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Qual será o impacto da crise bancária nos EUA e Europa para a América Latina?

Segundo a agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings, a tempestade no setor bancário dos EUA e da Europa não deve gerar grandes consequências para os bancos latino-americanos. Entenda por quê. 


  1. A crise que se desenrolou na esteira da falência do Silicon Valley Bank (SVB), nos EUA, provocou uma perda de confiança no setor bancário global.
  2. Até agora, os investidores seguem cautelosos com potenciais problemas à espreita no sistema financeiro e aqui, na América Latina, a pergunta é uma só: como seremos afetados?
  3. De acordo com a Fitch Ratings –uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito, ao lado de Standard & Poor’s e Moody’s—, os efeitos da turbulência no setor bancário internacional devem ser limitados para os bancos da região.

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Vinte dias após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos, os mercados globais ainda estão tensos com a instabilidade no setor bancário. A crise, que se instaurou de forma rápida, em uma espécie de efeito dominó e tem feito alguns participantes do mercado temerem um novo “2008”, seguiu com a falência do Signature Bank e a perda de confiança no Credit Suisse, o que desembocou na compra da instituição pelo UBS (seu maior concorrente). E, quando se imaginava que as coisas pudessem se acalmar um pouco, recentemente as atenções se voltaram para o alemão Deutsche Bank, que viu suas as ações despencarem diante da alta dos CDS do banco, gerando preocupação entre investidores e correntistas.

Até a falência do SVB e, dias depois, a do Signature Bank –segunda e terceira maiores falências de bancos na história dos EUA, respectivamente—, a trajetória de inflação mais alta e mais rígida do que o esperado provocou aumentos constantes nos juros do Fed durante grande parte de 2022 e até 2023. Mas agora, a incerteza sobre a saúde do setor bancário desencadeou uma disputa entre reguladores, parlamentares e políticos norte-americanos para descobrir se uma crise financeira mais ampla está se desenvolvendo e, claro, como apertar a supervisão e a regulamentação em resposta. Por enquanto, Powell disse que acha que os problemas estão contidos no SVB, com sede na Califórnia, e no Signature Bank, com sede em Nova York, cujas falhas foram consideradas um “risco sistêmico” pelas autoridades norte-americanas e levaram o Fed a estabelecer rapidamente um novo mecanismo de empréstimo para bancos que enfrentam demandas incomuns de retirada.

O problema é que, como sabemos, uma vez fora, fica difícil colocar de novo o gênio dentro da garrafa. Ou seja, tudo isso deflagrou uma perda de confiança no setor. As ações caíram, investidores migraram para portos seguros, depositantes transferiram fundos para instituições maiores e fundos do mercado monetário e, obviamente, instaurou-se o temor de uma crise financeira geral.

Bem, dá para dizer que os mercados se acalmaram um pouco desde que os reguladores suíços arquitetaram a liquidação do problemático Credit Suisse para rivalizar com o UBS, e depois que os ativos do SVB foram repassados para o First Citizens Bancshares. Porém, os investidores seguem cautelosos com potenciais problemas à espreita no sistema financeiro e aqui, na América Latina, a pergunta é uma só: como seremos afetados?

Colchão de proteção

De acordo com um comunicado da Fitch Ratings –uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito, ao lado de Standard & Poor’s e Moody’s—, os efeitos da turbulência no setor bancário internacional devem ser limitados para os bancos da América Latina, já que a região tem pouca (ou nenhuma) exposição direta a essas instituições. “Fora isso, os fatores estruturais dos sistemas bancários da AL, incluindo níveis significativos de depósitos de varejo estáveis ​​e a duração mais curta das carteiras de títulos, devem compensar ainda mais os riscos dos efeitos de segunda ordem”, afirma a Fitch.

Outro ponto importante, segundo a agência, é que o histórico de inflação da região induziu os bancos centrais a apertar a política monetária mais precocemente, em março de 2021, com o Brasil na liderança, o que deve ajudar a limitar as consequências para os bancos latino-americanos.

Como resultado desse movimento, a inflação geral nos países da AL parece já ter atingido o pico (com exceção da Colômbia e do Peru) –apesar do ritmo e do alcance da desinflação permanecerem incertos e economistas acreditarem que os bancos da região enfrentarão juros altos por mais tempo.

“Embora esperemos que taxas mais altas pressionem a qualidade dos ativos bancários e os custos de crédito, a maioria dos bancos latino-americanos com classificação Fitch tem margem suficiente para absorver alguma deterioração, conforme observado no relatório 2023 LatAm Bank Outlook”, ressalta a agência.

Pressão de liquidez dentro do esperado

A Fitch também é enfática em dizer que, do ponto de vista de financiamento e liquidez, uma política monetária mais rígida resultou em uma desaceleração do crescimento de depósitos para a maioria dos sistemas bancários da América Latina. “Mas acreditamos que as pressões de liquidez permanecerão dentro das expectativas dos ratings, refletindo um aperto monetário menos agressivo devido ao aumento proporcionalmente menor nas taxas de juro e aperto quantitativo limitado na região”, acrescenta.

Apesar dos eventos recentes nos EUA, a expectativa da agência é de que o Fed seguirá com sua política monetária mais restritiva, o que, combinado com a inflação ainda persistente na América Latina, tornará mais difícil para os bancos centrais reduzir agressivamente as taxas de juros.

“No entanto, se as taxas dos EUA atingirem um pico em um nível mais baixo ou forem cortadas mais cedo do que se espera, a política monetária em alguns mercados da América Latina poderá diminuir mais do que nossa linha de base atual”, explica a instituição.