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Em pauta: como alocar o budget mundial para redução de emissões de carbono?

Na esteira da COP-26, onde países e empresas respondem às urgências impostas pela crise climática com uma série de compromissos para controlar seus níveis de CO2, é preciso lembrar que o mundo tem um budget para gastar com a redução de emissões de carbono. Só que decidir como alocá-lo é complicado, controverso e trará inúmeras consequências para o planeta.


  1. As metas de CO2 do Acordo de Paris estendem-se ao mundo todo, mas é preciso discutir sobre quais nações podem (e devem) reduzir suas emissões mais rapidamente.
  2. No que diz respeito às indústrias, o potencial de descarbonização geralmente depende de tecnologias e processos que estão sendo desenvolvidos em velocidades bastante variáveis.
  3. Um novo relatório produzido pela Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv, fornece orientação útil sobre o potencial de descarbonização de diferentes setores, além de caminhos de transição específicos que são consistentes com os objetivos climáticos do Acordo de Paris.

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Em meio a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), que ocorre até o dia 12 deste mês em Glasgow, na Escócia, muitos investidores podem estar se perguntando: como as metas de emissões líquidas zero serão alcançadas? Bem, existem diferentes cenários para aque as nações do mundo atinjam as metas globais assumidas no Acordo de Paris.

Antes de mais nada, é preciso identificar e quantificar os setores da economia com capacidade de realmente caminhar em direção à descarbonização e aqueles que trabalham com um horizonte de tempo mais longo.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU estimou recentemente o orçamento de carbono restante para o mundo –isso calculado segundo diferentes cenários de aquecimento estabelecidos por estimativas científicas.

Conheça mais detalhes a respeito de como o mundo deveria alocar seu budget de carbono no relatório produzido pela Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv

Diferenças nacionais

Já em relação aos países, questões estruturais e disponibilidade de recursos farão com que os esforços de descarbonização pareçam diferentes, mas é importante lembrar que para cumprir as metas do Acordo de Paris, todos as nações deveriam “descarbonizar” rapidamente.

O painel da ONU apresenta vários cenários. Estima-se, por exemplo, que 500 gigatoneladas (Gt) de emissões de CO2 emitidas após o início de 2020 resultariam em 50% de chance de limitar o aquecimento global a 1,5 °C (uma meta ambiciosa do Acordo de Paris).

Por outro lado, 900 gigatoneladas (Gt) de CO2 levariam a 83% de chance de manter o aquecimento abaixo de 2,0 °C (uma meta mais conservadora).

Os investidores precisam analisar as diferenças estruturais entre as nações que influenciarão a capacidade de atingir as metas de Paris, pois não há dúvidas de que as rotas para emissões líquidas zero serão diferentes.

Por exemplo, 20% do volume anual de gases de efeito estufa da Índia vêm da agricultura, mais do que o dobro da parcela equivalente na União Europeia e quatro vezes mais do que nos EUA ou na China.

Embora seja muito mais difícil e caro controlar as emissões do setor agrícola do que em outras atividades econômicas, uma parte significativa da eletricidade indiana provem do carvão, o que, comparado a outros países, é mais fácil de mudar, migrando para formas energéticas limpas.

Como alocar o budget para CO2 entre os diferentes setores da economia

A questão de como os orçamentos para carbono devem ser destinados entre os diversos setores econômicos é ainda mais pertinente para os investidores, até porque a capacidade de descarbonizar de forma rápida e barata difere mais entre tipos de indústria do que entre países.

Para qualquer companhia aérea, por exemplo, seria virtualmente impossível descarbonizar suas operações nos próximos anos sem ir à falência se não ocorrer um grande avanço tecnológico. Já o mesmo não pode ser dito de uma concessionária de eletricidade.

Há muitos motivos pelos quais um investidor deve conhecer o potencial de descarbonização de um determinado setor: para gerenciar riscos; identificar oportunidades; envolver-se com a gestão corporativa; cumprir regras de relatórios financeiros; definir métricas e metas; investir de forma sustentável; e até mesmo antecipar mudanças regulatórias.

Se, por acaso, for estabelecido um imposto fixo sobre o carbono para toda a economia, as indústrias com menos capacidade de descarbonização sofrerão com custos maiores. Mas os regulamentos (e impostos) são muitas vezes baseados no potencial de descarbonização dos setores econômicos, como mostra a iminente proibição de venda de novos carros a gasolina e diesel pelo governo do Reino Unido.

Além disso, as estratégias de investimento sustentáveis ​​e alinhadas ao Acordo de Paris não se referem apenas à venda de ativos que usam carbono intensivamente e à compra de energia renovável. Sim, a energia renovável é extremamente importante, mas o investimento também precisa ocorrer nas áreas onde ainda não existem soluções de baixo carbono.

Caminhos para a transição

Organizações como a Science Based Targets e Transition Pathway Initiative fornecem algumas orientações úteis sobre o potencial de descarbonização de diferentes setores, além de vias de transição específicas para cada uma dessas indústrias de acordo com os objetivos climáticos de Paris.

E uma nova ferramenta desenvolvida pela Fathom Consulting permite aos usuários traçar os caminhos de descarbonização para 24 setores do S&P 500 –tudo baseado em diferentes cenários e graus de políticas de transição.

Outra fonte útil é o Comitê de Mudanças Climáticas do Reino Unido –órgão independente que aconselha o governo sobre como definir e gerenciar o orçamento de carbono do país. Segundo suas previsões, há um cenário em que seria factível que em 2050 o consumo semanal de carne para uma família média diminuísse em 33%; todos os carros novos rodassem à bateria; a eletricidade fosse virtualmente livre de carbono; e as áreas arborizadas aumentassem em 40%.

Conheça mais detalhes a respeito de como o mundo deveria alocar seu budget de carbono no relatório produzido pela Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv