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Perguntas incômodas são o primeiro passo para um ambiente de trabalho racialmente igualitário

David Craig
David Craig
CEO, Refinitiv

Para marcar o lançamento do nosso Relatório de Diversidade e Inclusão de 2020, David Craig, CEO da Refinitiv, expõe suas ideias para impulsionar ações que combatam a desigualdade racial. Tudo começa com dados.


  1. Dados sobre as etnias dos funcionários raramente são coletados por empresas fora dos EUA.
  2. Isso deixa essas organizações voando às cegas ao lidar com as desigualdades raciais em sua força de trabalho.
  3. Em breve, o banco de dados ESG da Refinitiv passará a incentivar as companhias a serem mais transparentes sobre essa questão.

Para mais informações baseadas em dados diretamente no seu inbox, assine o boletim semanal Refinitiv Perspectives

Seu empregador já perguntou: “qual a sua raça”? Se a resposta for “sim”, então ele está entrando em um território profundamente pessoal, vinculado a sentimentos de identidade e história; e é por isso que a maioria das empresas prefere não tocar no assunto.

Apesar disso, no final deste mês estamos fazendo exatamente essa pergunta às 18.000 pessoas que trabalham na Refinitiv. Ela fará parte de uma pesquisa voluntária que também buscará reunir informações sobre orientação sexual, gênero, identidade de gênero, deficiências e outros dados pessoais.

Não se trata de um exercício de intromissão. É, sim, uma forma de buscar justiça e de consertar os erros recentemente expostos pelos assassinatos de George Floyd e outros inocentes –além de ser uma resposta às manifestações globais, que continuam acontecendo.

Essa ainda pode vir a ser uma das mensagens mais importantes que envio como presidente-executivo e, se outras organizações fizerem o mesmo, o início de algo significativo na luta por justiça racial.

Por quê? Porque a Refinitiv, como a maioria das empresas, carece de dados precisos para ter a real compreensão de nossa composição racial; dados necessários para avaliar como estamos contratando, estimulando e promovendo pessoas de cor. Estou orgulhoso das ações que já estamos adotando para criar uma equipe de liderança mais representativa e para erradicar o preconceito inconsciente. Mas ter dados detalhados a respeito de etnias nos leva muito mais longe, permitindo mudanças em toda a organização.

Descubra as 100 empresas mais inclusivas em 2020 segundo o Refinitiv Diversity & Inclusion Index (D&I)

Hoje, a Refinitiv publica nosso Relatório de Diversidade e Inclusão (D&I) de 2020, com base em dados coletados de quase 10.000 empresas em todo o mundo (e que, juntas, representam mais de 80% da capitalização de mercado global).

Desde 2016, esse relatório vem mostrando o que o mundo corporativo pode alcançar em termos de D&I quando possui dados granulares para embasar suas ações.

Ter informações sobre a proporção de mulheres em diferentes posições vem impulsionando os esforços para criar um local de trabalho mais igualitário do ponto de vista de gênero. Por exemplo, em 2014, 25% dos gerentes ao redor do globo eram mulheres, mas esse número subiu para 28%. No mesmo período, a proporção de mulheres nos conselhos passou de 13% para 19%. Já na Refinitiv, tenho orgulho de dizer que esse índice é de 40%.

O avanço só foi possível porque os governos em todo o mundo agora exigem que as empresas coletem esses dados. Por outro lado, poucos países aplicam o mesmo requisito quando se trata de raça (os EUA são uma grande exceção). Como resultado, simplesmente não há dados disponiveis.

Assim, a comparação mais próxima que podemos fazer em nosso relatório de Diversidade e Inclusão é observar a proporção de executivos de uma empresa nascidos fora do país em que está domiciliada. Isso não é suficiente, mas podemos resolver o desafio de forma coletiva.

A solução virá, em parte, da pressão sentida pelos governos para que recuperem o atraso na divulgação de questões raciais no local de trabalho, mas não podemos contar apenas com a máquina oficial.

Nossa maior esperança é que as empresas sejam encorajadas por organizações como a Refinitiv a coletar e publicar dados sobre sua composição racial. Para isso, elas precisam entender que é “a coisa certa a se fazer”, e de seu interesse financeiro.

Nossa equipe de dados ESG, sob o comando de Elena Philipova, está trabalhando intensamente em novas métricas que atribuam pontuação ESG mais alta a companhias que divulgam dados de etnia. Isso oferece um incentivo às organizações que desejam chamar a atenção de investidores ávidos por ESG, além de permitir o aprimoramento de suas credenciais de D&I para funcionários, clientes, reguladores e o público em geral.

Nosso Índice de Diversidade e Inclusão, também lançado neste momento, destaca as 100 empresas mais diversificadas e inclusivas do mundo, mostrando alguns dos excelentes trabalhos a que estão se dedicando.

Será preciso coragem para que as empresas consigam agir. Entre os empregadores, a tendência geral é de não bisbilhotar, o que pode ser um poderoso dissuasor. Esse desconforto deve ser combatido com a compreensão de que, sem dados concretos sobre a sua composição racial, o mundo corporativo terá dificuldade para cumprir a promessa feita no início deste ano, de criar um ambiente de trabalho justo para todos.

Baseado em nossos dados ambientais, sociais e de governança (ESG), o Índice de Diversidade e Inclusão foi projetado para medir o desempenho relativo das empresas em relação a fatores que definem locais de trabalho diversificados e inclusivos