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Entenda como as pontuações ESG são medidas, qual sua utilidade e de que forma devem evoluir

Leon Saunders Calvert
Leon Saunders Calvert
Head of Sustainable Investing & Fund Ratings

Apesar de as pontuações referentes a questões ambientais, sociais e de governança ganharem cada vez mais destaque no setor financeiro, não é tão simples saber o que elas realmente medem. Neste novo post, Leon Saunders Calvert, Head of Research & Portfolio Management da Refinitiv, explica o porquê.


  1. ESG é uma sigla que engloba uma gama de questões e medidas temáticas que não são financeiras (embora possam ser “financeiramente materiais”) e não se correlacionam necessariamente uma com a outro. A pegada de carbono de uma empresa, por exemplo, não está relacionada com suas práticas de inclusão nem com seus princípios de direitos dos funcionários, muito menos com o seu uso de recursos. Ou seja, uma única pontuação ESG não pode capturar toda essa complexidade de fatores.
  2. Os dados ESG e suas divulgações concentram-se principalmente nas operações da empresa em vez de estarem focadas em produtos e serviços ou na cadeia de abastecimento. Afinal, é muito mais difícil que as organizações consigam relatar o impacto social de seus produtos e serviços de forma objetiva e mensurável. Essa abordagem. No entanto, a menos que o foco dos dados ESG seja claramente compreendido, essa abordagem pode levar a resultados contra-intuitivos (considere o exemplo da pontuação da Tesla, que é relativamente pobre em critérios ESG).
  3. É comum supormos que as pontuações ESG quantifiquem os riscos ESG que uma companhia enfrenta, ou seja, riscos que a ela coloca para o meio ambiente e a sociedade ou as suas correlações para o desempenho de longo prazo daquela organização. E, mesmo desejando que uma pontuação ESG consiga medir todas essas áreas, como elas não são iguais, uma única pontuação não seria suficiente para representá-las.

Isso abre um importante debate para analisarmos se dados ESG, sustentabilidade e impacto são, afinal, sinônimos.

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O que é uma classificação ou pontuação ESG?

As pontuações ESG da Refinitiv medem o desempenho relativo de uma empresa em atributos ESG fundamentais, ou seja, o comprometimento e eficácia nos fatores E, S e G. Esses pontos são atribuidos às operações, práticas e eficácia de determinada companhia.

Uma única pontuação ESG fornece uma visão geral de uma organização. Pode ser somente uma letra ou figura que categoriza uma empresa e nos diz como ela está se saindo com base nas práticas de negócios ambientais, sociais e de governança corporativa. Mas, apesar de uma abordagem de pontuação única parecer vantajosa, ela também pode ter desvantagens.

Os gestores de investimento, por exemplo, podem querer acesso a dados ESG granulares que as pontuações ESG de alto nível não especificam. É possível superarmos essa falta de detalhes com uma abordagem baseada em pontuações de pilares e categorias que cobrem cada um dos principais temas do ESG, oferecendo aos clientes a capacidade de criar classificações personalizadas proprietárias usando suas próprias ponderações e aplicando-as ao nosso conjunto de dados fundamental subjacente.

Saiba mais sobre como as pontuações ESG da Refinitiv são calculadas

Conforme os padrões nas pontuações ESG e em práticas de investimento sustentável se desenvolvem e começam a ser implementados, é importante reconhecer a materialidade dentro desses pontos e entre os setores.

A eficiência de combustível, por exemplo, tem um impacto maior nos resultados financeiros de uma companhia aérea do que nos de um banco de investimento, consideração que deve ser incorporada à metodologia de pontuação ou classificação ESG.

Contudo, os pontos referentes a questões ESG não são o fator decisivo para se chegar à classificação ESG final. Na Refinitiv, fornecemos uma pontuação ESG relacionada aos dados divulgados pela empresa e também as chamadas “pontuações de controvérsia”. Além disso, trabalhamos com dados de exclusões de organizações, que não afetam o score (por não haver uma forma objetivamente padronizada de fazê-lo) mas podem ser extremamente importantes para a tomada de decisão sobre investimentos.

Nossos clientes usam frequentemente os dados de exclusões para filtrar as exposições e práticas que desejam evitar, como receitas de tabaco, álcool, jogos de azar e fabricação de armas.

Em muitos casos, ao examinar os atributos ESG auto-divulgados por uma companhia, é provável que vejamos um resultado diferente daquele baseado em uma pontuação que incorpore o impacto das controvérsias. Por exemplo, o desempenho ESG para as empresas FAANG –Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Alphabet (este último, previamente conhecido como Google)— apresenta uma diferença de 26,9 entre os pontos ESG e os “pontos ESG de controvérsia”.

O emprego dessas controvérsias, baseadas em notícias e mídia social, nos permite, muitas vezes, capturar uma visão alternativa dos esforços ESG.

O que uma pontuação ESG não fornece

É importante observar que, na prática, uma pontuação ESG não é equivalente, por exemplo, a uma classificação como a de crédito, que descreve claramente a probabilidade de uma firma não cumprir seus pagamentos. Digamos que uma pontuação ESG tem muito mais nuances do que a de crédito.

As classificações ESG não fornecem uma visão objetiva da posição ética, produtos ou serviços de uma empresa. Na Refinitiv, nós nos esforçamos para criar objetividade e transparência em torno de nossa metodologia de pontos, procurando evitar opiniões subjetivas.

Contamos com a ponderação da materialidade derivada dos dados em todos os setores e países para avaliar a importância das métricas e como elas contribuem para o cálculo da pontuação.

Se os investidores estão procurando incorporar uma “visão ética” em suas estratégias, então uma boa triagem em busca de fatores negativos no processo de seleção de investimento –geralmente com base na exposição a setores, produtos ou serviços “indesejáveis— é um bom começo, e algo que nossos dados conseguem amparar. No entanto, as informações sobre o impacto de produtos e serviços na sociedade e no meio ambiente, e como medi-lo objetivamente, ainda estão em evolução.

A taxonomia da União Europeia exige que as organizações relatem a proporção “verde” das receitas (e opex e capex). É provável que este seja um passo importante para se obter dados comparáveis ​​sobre os impactos de produtos e serviços, bem além das operações da empresa –e é algo para o qual a Refinitiv e o FTSE Russell, ambos negócios do London Stock Exchange Group (LSEG), já se prepararam por meio de nossas ferramentas de relatório de “Receitas Verdes” (Green Revenues) e de Taxonomia da UE.

Essas ferramentas estão atualmente separadas de nossas pontuações ESG, que medem o desempenho ESG relativo das operações das companhias. Os investidores precisam ter uma visão de ambas as áreas –operações e produtos e serviços— para que possam estabelecer uma imagem mais abrangente da sustentabilidade geral e do modelo de negócios de uma empresa.

Como os dados e pontuações ESG estão se desenvolvendo

Além de enfrentar os desafios impostos pelas pontuações ESG, o setor financeiro também tem lutado contra a falta de padronização dos dados ESG básicos.

Atualmente não há padrões acordados sobre quais dados ESG devem ser divulgados e nenhum modelo de relatório único para essa divulgação.

Em princípio, uniformizar pontuações parece atraente, mas devido ao nível de inovação e imaturidade presente no mercado, normalizar sistemas de pontuação muito cedo pode ter o efeito oposto ao desejado, limitando o que os dados ESG podem ser e de que maneira serão usados.

Como não há uma determinação clara sobre a constituição dos dados ESG, não é nenhuma surpresa que os diversos provedores de dados –que coletam elementos distintos sobre ESG, de outras maneiras— nem sempre estejam alinhados. Certamente, o foco na uniformização das principais divulgações e padrões de relatórios é uma consideração básica que vale a pena ser definida primeiro.

Diferentes participantes do mercado esperam coisas distintas das classificações ESG, incluindo o impacto gerado por uma empresa no meio ambiente e na sociedade, os riscos ESG que uma organização enfrenta e a identificação de correlações entre os fatores ESG e o desempenho de uma companhia.

Pode-se argumentar que a transparência da metodologia de pontuação deve, no curto prazo, ser o principal foco dos reguladores e do setor financeiro. Isso promoveria inovação e abordagens cognitivamente diversas para o problema, ao mesmo tempo em que tornaria mais nítido o que as pontuações representam, permitindo que os usuários determinassem o que melhor atende às suas necessidades.

O papel da Refinitiv no universo ESG

Na Refinitiv, acreditamos que os dados ESG devem ser tratados como elementos fundamentais e objetivos (em vez de subjetivos ou baseados em opinião) e que as pontuações ESG precisam ser abertas e transparentes em relação ao que estão indicando e como o estão fazendo.

É necessário, no entanto, que haja um reconhecimento da abordagem (ainda em desenvolvimento) para as divulgações das empresas, além de padrões para todo o setor.

Estamos firmemente empenhados em ajudar a desenvolver os dados e metodologias empregados no universo do investimento sustentável, e encaramos o fato de ainda haver muito trabalho a ser feito nessa área como um desafio e uma oportunidade, jamais motivo para pessimismo.

Descubra mais sobre como as pontuações ESG da Refinitiv são calculadas e os dados que usamos ​​para criá-las

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