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O que as curvas de rendimento de títulos estão sinalizando

Dhara Ranasinghe
Dhara Ranasinghe
Senior European Bonds Correspondent, Thomson Reuters
Sujata Rao
Sujata Rao
Deputy editor for markets and financial services, EMEA at Thomson Reuters

As promessas de autoridades de bancos centrais de que se esforçarão mais para conter a inflação estão sendo recebidas com ceticismo pelos mercados de títulos, que parecem acreditar que o risco de recessão econômica dificultará um aperto monetário agressivo nos próximos meses.

As curvas de rendimento dos títulos –consideradas presságios confiáveis de para onde a inflação e o crescimento econômico se encaminham– parecem sinalizar, em primeiro lugar, que a inflação está em alta descontrolada e, em segundo lugar, que os bancos centrais devem em breve prestar atenção ao crescimento econômico.

Aqui está o que as curvas de rendimento, essencialmente a diferença entre os custos de empréstimos de curto e longo prazo, estão dizendo.

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1) Estados Unidos

Com a inflação em quase 8%, o banco central norte-americano sinaliza aumentos agressivos dos juros. Mas a curva de rendimento dos títulos sugere que essa campanha pode elevar a taxa de juros a nível que comprima a atividade econômica.

A diferença entre os rendimentos dos Treasuries de dois e 10 anos diminuiu para cerca de 20 pontos-base e se aproximou da inversão, uma situação em que os retornos de curto prazo superam os mais longos.

Desde a década de 1960, uma curva de Treasuries invertida foi seguida por uma recessão dentro de um prazo de dois anos, inclusive no caso da desaceleração de 2020 em decorrência da Covid-19.

Além disso, falas duras sobre os juros não conseguiram conter as expectativas de inflação. As taxas da nota de 10 anos –um indicador das expectativas de inflação do mercado– estão quase em 3%, máxima desde 1997

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2) Reino Unido

O Banco da Inglaterra elevou as taxas de juros na semana passada, mas, ao contrário do Federal Reserve dos EUA, adotou um tom cauteloso sobre movimentos futuros, destacando o risco de uma desaceleração econômica.

Desde a reunião da última semana, a curva de títulos do Reino Unido se inclinou. Ou seja, os yields de prazo mais longo aumentaram mais do que os vencimentos mais curtos, e a diferença entre os rendimentos dos gilts de dois e 10 anos avançou para cerca de 30 pontos-base.

A implicação é que mais aperto da política monetária, e não menos, pode ser necessário para conter a inflação. Dados divulgados nesta quarta-feira mostraram que a inflação britânica atingiu novo recorde em 30 anos, em 6,2%.

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3) Zona Do Euro

A chefe do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse esta semana que os dois principais bancos centrais do mundo sairão de sincronia em um futuro próximo, já que a guerra na Ucrânia tem efeitos muito diferentes em suas economias.

Portanto, enquanto o BCE desfaz seu programa de estímulo de compra de títulos implementada no início da pandemia, não tem pressa em subir os juros, apesar da inflação recorde de quase 6% e sinais de que pode atingir 7% nos próximos meses.

As curvas de juros da zona do euro se inclinaram, um sinal de que o BCE pode precisar ser mais “hawkish” (agressivo contra a inflação).

Na Alemanha, o emissor de títulos de referência da zona do euro, a diferença entre os retornos de títulos de dois e 10 anos é de cerca de 74 pontos-base, não muito longe de sua máxima em três anos e acima de cerca de 30 pontos-base este ano

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