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Quem tem mais a perder com as tensões comerciais entre EUA e China?

Joanna Davies
Joanna Davies
Senior Economist, Fathom Consulting

Diante das persistentes tensões comerciais entre os EUA e a China, a pergunta permanece: qual das duas superpotências tem mais a perder? Neste post, expomos gráficos e análises da Fathom Consulting que examinam as relações comerciais entre os dois países, assim como o desempenho de empresas norte-americanas com exposição significativa ao mercado chinês.


  1. Atualmente, cerca de US$360 bilhões derivados de transações comerciais bilaterais entre China e os EUA estão sujeitos a tarifas adicionais.
  2. Pelos EUA serem um grande importador líquido de mercadorias da China, essas exportações são mais cruciais para Pequim do que as remessas dos EUA para o gigante asiático.
  3. O China Exposure Index, elaborado pelo nosso parceiro Fathom Consulting, aponta que as empresas norte-americanas com exposição à China tiveram desempenho abaixo do esperado desde a vitória eleitoral de Donald Trump em 2016.

Hoje em dia, a China dificilmente fica fora das manchetes. As preocupações do mercado com a possibilidade de um pouso forçado para a economia asiática só tem feito crescer em meio à visível deterioração nas relações com os EUA.

Os dois fatores estão intrinsecamente ligados, e os esforços da China para evitar uma retração econômica exacerbam tanto os desequilíbrios domésticos quanto os globais. Com a desaceleração da economia chinesa em meio à escalada das tensões comerciais, era inevitável que essas questões voltassem a afligir investidores e bolsas ao redor do globo.

Afinal, aproximadamente US$360 bilhões envolvidos em negócios entre os dois países já estão sujeitos a tarifas adicionais. E essa guerra comercial tem gerado um aumento tanto no valor de tarifas pré-existentes quanto no número de mercadorias agora sujeitas a elas.

Mas, afinal, quem tem mais cartas na manga nesse jogo?

Déficit comercial dos EUA

Não é segredo para ninguém que os Estados Unidos são um grande importador líquido de bens da China, assim como outras economias desenvolvidas.

E, embora frustrante para Donald Trump, os EUA são um importador líquido até mesmo de mercadorias sobre as quais o país desfruta de vantagens comparativas, como equipamentos de transporte. Isso faz com que alguns poucos setores da economia chinesa acabem gerando um superávit comercial significativo. Já para os EUA, o resultado é um amplo déficit comercial, problema que Trump espera combater com a imposição de mais tarifas comerciais sobre os produtos originários do gigante asiático.

Apesar de, claro, a China estar retribuindo com a imposição de tarifas similares, ela tem perdido a batalha, já que os EUA importam volumes muito maiores. Aliás, se considerarmos ambos volumes de exportação como respectivas parcelas do PIB, é claro que as vendas de Pequim para os norte-americanos são bem mais significativas.

Com o país de Trump em franca vantagem, os mercados globais davam quase como certo que uma trégua seria alcançada, e que as empresas norte-americanas teriam pela frente negociações comerciais mais favoráveis.

Incertezas à vista

Essa visão foi corroborada pelo China Exposure Index (CEI) da Fathom Consulting, que está disponível no DataStream Chartbook e acompanha o desempenho de ações das empresas norte-americanas com alta exposição à China.

Como pode ser conferido abaixo, a performance do índice começou a subir logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016. No gráfico, considera-se que uma pontuação acima de 100 é indicativa de um desempenho superior aos concorrentes listados nos EUA e que estão menos expostos à China.

Desde então, o China Exposure Index passou a oscilar, refletindo as idas e vindas das tensões comerciais entre os EUA e a China. Em certo momento, quando ambos os lados se empenharam em movimentos positivos e uma trégua parecia finalmente em jogo, as ações de empresas mais dependentes da economia chinesa apresentaram maiores quedas.

Em maio passado, a escalada das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo fez com que o índice da Fathom Consulting despencasse, como mostra o gráfico.

Logo depois disso, Trump usou a cúpula do G-20 no Japão para anunciar um cessar-fogo nas hostilidades com o conglomerado de telecomunicações chinesa Huawei, enquanto as negociações entre as duas nações continuavam.

Como consequência, o China Exposure Index reagiu um pouco. Entretanto, os negócios norte-americanos com exposição à China definitivamente mostram desempenho inferior aos seus pares desde a vitória eleitoral de Trump.

E, com as duas superpotências embarcando em um longo período de rivalidade estratégica, particularmente em relação à futura supremacia tecnológica, esse elevado grau de incerteza para os investidores globais deverá ser “o novo normal”.

Clique aqui para acessar o novo podcast da Fathom Consulting, em que seus economistas compartilham percepções exclusivas de suas pesquisas para contar uma história completa sobre o passado, o presente e o (potencial) futuro do mercado chinês.

Descubra mais sobre a infinidade de dados da Refinitiv sobre os mercados chineses