países exportadores emergentes para mercados consumidores em todo o mundo.
Como a Audentia Global pode ajudar
A Audentia Global foi criada em conjunto com um time de profissionais especializados em commodities, que perceberam em primeira mão o impacto que as mudanças regulatórias e a lacuna de mais de US$ 2,5 trilhões em trade finance estão tendo para o setor físico do trading.
Identificamos a necessidade de fontes alternativas de capital, respaldadas pela compreensão sobre a importância da mercadoria física subjacente, para que sejamos capazes de fornecer experiência e valor adicionais para uma transação.
Na Audentia, fazemos investimentos de crédito estruturados em transações físicas de commodities no mercado secundário, co-investindo com bancos para fornecer alívio de capital regulatório. Já no mercado primário, atuamos como uma ponte entre os bancos financeiros e as grandes empresas.
As commodities são grande motores da economia global. Portanto, ao introduzir capital alternativo para financiar essas transações, esperamos fornecer uma solução positiva para o impacto das mudanças regulatórias –ao mesmo tempo em que oferecemos ao universo de investidores tradicionais acesso a uma atraente classe de ativos.
Hoje em dia é ainda mais importante que os profissionais com os conhecimentos certos trabalhem ao lado de bancos e grandes empresas. À medida que novos participantes –que tradicionalmente não se sentem confortáveis com o grau de risco oferecido pelas commodities— entram no mercado de petróleo, aumenta a obrigação de garantir que todas as partes envolvidas nas propostas de investimento compreendam os reais riscos dessas transações. Isso, inclusive, pode exigir uma melhor orientação para executivos e profissionais de nível gerencial.
Hora de acompanhar as mudanças
Algumas empresas de trading já não são o que foram nas décadas de 1980 e 1990, e a maneira como se posicionam atualmente transforma-as em uma espécie de fundo ou de family office, decidindo como usar o capital disponível para maximizar os retornos. O trading, em si, tornou-se quase secundário, mas é um meio necessário para monetizar ativos e opções embutidas. O papel tradicional do trader pode muito bem mudar no futuro, tanto em termos de remuneração, autoridade e prestígio. Funções como originação de negócios e engenharia financeira podem adquirir mais importância. Mesmo assim, precisamos manter o pipeline de propostas de negócios interessantes sempre preenchidas.
Aconselho veementemente qualquer jovem trader a permanecer neste setor, porque é divertido, intelectualmente desafiador e dá a você a oportunidade de se envolver em uma indústria em constante mudança, em vias de se tornar “mais limpa”, em todos os sentidos da palavra.
Além disso, você pode ganhar um bom dinheiro. Um bom caminho é passar de três a cinco anos em funções de back office antes de chegar ao front office. Use esse tempo para investir em si mesmo, pois seu valor de mercado aumenta rapidamente se você for bem treinado. E seja paciente. Existem muitos empregos que estão intimamente ligados ao universo do trading, como comércio, desenvolvimento de negócios, marketing, finanças estruturadas, M&A e projetos.
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