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Fim para rendimentos negativos na zona do euro pode estar à vista após guinada do BCE

Yoruk Bahceli
Yoruk Bahceli
Markets Correspondent — Reuters
Dhara Ranasinghe
Dhara Ranasinghe
Senior European Bonds Correspondent, Thomson Reuters

O valor dos títulos com rendimentos abaixo de zero em todo o mundo caiu quase pela metade na semana passada, para o menor nível em sete anos, depois de uma guinada “hawkish” do Banco Central Europeu (BCE) provocar uma disparada nas taxas dos títulos da zona do euro.

O estoque de dívidas com rendimento negativo do mundo vem encolhendo à medida que os bancos centrais sinalizam uma política monetária mais rígida, mas desde a reunião do BCE, na quinta-feira, a liquidação ganhou impulso na zona do euro, lar de uma parcela significativa de dívidas com juros negativos.

A recusa da presidente do BCE, Christine Lagarde, em reiterar que um aumento da taxa de juros em 2022 é muito improvável elevou os rendimentos dos títulos para máximas em vários anos. Posteriormente, a Reuters também informou, citando fontes, que o BCE poderia acelerar a redução de seu estímulo em março.

Os custos de empréstimos de cinco anos na Áustria, Bélgica, Finlândia, Portugal e Eslováquia entraram em território positivo na quinta-feira e subiram desde então.

Com os rendimentos de cinco anos da Alemanha e da Holanda indo acima de zero na sexta-feira pela primeira vez desde 2018, todos os títulos soberanos da zona do euro com vencimentos de cinco anos ou mais agora têm rendimentos positivos.

Rohan Khanna, estrategista do UBS, chamou isso de “marco significativo para todos os ativos”.

Até que os mercados na Alemanha e no Japão “se sintam liberados da gravidade das taxas negativas, não podemos realmente ter uma liquidação de verdade na renda fixa global”, acrescentou.

Os yields negativos também estão desaparecendo em outros mercados.

As taxas de cinco anos da Suíça subiram superaram zero na sexta-feira pela primeira vez desde 2014. No Japão, os retornos ficaram em território positivo pela primeira vez desde 2016. E a União Europeia (UE) não tem mais títulos com rendimento negativo.

Globalmente, o valor da dívida com taxa negativa terminou a semana passada em 4,9 trilhões de dólares, de acordo com o índice Bloomberg Global Aggregate Negative Yielding Debt, o menor desde 2015, quando o BCE lançou seu programa de compra de ativos.

O número é bem abaixo da cifra de 8,94 trilhões de dólares vista apenas uma semana antes e do montante de 9,84 trilhões de dólares em 26 de janeiro.

O estoque havia aumentado para 17 trilhões de dólares durante a crise do Covid-19.

Para investidores como fundos de pensão e seguradoras, que precisam de rendimentos mais altos para cumprir metas de longo prazo, o fim dos rendimentos abaixo de zero será uma boa notícia. Mas no curto prazo os mercados podem enfrentar mais problemas, já que os rendimentos crescentes significam que os preços dos títulos estão em queda.

“Em última análise, se conseguirmos um movimento mais alto nos rendimentos, é bom para os mercados de renda fixa, mas ir de A para B pode ser doloroso”, disse David Riley, estrategista-chefe de investimentos da BlueBay Asset Management.

Também é uma boa notícia para o euro, que saltou 1,2% na semana passada, em seu melhor desempenho desde março de 2020, depois de por muito tempo sucumbir ante rivais amparados por bancos centrais que endurecem a política monetária mais rapidamente que o BCE.

Os mercados apostam e muitos bancos de investimento agora esperam que o BCE possa entregar 50 pontos-base em alta de juros neste ano, o que significa que o custo de financiamento chegaria a zero até o término do ano.

Mesmo os rendimentos de títulos de prazo mais curto já estão deixando o clube dos abaixo de zero, com as taxas dos títulos espanhóis de três anos e as dos italianos de dois anos também ficando positivas.

“Com a taxa de depósito do BCE subindo para 0% no próximo ano, toda a dívida em euros deve estar fora desse grupo em breve”, disse Antoine Bouvet, estrategista sênior de taxas de juros do ING.

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