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Estamos no início de outro superciclo de commodities?

Alessandro Sanos, CAIA
Alessandro Sanos, CAIA
Global Director, Commodities, Refinitiv

Os recentes movimentos dos preços indicam, afinal, o início de um novo superciclo de commodities ou são apenas elevações cíclicas impulsionadas pelo crescimento global neste final de pandemia?


  1. Os preços das commodities subiram nos últimos meses e as avaliações parecem atraentes para os investidores, que buscam diversificar as classes de ativos.
  2. Se este for o início de um novo superciclo de commodities, será o segundo já neste milênio. O outro, impulsionado pela China, ocorreu durante os anos 2000, lembram?
  3. O que estamos testemunhando talvez seja algo mais complexo: a sobreposição de várias elevações cíclicas de diferentes matérias-primas e a transição para uma economia de baixo carbono.

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Nos últimos meses, testemunhamos uma grande elevação nos preços das commodities. Essa trajetória ascendente têm feito com que muitos analistas e investidores acreditem que um novo “superciclo” possa estar começado.

Enquanto isso, o dólar enfraquecido, bancos centrais favoráveis e gastos governamentais com programas de recuperação para o período pós-pandemia alimentam as expectativas inflacionárias, aumentando a atratividade das commodities como uma espécie de proteção contra a inflação.

Do ponto de vista do investidor, no entanto, as avaliações das commodities e seu desempenho relativo são baixos em comparação com outras classes de ativos, como ações e o S&P500.

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Desempenho relativo: RCCTR versus S&P500 ao longo de cinco anos

Mas, mesmo quando olhamos para os preços históricos das commodities, a recuperação do Índice Refinitiv/CoreCommodities CRB está ganhando força, em um movimento comparável ao do início do último superciclo das commodities.

Introduzido na década de 1950, o índice CRB é composto por uma cesta com 19 commodities, e atua como um indicador representativo desses mercados. O índice inclui, por exemplo, contratos de energia, agricultura e metais.

Retorno total do Refinitiv CoreCommodities CRB

Mas, afinal, o que é um superciclo de commodities?

As commodities geralmente oscilam entre mercados em alta e em baixa. Por exemplo, o aumento da demanda ou oferta insuficiente tendem a elevar os preços. Mas, após um período inicial, que costuma ser necessário para elevar o nível de oferta, o mercado retoma o equilíbrio.

Porém, um superciclo é diferente. Impulsionado, em geral, por mudanças estruturais em todo o mundo, ele pode durar décadas.

Superciclos de commodities são um fenômeno relativamente raro, em que essas mercadorias são negociadas acima de sua tendência de preço de longo prazo por um extenso período. Apenas quatro superciclos de commodities foram identificados desde o século 19, cada um vinculado a um período de transformação do desenvolvimento econômico.

O último aconteceu nos primeiros anos do milênio, e foi impulsionado pela rápida industrialização e crescimento econômico da China e de outros mercados emergentes.

À época, as economias dos BRICs estavam passando por uma rápida industrialização, o que criou uma demanda sem precedentes por matérias-primas que os produtores tinham dificuldade para produzir em volume suficiente.

A expansão da infraestrutura e o crescimento populacional nesses países geraram uma maior demanda por commodities industriais e agrícolas, estimulando o aumento dos preços.

Esse boom durou até o início da crise financeira de 2008, quando a economia chinesa começou a esfriar.

Mas agora, a alta das cotações está relacionada a um crescimento temporário, esperado para o pós-pandemia, ou sugere o início de algo mais substancial?

Assista: “The Commodity Boom – Data on the Data – Refinitiv”

Apenas uma ascensão cíclica?

Como vimos, o índice CRB subiu mais de 23% no acumulado do ano, para seu maior valor desde 2015. E quase dobrou desde suas baixas recentes. Se um novo superciclo estivesse para começar, ele precisaria ser alimentado por uma demanda robusta e sustentável por vários anos, especialmente da China, o maior consumidor mundial de commodities.

Mas esse pode não ser necessariamente o caso. Embora a economia global esteja inegavelmente se recuperando neste segundo ano de pandemia –devido à crença de que a crise sanitária está no fim—, muitos analistas não esperam que esse boom seja suficiente para alimentar um novo superciclo de commodities.

Talvez se trate de outra coisa: a sobreposição de várias elevações cíclicas com a aceleração de uma nova megatendência, que é a transição para uma economia de baixo carbono.

Como a transição energética gera impacto sobre os preços das commodities?

As mudanças e riscos climáticos representam sérias ameaças. Contudo, o mercado já percebe que, apesar da incerteza decorrente da combinação de diferentes ferramentas necessárias para cumprir com o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), existem muitas oportunidades para aquelas organizações que de fato contribuirem com a descarbonização da economia global.

A transição para uma economia de baixo carbono durará décadas, e o seu efeito sobre as commodities não será homogêneo. Diferentes commodities serão impactadas de maneiras distintas, já que cada matérias-prima tem um tipo de exposição ao risco climático e responderá de forma específica ao período de transição.

Energia e metais, por exemplo, estão cada vez mais interligados. E a adoção de fontes de energia de baixo carbono já está proporcionando um impulso significativo aos metais e minerais necessários para construir uma infraestrutura energética renovável e produzir as baterias que suportam a eletrificação da economia e a expansão da frota de veículos elétricos (VEs).

Preço do cobre

O cobre –ou “Doctor Copper”, já que o metal tem a capacidade de avaliar a saúde da economia global devido às suas infinitas aplicações— atingiu níveis recordes recentemente, com um salto de 37% desde janeiro.

Embora o rápido movimento em direção aos carros elétricos (EV, na silgla em inglês) vá gerar maior demanda por cobre e energia nos próximos anos, o petróleo não será aposentado, pois não pode ser totalmente eliminado de nosso dia a dia.

Além disso, a sua cotação é controlada pelos membros da OPEP +, que estão restringindo a oferta e mantendo a commodity nos poços como forma de sustentar o preço. Ou seja, ao comparar a oferta e a demanda por petróleo bruto, vemos um desequilíbrio de mais de 16 milhões de barris em 2021 e de 15 milhões em 2022.

Preços do petróleo de 2008 a 2022

Portanto, de modo geral, mesmo que haja vários sinais indicando um novo superciclo de commodities, o que estamos testemunhando talvez seja algo mais complexo: a sobreposição da megatendência de descarbonização com uma série de aumentos cíclicos para diferentes matérias-primas.

E as commodities mais afetadas serão aquelas que desempenham um papel importante na transição energética para uma economia sustentável e neutra em carbono.

Qual é a commodity mais valiosa?

Definitivamente, o conhecimento é a mais valiosa.

Historicamente, o modelo de negócios dos players dos mercados de commodities sempre girou em torno do acesso exclusivo à informação, em empresas que detinham os ativos físicos e a infraestrutura necessária para controlar a maioria dos dados.

Hoje, a tecnologia democratizou os dados e permite que novos participantes aproveitem informações granulares e detalhadas que antes eram privilégio de grandes organizações.

E, com a crescente quantidade e variedade dessas novas fontes de dados, hoje em dia a vantagem competitiva está na qualidade e rapidez com que as empresas de commodities podem integrar e combinar dados de várias fontes e em diferentes formatos às suas informações proprietárias, condição básica para tomar decisões acertadas, e antes dos concorrentes.

Refinitiv Eikon – Commodities: obtenha informações detalhadas sobre preços de negociação de commodities em diferentes mercados –energia, agricultura e metais