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Economia global é ameaçada por ressurgimento da Covid-19

Shrutee Sarkar
Shrutee Sarkar
Specialist Polling Correspondent, Reuters News Agency

Existe um alto risco de o ressurgimento das infecções por Covid-19 tirar dos trilhos a economia mundial este ano, de acordo com a maioria dos economistas consultados em pesquisa da Reuters, que preveem que o PIB global alcançará os níveis pré-pandemia dentro de dois anos.

Essa ameaça, levantada por analistas que estavam otimistas demais sobre as perspectivas de recuperação, acontece apesar de as ações mundiais somarem 33 trilhões de dólares em valor a partir das mínimas de março, impulsionadas por estímulo, juros perto de zero e a distribuição de vacinas contra a Covid-19.

Pesquisas da Reuters com cerca de 500 economistas na Ásia, Europa e Américas revelaram reduções modestas ou nenhuma alteração nas perspectivas de crescimento em comparação com levantamentos anteriores, bem como visões mais fracas para inflação na maioria dos países.

Economistas precificaram um ressurgimento da Covid-19 dado que quase dois terços dos analistas –ou 95 de 155– que responderam a uma pergunta extra disseram que existe um alto risco de que outra onda de infecções prejudique a economia global, incluindo oito que disseram que o risco é bastante alto.

“É difícil superestimar a importância dos próximos meses para a economia global e a saúde pública. Conforme a distribuição das vacinas começa em todo o mundo, estamos correndo contra o tempo para conter o impacto de variantes potencialmente mais contagiosas do coronavírus”, disse Aditya Bhave, economista global do BofA.

“O maior risco negativo para a economia global é que as vacinas sejam ineficazes contra as novas mutações. Em suma, o surgimento de uma cepa dominante e resistente à vacina pode resultar em um trimestre perdido para a economia global.”

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A previsão é de que o crescimento global chegue a 5,3% este ano na pesquisa realizada entre 7 e 26 de janeiro, inalterado em relação a três meses atrás, depois de ter encolhido 3,9% no ano passado, com a faixa de previsões mostrando tanto máximas mais altas quanto mínimas mais fortes. Entre os contribuidores comuns, cerca de 60% reduziram sua perspectiva para 2021.

O consenso para 2022 mostra expansão de 4%, acima dos 3,5% esperados anteriormente. Essas projeções foram baseadas em expectativas para políticas monetárias acomodatícias, sem nenhuma grande correção nos mercados financeiros após anos de rendimentos baixos dos títulos soberanos e alta dos preços acionários.

“Importantes avanços sobre vacinas em novembro e dezembro reduziram a incerteza e levantaram esperanças de que a vida pode se tornar mais normal de novo em algum momento dos próximos 12 meses”, destacou Janet Henry, economista-chefe global do HSBC.

“Mas as coisas são muito menos promissoras no curto prazo; de fato, as perspectivas econômicas imediatas de muitas economias avançadas pioraram de novo conforme enfrentam altas taxas de infecção e adotam novos lockdowns.”

Estímulo Fiscal

A economia dos EUA, mais afetada pela pandemia, receberá um impulso significativo do pacote fiscal de 1,9 trilhão de dólares proposto pelo presidente Joe Biden, segundo pesquisa da Reuters.

A economia da zona do euro, devastada pelo coronavírus, deve se beneficiar pouco do novo pacote do Banco Central Europeu, segundo pesquisa da Reuters que vê o cenário para o crescimento no primeiro trimestre reduzido quase pela metade. Reino Unido e Japão sofreram cortes similares.

A real preocupação no curto prazo são os mercados emergentes.

Recuperando-se de 2020 com as taxas de juros devendo permanecer estáveis, a economia da China deve crescer 8,4% em 2021 –embora a melhor leitura em uma década, acaba ficando menos impressionante diante da base baixa do ano passado.

A economia da Índia deve se recuperar no próximo ano fiscal, sustentada pela expansão do orçamento federal, e alcançar níveis pré-Covid-19 dentro de dois anos.

As perspectivas de crescimento do Brasil estão sendo ofuscadas por tensões fiscais, o que prejudica o cenário para o país em meio ao combate de uma segunda onda da pandemia de coronavírus.

“Entre os mercados emergentes, a China está liderando o caminho. Com a exceção da China, que deve passar por um curto surto de deflação, a maioria dos mercados emergentes deve ter um período transitório de inflação mais alta liderada pelos alimentos”, disse David Rees, economista sênior de mercados emergentes do Schroders.

“Mas quando isso passar e o crescimento se assentar em taxas mais normais, poucos bancos centrais terão pressa para apertar a política monetária, particularmente se os governos começarem a corrigir as posições fiscais.”

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