Neste ano, com o início das negociações no mercado de CO2 da China, a potência asiática deu um passo significativo para cumprir sua promessa de neutralidade de carbono até 2060.
- Lançado em julho passado, o mercado nacional de carbono da China é aproximadamente três vezes maior do que o seu equivalente europeu em termos de cobertura de emissões. Ele cobrirá mais de 80% das emissões de CO2 chinesas.
- Esse novo mercado de carbono é uma ferramenta fundamental para ajudar o gigante asiático a atingir seus objetivos climáticos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e neutralizá-las até 2060.
- Projeções da Refinitiv indicam que os preços das licenças do Sistema de Comércio de Emissões (ETS, na sigla em inglês) da China devem subir de uma média de 40 CNY/t (€ 5,2) em 2021 para 160 CNY/t (€ 20,5) em 2030.
Em 16 de julho deste ano, a China deu o sinal verde para as operações de trading em seu tão aguardado mercado nacional de carbono, instrumento fundamental para diminuir as emissões e cumprir com as suas promessas de neutralidade de CO2 até o ano 2060.
A iniciativa chinesa abrange 2.225 empresas de energia com emissões anuais de 4.500 Mt (mais de 40% das emissões do país). Ou seja, é quase três vezes maior do que o mercado europeu de carbono quando pensamos no volume de emissões cobertas; e ainda deve se expandir para englobar os setores da indústria e da aviação até 2025, alcançando mais de 80% das emissões totais de CO2 da China.
Como parte da Refinitiv Carbon Research, tive a honra de ser convidada pela Shanghai Environment and Energy Exchange para a cerimônia de lançamento em Xangai, representando o London Stock Exchange Group (LSEG). À época, apesar de muitos profissionais terem mostrado interesse em participar do evento, o número de participantes foi estritamente controlado pelo anfitrião e apenas cem pessoas, representando cem organizações, estiveram presentes.
Assim, diversas instituições, incluindo departamentos governamentais, empresas de energia e instituições financeiras, testemunharam o momento histórico no Trading Hall da Bolsa de Xangai.
Eu me recordo que as negociações começaram às 9h30 (horário local), assim que o vice-premiê chinês, Han Zheng, anunciou o lançamento. O novo Sistema de Comércio de Emissões (ETS, na sigla em inglês) nacional foi demonstrado no telão, e o narrador apresentou cada parte do sistema aos participantes à medida que os volumes e o número de transações iam subindo. Enquanto isso, os convidados tiravam fotos e gravavam vídeos emocionantes para registrar essa nova era.
O preço de abertura das Licenças de Emissão de Carbono da China (China’s National Carbon Emissions Allowance (CEA) era de 48 CNY (€ 6) por tonelada. E o primeiro lote saiu a 52,78 CNY (€ 6,8), com um total de 160.000 toneladas de emissões no valor de 7,9 milhões de yuans sendo negociadas. Essa transação inicial quase atingiu o limite máximo diário de valorização de 10% (52,8 CNY).
Ao final desse dia histórico, o valor da CEA fechou em 51,23 CNY (€ 6,6) por tonelada, e um total de 4,1 milhões de licenças haviam mudado de mãos no primeiro dia de operações do mercado de CO2 da China.
Em suma, para todos os que estiveram lá, essa estreia não podia ter sido mais empolgante, superando as expectativas de negociação tanto em preços quanto em volumes negociados (ultrapassando, inclusive o mercado de carbono da União Europeia naquele dia!).
Ouça o podcast: “Carbon Outlook 2021”

O patamar de 50 CNY para o valor da Licença de Emissão de Carbono (CEA) foi mais alto do que o esperado, e bem acima do preço médio de 29 CNY (incluindo trading em bolsas e OTCs) no ETS piloto existente na China. Isso foi percebido como um sinal de que os emissores tinham CEA estocadas, já antecipando que regras mais rígidas logo seriam estabelecidas.
Dez grupos de empresas –entre elas as principais companhias de serviços públicos e de energia— participaram da primeira rodada de negociações, representando 60% das emissões cobertas do ETS. E posteriormente foi relatado que a CHN Energy, gigante da área de serviços públicos e do setor de carvão, obteve 160.000 toneladas a 52,78 CNY já na primeira transação.
O mercado nacional de carbono da China ajudará a reduzir as emissões?
O mercado nacional de carbono da China é um instrumento político fundamental para atingir os objetivos climáticos do país de cortar o nível de emissões até o fim desta década e de chegar à neutralidade de CO2 antes de 2060.
O problema é que as atuais cotações do carbono não são altas o suficiente para favorecer a produção de energia renovável ou a gás em detrimento da utilização do carvão. Esperamos, no entanto, que a tendência de aumento no preço das Licenças de Emissão de Carbono (CEA) venha a contribuir para o declínio gradual da energia a carvão no território chinês e propicie um número cada vez maior de investimentos em energia limpa, abrindo caminho para a descarbonização.
Além disso, 80% das emissões totais de CO2 da China serão regulamentadas pelo mercado nacional de carbono em um período de cinco anos, com benchmarks de emissão para cada um dos setores da economia.
Também é importante lembrar que, de uma perspectiva internacional, o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, na sigla em inglês) proposto pela União Europeia também irá interagir com o cenário de comercialização de carbono da China, acelerando a implementação de um mecanismo de precificação de CO2 para as principais fontes de emissão do país.
Operações de trading no mercado nacional de carbono da China estão atualmente limitadas a empresas de compliance e a transações à vista. Contudo, há expectativas de que posteriormente os reguladores permitam que investidores financeiros participem e que sejam introduzidos mais produtos, como contratos futuros de licença de carbono.
Perspectivas da Refinitiv para o novo mercado
Mais de quatro meses após a sua estreia, o Sistema de Comércio de Emissões da China ainda é considerado novo por boa parte das empresas da região, e muitas delas ainda estão delineando suas estratégias de trading baseadas nos recentes movimentos do mercado.
Segundo dados do Shanghai Securities News, até 26 de novembro passado o ETS acumulou um volume de transações de 37,23 milhões de toneladas, com um faturamento de 1.597 milhões de yuans (cerca de 250,2 milhões de dólares). Na semana que começou em 22 de novembro vimos 7,13 milhões de toneladas de cotas de dióxido de carbono (no valor de 301 milhões de yuans) sendo negociadas.
O time do Refinitiv Carbon Research desenvolveu um novo modelo fundamental para o ETS da China, projetando as emissões, o fornecimento e os preços das licenças, além de conduzir várias análises de cenários.
Os resultados do nosso modelo mostram que, depois do leve superávit visto no início –provocado sobretudo pelas generosas regras de alocação para o setor de energia—, o mercado de carbono chinês deve chegar gradualmete a um equilíbrio, com novos setores da indústria sendo incluídos e benchmarks se tornando mais rígidos.
Em nosso caso base, projetamos que os preços das licenças do ETS da China devem aumentar de uma média de 40 CNY/t (€ 5,2) em 2021 para 160 CNY/t (€ 20,5) em 2030.
Já a introdução de um limite absoluto de emissões para o ETS poderia impulsionar as cotações de forma significativa, fazendo com que elas beirassem os 300 CNY/t em 2030. E no curto prazo, os preços das Reduções Certificadas de Emissões Chinesas (CCER, na sigla em inglês) poderiam atuar como um piso para o preço nacional do ETS.
Com base nessas estimativas, a equipe do Refinitiv Carbon Research acredita que o mercado de carbono da China poderia contribuir para reduzir as emissões do país em adicionais 200-300Mt por ano.
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