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É preciso corrigir o nível de taxação do carbono

David Craig
David Craig
CEO, Refinitiv

Parece que finalmente as grandes empresas acordaram para a gravidade da crise climática, e de acordo com as nossas análises, elas estão certíssimas.


Ao longo das últimas semanas, algumas das maiores corporações do mundo sinalizaram que a velha mentalidade de “business as usual” deve mudar. Primeiro foi a Microsoft prometendo negativar suas emissões de carbono até 2030, depois, a Blackrock, anunciando que colocaria a sustentabilidade no centro de suas decisões de investimento. Agora, com o início do Fórum Econômico Mundial em Davos, nesta terça-feira, novas declarações desse tipo são esperadas.

O que eu mais escuto atualmente em reuniões com clientes e outros líderes empresariais são comentários sobre mudanças climáticas e sustentabilidade.

Mas afinal, o que está provocando essa aparente mudança de comportamento? Bem, a primeira coisa a dizer é que a preocupação desses executivos parece absolutamente genuína. Quem não tem ficado estarrecido com as recentes imagens de desastres naturais na Austrália?

Mas o mundo empresarial também tem observado a questão sob um prisma racional, focado nos negócios. Isso porque, cada vez mais, os consumidores mostram-se implacáveis com as empresas que se mantêm do lado errado desse debate; e os mercados financeiros já começaram a punir os retardatários.

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Custos ignorados

As consequências financeiras de ignorar a crise climática estão se tornando mais claras a cada dia, mas além disso, há outra ameaça (ainda não percebida) para os balanços patrimoniais das organizações e para a economia global como um todo.

Como era de se esperar, a Refinitiv fez sua lição de casa, mergulhando na análise de dados, e, segundo nossos cálculos, as  empresas com maior exposição correm o risco de perder até 13% de sua receita.

Tenham paciência, por favor, enquanto eu tento explicar como cheguei a esse número.

Vamos lá! O mundo emitiu cerca de 55 giga-toneladas de dióxido de carbono no ano passado. No entanto, apenas 20% dessas emissões foram tributadas, e em um valor (US$28 por tonelada) que a maioria dos economistas e cientistas da área afirma ser muito baixo para causar impacto ambiental suficiente.

Já, se a cobrança fosse aplicada a cada uma dessas 55 giga-toneladas, o valor total desses impostos passaria de US$220 bilhões para US$1,5 trilhão. Sim, um “carbon gap” de US$1,2 trilhão pode, a primeira vista, parecer gigantesco, mas é perfeitamente factível se pensarmos em cada organização; o custo adicional para uma empresa média seria de aproximadamente 1% de sua receita.

Agora, se aumentarmos o nível desse imposto para US$75 por tonelada de CO2 –o que o FMI disse ser necessário para limitar a elevação de temperatura a apenas dois graus—, empresas como as dos setores de mineração e de materiais de construção, além das companhias aéreas, podem sofrer grande impacto.

Segundo a nossa análise de cerca de 3.000 entidades listadas em bolsa, o déficit de carbono chega a quase US$4 trilhões, ou 4% do PIB mundial, se considerarmos todas as emissões ao redor do globo.

Correção a caminho

Ou seja, esse é um custo que o mundo corporativo não está levando em consideração. E é urgente fazê-lo! A mensagem dos formuladores de políticas econômicas e empresariais está sendo divulgada em voz alta e clara: “precisamos tributar as emissões de carbono em um nível realista, e é cada vez mais provável que façamos exatamente isso, dada a urgência da crise”.

Mesmo que eu esteja errado e as agências reguladoras e outros formuladores de políticas falhem em agir de forma decisiva a respeito do assunto, os líderes empresariais precisam tomar para si a responsabilidade, e avaliar os custos inerentes a isso. Para as empresas mais expostas, com altos índices de emissão, o aumento na tributação poderia ameaçar sua própria existência.

Portanto, meu conselho para os colegas que estarão em Davos nesta semana é o de agir, adiantando-se em relação ao problema. A chamada “carbon correction” está definitivamente chegando. A única questão é com que rapidez.

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