Ir para conteúdo

COP 28 nos Emirados Árabes Unidos: entenda o que está em jogo

Jane Goodland
Jane Goodland
Group Head of Sustainability, LSEG

À medida que órgãos internacionais e negociadores começam a se preparar para a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 28, as expectativas mostram-se cada vez mais altas. Neste post, explicamos por quê.


  1. A reunião fará um balanço global sobre o progresso coletivo das nações em direção às metas do Acordo de Paris. No entanto, ainda não há um curso de ação definido para o que deverá acontecer se, como esperado, os países estiverem atrasados em suas “lições de casa”.
  2. A COP do ano passado, realizada no Egito, evidenciou o quão frágil é todo esse processo, apesar do acordo sobre “perdas e danos” para países vulneráveis e de um progresso significativo na área do financiamento climático.
  3. Os preparativos para a COP 28, que ocorrerá em Dubai, já estão em andamento, e a redução gradual do uso de petróleo e gás provavelmente estarão no topo da agenda.

Para mais informações baseadas em dados diretamente no seu inbox, assine o boletim semanal Refinitiv Perspectives

A 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 28 –prevista para ocorrer entre 30 de novembro e 12 de novembro deste ano—, concluirá o balanço global sobre o progresso das nações em atingir a meta do Acordo de Paris de limitar, até 2050, a elevação da temperatura do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Bem, a verdade é que ninguém espera que a avaliação iniciada dois anos atrás em Glasgow, na COP 26, conclua que o mundo está no caminho certo. Os planos nacionais sobre mudança climática de muitos países, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), já são notórios por ficarem aquém do que realmente é necessário.

Mas a questão chave é: o que será feito para manter vivo o Acordo de Paris?

Prazo apertado

Pelo que sabemos, até agora não há um curso de ação definido para o que deverá acontecer daqui em diante. Ou seja, num prazo de apenas nove meses, entidades internacionais e negociadores terão que encontrar um caminho a seguir se quiserem anunciá-lo durante a conferência.

“Algumas economias avançadas estão estabelecendo compromissos ambiciosos para evitar que a temperatura aumente além de 1,5°C. Contudo, se eles vão ou não cumprir com esses objetivos ainda é um grande ponto de interrogação”, observa Jaakko Kooroshy, London Stock Exchange Group’s (LSEG) Global Head of Sustainable Investment Research.

Kooroshy também chama a atenção para o fato de que algumas grandes economias emergentes, como a Índia, têm atualmente emissões de CO2 muito baixas e estão alinhadas aquém de dois graus, embora essas emissões venham crescendo em ritmo acelerado. “Por outro lado, muitas outras economias estão se alinhando acima de três graus; em alguns casos, mais perto de quatro graus, como Austrália e Canadá, e é aí que precisamos de novos compromissos”, acrescenta.

O FTSE Russell 2022 Net Zero Atlas já emitiu um alerta de que o conjunto de políticas climáticas nacionais para redução das emissões de gases de efeito estufa ainda estão aquém da escala e do ritmo necessários.

Embora as atuais políticas climáticas dos países estejam se alinhando gradualmente com seus compromissos para 2030, elas ainda implicam em um nível médio de aquecimento de 2,8°C, bem abaixo da ambição necessária para cumprir as metas do Acordo de Paris.

Clique aqui para ter acesso a outros insights do LSEG sobre finanças sustentáveis

Progressos na COP 27

Um dos maiores exemplos da fragilidade das negociações sobre mudanças climáticas foi a COP 27, que ocorreu no Egito no final do ano passado. Com muitos negociadores expressando frustração pelo fato de a conferência não ter ido além para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a reunião pelo menos alcançou um acordo histórico sobre compensação a “perdas e danos” de países vulneráveis que vêm sendo duramente atingidos por desastres climáticos. O único problema é que esse acordo também cria o risco de perda de confiança nas negociações se, futuramente, os países desenvolvidos não cumprirem com esse compromisso.

Outro ponto positivo divulgado na COP 27, vale lembrar, foi o avanço no desenvolvimento de ferramentas de financiamento climático –uma área que se mantém a todo vapor (como muitas vezes já mencionamos aqui neste blog).

“Há muitas iniciativas interessantes em curso e uma sensação de aceleração”, afirma Tessa Walsh, ESG Financing Editor do IFR.  “Olhando, por exemplo, para a questão de “perdas e danos”, é tudo uma questão de adaptação. Como podemos ajudar as empresas a se preparar para os piores efeitos gerados pela crise climática?”, diz.

Walsh destaca que como tradicionalmente se espera que qualquer medida de adaptação seja financiada pelos governos, a questão principal é como obter capital do setor privado para essa adaptação. “Como levamos esse dinheiro para onde ele precisa ir? Ou seja, geralmente nas partes mais arriscadas do mundo, que enfrentam condições mais extremas?”, indaga a editora da IFR.

Transição energética: tópico chave da COP 28

Com os preparativos da COP 28 nos Emirados Árabes Unidos em curso, fica cada vez mais clara para todos as envolvidos a urgência de se destacar o tema da transição energética –mesmo que isso se dê justamente em uma região que é o centro geográfico da indústria mundial de hidrocarbonetos.

Muitos governos estão se municiando de dados e informações que possam representar de forma mais clara possível seus planos de transição energética e, assim, atrair o financiamento necessário para cumpri-los. E entre eles, há, claro, os programas e metas dos países do Oriente Médio, que são especialmente controversos.

“Há muito ceticismo sobre as economias dependentes de combustíveis fósseis e como elas vão lidar com a transição”, observa Walsh. “Elas vão fazer isso de boa-fé ou não? Todo o debate sobre greenwashing provavelmente tem sido assustador para alguns desses países. Mas o fato é que precisamos deles a bordo se formos fazer a transição, e temos que descobrir uma maneira aceitável de mantê-los envolvidos de forma positiva com esse processo”.

Metas de redução de carbono

De modo geral, há, sim, espaço para sermos otimistas sobre o progresso global em direção às metas do Acordo de Paris. Embora algumas economias desenvolvidas não tenham políticas suficientemente ambiciosas para 2030, para 2050, elas já exibem projetos de redução de carbono bem mais significativos.

Além disso, há economias emergentes que estão fazendo muito mais para reduzir as emissões de carbono antes de 2030 do que o implícito em suas NDCs.

“Mas ainda há alguma margem para que vários desses países em desenvolvimento se tornem mais ambiciosos”, diz Kooroshy. “Nossa impressão é que alguns deles estão negociando o que receberão em troca. E talvez seja exatamente aí que resida parte da margem de manobra para essas negociações”, diz.

Em suma, diante do ponto de inflexão que a COP 28 parece representar, as negociações sobre crise climática que ocorrerão antes do evento têm tudo para serem as mais difíceis já realizadas até agora.

Clique aqui para ter acesso a outros insights do LSEG sobre finanças sustentáveis