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Quem decide sobre a importância dos fatores ESG?

Chuka Umunna
Chuka Umunna
Diretor Executivo e Chefe de ESG na Edelman

Quem determina se os fatores ESG serão levados em conta nas decisões corporativas? Isso deve ser uma escolha unicamente da empresa ou as opiniões dos gestores de fundos são, de fato, primordiais?


  1. É exclusividade das empresas determinar como as questões ESG serão integradas em suas políticas de negócios? Qual o papel dos gestores de fundos em tais decisões?
  2. Uma pesquisa da Edelman revelou que 90% dos entrevistados acham que é papel das marcas proteger seus funcionários e fornecedores, mesmo que isso acarrete custos financeiros. A sondagem também apontou que cerca de 60% dos respondentes acreditam que as marcas norte-americanas precisam progredir muito em questões ligadas à injustiça racial.
  3. Segundo o Refinitiv’s Sustainable Finance Review, a pandemia de COVID-19 ampliou o desejo dos consumidores por empresas sustentáveis.

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Em um artigo intitulado “Better to leave the free market alone”, Robert Shillman, presidente da Cognex Corporation (listada na NASDAQ), lamentou a “atual tendência de destruir nosso sistema de livre empresa e nossos negócios que prosperaram sob esse mesmo sistema ao longo dos últimos 200 anos.

Ele se dirigia, particularmente, aos gestores de fundos, a quem acusou de pressionar as empresas a incluir fatores ESG em suas decisões de negócios.

Shillman também questionava se os beneficiários dos fundos aprovariam tal abordagem. “Os investidores querem que o conselho de administração e os gerentes de suas empresas despendam tempo e energia em questões ambientais, sociais e de governança ou querem que eles gastem todo o seu tempo e energia para aumentar o valor de suas ações?”, indagou. “Estou bastante certo de que um grande número de investidores escolheria a segunda orpção”, disse.

Diante dessa colocação, o argumento mais óbvio é: os dados atuais têm mostrado que se a empresa não se dedicar à primeira opção, a segunda também não será possível.

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Como os fatores ESG devem ser integrados?

Dito isso, seria errado descrever o presidente da Cognex Corporation como um cético em relação aos fatores ESG. Na verdade, é um pouco mais complexo do que isso.

Robert Shillman acredita que a incorporação de fatores ESG nas decisões corporativas é importante –e ele se orgulha do impressionante histórico da Cognex nesse aspecto. Mas o executivo também acha que as empresas é que deveriam determinar se desejam integrar essas questões e como fazê-lo, e não os investidores institucionais.

A citação de Shillman que usamos acima foi parte do Relatório Anual de 2018 de sua empresa. Obviamente, muita coisa já aconteceu nessa área desde então.

Hoje já há um consenso de que os beneficiários finais dos fundos, os cidadãos, esperam que grandes administradores de fundos institucionais façam exatamente o oposto do defendido por Robert Shillman quando se trata de investir suas preciosas economias.

As consequências da Covid-19 e a reação ao trágico assassinato de George Floyd nos EUA aumentaram o foco em torno de questões ESG –destacando, inclusive, o “S” e o “G” da sigla. E não há dúvida de que, antes ainda, a campanha #MeToo e a reação contra a austeridade fiscal pré 2020 também tiveram impacto.

A visão do público

Como parte de seu Trust Barometer, a Edelman realizou, durante o verão, uma pesquisa com mais de 22.000 pessoas em 11 mercados. Isso destacou a importância que o público atribui hoje em dia ao perfil ESG das empresas.

A pesquisa revelou que, diante da pandemia de Covid-19, 90% dos entrevistados desejam que as marcas cuidem do bem-estar e da segurança de seus funcionários e fornecedores, mesmo que isso signifique sofrer grandes perdas financeiras até o fim da pandemia.

Depois que a morte de George Floyd colocou em destaque a injustiça racial e deflagrou entre os líderes empresariais uma onda de declarações de solidariedade à comunidade negra, os participantes da pequisa disseram que as marcas nos Estados Unidos devem primeiro colocar a “sua própria casa em ordem”, dando o exemplo dentro da própria organização (64%); refletindo a diversidade total do país em suas comunicações (63%); e tornando os produtos acessíveis e adequados a todas as comunidades (61%).

Para as empresas, as consequências de não atender às expectativas agora são gritantes. Por exemplo, 60% de todos os entrevistados disseram que comprariam ou boicotariam uma marca com base em sua posição sobre a injustiça racial.

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A visão dos investidores

Além disso, os investidores já não vêem mais a integração de questões ESG e retornos financeiros como coisas diferentes, e sim como dois lados da mesma moeda.

Na última edição da pesquisa Investor Trust, da Edelman, com 607 investidores institucionais –representando empresas de investimento que administram coletivamente mais de US$9 trilhões em ativos—, 54% dos entrevistados afirmaram que as iniciativas ESG levaram a um impacto favorável no crescimento, e 47%, que aumentam o retorno sobre o investimento.

Um bom exemplo de como um perfil ESG ruim pode prejudicar uma empresa financeiramente é o caso da rede de fast fashion Boohoo, do Reino Unido. A marca perdeu um terço de seu valor de mercado em julho, depois que as controvérsias relacionadas à sua cadeia de suprimentos foram expostas.

Tudo isso é corroborado por dados sobre fluxos de fundos ESG neste ano.

O Sustainable Finance Review, da Refinitiv, mostra que no primeiro semestre de 2020 foram emitidos globalmente quase US$ 200 bilhões em títulos sustentáveis, o dobro do valor arrecadado no primeiro semestre de 2018.

Chama a atenção que grande parte desse crescimento tenha ocorrido no segundo trimestre, justamente quando a pandemia estava no auge. Durante esse período, US$ 130 bilhões foram levantados, o maior valor trimestral de todos os tempos.

A emissão de títulos sociais também disparou. Neste ano já foi arrecadado mais do que o dobro do valor total de 2019 – impulsionado pela captação de recursos para os esforços de recuperação relacionados a Covid-19.

Ouça “Social Bonds Q&A: What Makes a Good Covid-19 Bond and What to Expect Post-Crisis”

Geração do milênio e a demanda por produtos ESG

É provável que essa tendência perdure. A geração do milênio –aqueles nascidos entre 1981 e 1996— tem sido responsável pelo crescimento da demanda por produtos ESG. Isso já vinha ocorrendo muito antes da pandemia, e sua influência sobre esse movimento deverá aumentar.

Refinitiv Perspectives LIVE — ESG Investment, a cure all for Asset Management?

De acordo com a pesquisa U.S. Trust Insights on Wealth and Worth®” de 2018, 87% dos millenials que são investidores com alta liquidez dizem que o aspecto ESG de uma empresa influi bastante em sua decisão sobre investir ou não. E há uma enorme transferência de riqueza entre gerações em andamento, com cerca de US$ 24 trilhões previstos para irem para as mãos dos millenials a partir deste ano.

Portanto, realmente faz sentido dizer que, neste mundo pós-pandêmico, o mercado livre está exigindo que os fatores ESG sejam integrados às decisões corporativas. Ou seja, os administradores de fundos estão simplesmente seguindo as ordens dos investidores.

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