Ir para conteúdo

Negócios sustentáveis e a importância do Black Lives Matter

Keesa Schreane
Keesa Schreane
Director of Risk and Sustainability Partnership. Producer and Host of Refinitiv Sustainability Perspectives

Que iniciativas o movimento pela sustentabilidade empresarial pode introduzir para ajudar a derrotar injustiças ambientais e melhorar a vida das pessoas em comunidades carentes e historicamente marginalizadas?


  1. Nas discussões sobre negócios e investimentos sustentáveis, precisamos entender quem são os mais impactados para priorizar e ampliar sua ressonância na sociedade.
  2. O movimento por negócios sustentáveis pode e deve fazer um trabalho melhor, incluindo nas discussões comunidades desfavorecidas tanto na esfera social quanto ambiental –historicamente, cidadãos negros e pardos).
  3. Negócios que prezam pela solidariedade são negócios mais sustentáveis.

Geleiras derretidas, florestas dizimadas e espécies selvagens extintas são alguns dos resultados das mudanças climáticas. Para conseguirmos reverter algumas dessas catástrofes, é essencial consumir e investir de maneira sustentável, mas isso é só o começo; as empresas podem fazer muito mais!

Práticas comerciais sustentáveis vão muito além de plantar árvores, salvar ursos polares ou optar por fundos de investimento ecológicos.

Antes de mais nada, é preciso saber como as mudanças climáticas, a poluição do ar e a falta de acesso a espaços verdes envenena e extermina comunidades de baixa renda que são majoritariamente negras e pardas –e entender que o investimento em soluções acionáveis ​​e mensuráveis podem mudar isso.

Os dados ESG do Diversity and Inclusion Index da Refinitv trazem informações de desempenho para uma análise profunda e socialmente responsável do seu investimento

Os prejuízos da discriminação territorial

Mas, afinal, como questões ambientais e de sustentabilidade se cruzam com classe social e raça? Bem, a demarcação de territórios, bairros, é um ótimo exemplo de como isso se dá.

Zonas geográficas marcadas em vermelho (redlined, em inglês) por administrações muncipais que há décadas praticam discriminação habitacional sempre foram considerados bairros indesejáveis, com pouco espaço verde e muitas plantas industriais.

Em muitas comunidades, esse tipo de demarcação provoca crises de saúde pública que recentemente vêm sendo exacerbadas pela pandemia de Covid-19 –um sinal de que a prática, agora ilegal, continua a atormentar as comunidades devido às disparidades econômicas e sanitárias que engendrou.

“’Eu não consigo respirar’, uma das últimas frases ditas por George Floyd enquanto era assassinado, é emblemática da injustiça social de hoje em dia em vários países, além de ecoar o que as comunidades negras já afirmam desde o início dos anos 80 por causa da exposição a vapores tóxicos e injustiça ambiental”, alerta o dr. Robert Bullard, renomado professor de planejamento urbano e políticas ambientais na Texas Southern University. “Todos os dias você pensava se os produtos químicos emitidos no ar o matariam. Terror tóxico é o que as pessoas viveram no chamado ‘beco do câncer’ (cancer alley) da Louisiana”, completa.

O professor explica que os residentes do “beco do câncer”, um trecho do estado cheio de refinarias e plantas industriais, apresentam uma incidência 50% maior da doença do que o americano médio, além de os números de casos de Covid-19 estarem entre os mais altos do país.

Foco no ser humano

Áreas urbanas áridas, sem a vegetação geralmente presente em bairros ricos, são chamadas de “ilhas de calor”, e a maneira como absorvem as altas temperaturas pode levar a problemas respiratórios.

Além dos perigos para a saúde, há repercussões econômicas em viver em condições ambientais tão precárias. Por exemplo, à medida que o mundo continua sofrendo com condições climáticas extremas, residentes de zonas sujeitas à inundação podem ver o preço do seguro contra esse problema disparar, tornando-se proibitivo.

“Diante da crise ambiental, estamos tentando cuidar da água, do ar, dos animais, das árvores, mas somos péssimos em cuidar das pessoas. Tratar bem o meio ambiente significa tratar bem os seres humanos”, diz Thomas RaShad Easley, reitor assistente da Yale School of Forestry and Environmental Studies.

Uma das maneiras pelas quais empresas e comunidades podem enfrentar de frente questões de sustentabilidade, raça e classe é colocando o ser humano no centro de suas ações.

Como os negócios sustentáveis ​​podem ajudar?

Para ajudar a eliminar injustiças ambientais, as empresas podem adotar as seguintes abordagens:

  1. Envolver-se diretamente com as comunidades onde têm negócios

Empresas sustentáveis ​​entendem que trabalham dentro de um ecossistema de clientes, parceiros, acionistas e comunidades, e utilizam todos esses recursos para resolver problemas.

“As organizações que atuam em comunidades carentes devem informar os cientistas sobre o que estão vendo. Esses cientistas, acadêmicos e membros da comunidade podem, por sua vez, orientar as empresas (em conjunto) e explicar como suas práticas prejudicam ou ajudam a comunidade”, diz Easley.

Pessoas dentro e fora das cadeias de negócios começam a exigir mudanças, tornando o envolvimento construtivo ainda mais necessário.

Para Sally Eaves, diretora de tecnologia da Forbes Technology e fundadora da Aspirational Futures, a maior mudança –e o que a mantem realmente otimista— é que hoje consumidores, funcionários, forncedores e diferentes stakeholders estão impulsionando esse comportamento e levando as empresas a prestar contas.

  1. Montar um plano, fazer investimentos

Não há dúvidas de que as empresas vão se beneficiar se adotarem uma agenda de sustentabilidade abrangente.

Luke Manning, Diretor Global de Sustentabilidade e Riscos Empresariais da Refinitiv, diz: “se realmente pretendemos progredir na agenda climática, precisamos fazer com que todos entendam que lidar com isso é vital tanto do ponto de vista pessoal quanto financeiro. Não se trata apenas do impacto que causamos sobre o meio ambiente, mas do impacto que o meio ambiente já está provocando sobre nós”.

Em meio a esse panorama, empresas como a Refinitiv vêm estabelecendo metas de redução de emissões de carbono baseadas em dados científicos, criando assim objetivos de longo para lidar com as mudanças climáticas e promover sustentabilidade.

O setor de atuação e a região em que algumas empresas operam podem ser importantes para contribuições específicas, mas geralmente as corporações devem planejar e usar todos os recursos de inteligência e investimento à sua disposição para criar resultados mensuráveis.

  1. Compartilhar suas histórias

Cada um de nós tem diferentes experiências e lacunas de conhecimento em relação a negócios sustentáveis.

Nas últimas semanas, aprendemos lições valiosas sobre como ouvir de forma ativa. Estamos dispostos a compartilhar conhecimento ao longo de nossos departamentos de negócios de sustentabilidade e de ESG sobre como as questões ambientais nos afetam de maneira diferente, para assim chegar a soluções.

“Se não abordarmos as mudanças climáticas e o aquecimento global, veremos que as populações historicamente marginalizadas se tornarão ainda mais marginalizadas”, diz o dr. Robert Bullard.

Avançar na pauta de negócios sustentáveis pode significar a diferença entre a vida e a morte em nossas comunidades.

Os dados ESG do Diversity and Inclusion Index da Refinitv trazem informações de desempenho para uma análise profunda e socialmente responsável do seu investimento