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Recessão na América Latina deve se arrastar, de olho em questão fiscal no Brasil

Gabriel Burin
Gabriel Burin
Polling correspondent for Latin America, Reuters

Uma recessão histórica na América Latina deve se arrastar antes que o Brasil, maior economia da região, comece a corrigir o déficit orçamentário que lidera a lista de ameaças junto com a pandemia de coronavírus, mostrou pesquisa da Reuters.

Expectativas de recuperação moderada no próximo ano refletem a forte cautela com um potencial retorno à disciplina fiscal, pré-requisito para qualquer melhora na confiança empresarial, conforme a crise de saúde aprofunda os antigos problemas econômicos.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encolher 6,4% em 2020, quase o mesmo que era previsto na pesquisa de maio, de acordo com a mediana das estimativas de 45 economistas consultados entre 6 e 13 de julho. Mas as previsões para o México e a Argentina foram revisadas com força para baixo, piorando o cenário regional.

“Se demorar mais para a pandemia ser efetivamente controlada, o risco é que os gastos continuem a aumentar”, disse Roberto Secemski, economista do Barclays.

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A equipe econômica do governo Jair Bolsonaro revisou suas perspectivas fiscais para 2020, prevendo uma piora significativa e generalizada nas contas devido à crise com o coronavírus, e destacou que um esforço de vulto será necessário para que a dívida pública volte ao nível do ano passado.

“Embora as tensões políticas tenham diminuído nas últimas semanas, não estamos convencidos de que as condições para avançar com reformas ousadas para lidar com os gastos obrigatórios estejam prontas”, disse Secemski.

As perspectivas para o México pioraram de forma significativa, com contração da atividade econômica agora esperada de 9,0% comparada a uma perda do PIB de 5,15% vista em abril.

A segunda maior economia da América Latina está sitiada em muitas frentes internas e externas.

Para evitar mais desconfiança dos investidores já incomodados com algumas de suas decisões, o presidente Andrés Manuel López Obrador está resistindo ao tipo de estímulo fiscal que derrubaria o Orçamento como no Brasil.

O esforço pode não ser suficiente. Em relatório, analistas da Oxford Economics projetam que o déficit fiscal do México vai alcançar 0,8% do PIB em 2020, o dobro da projeção oficial, após forte queda da receita em maio.

Além disso, a exposição do país à economia mundial poderia trazer desafios adicionais para a economia e autoridades.

“(Condições) deprimidas de comércio global e um setor automotivo devastado limitam a recuperação do México no segundo semestre”, completou o relatório, publicado na sexta-feira.

A Argentina é um exemplo do que seus vizinhos estão preocupados. O conjunto de impacto da pandemia com forte intervenção estatal já resultou em uma forte depreciação cambial e aumento da pobreza.

Até agora o governo não conseguiu chegar a um acordo com detentores de títulos, principalmente fundos estrangeiros, que ajudaria a estabilizar uma economia que passa pelo terceiro ano de recessão e registra taxas de inflação de 40% a 50%.

“Uma reestruturação de dívida bem sucedida pode reduzir uma fonte de incerteza entre agentes econômicos e deve permitir às autoridades que se foquem em outros assuntos, incluindo um plano macroeconômico”, escreveram analistas do Morgan Stanley neste mês.

A expectativa é de que o PIB da Argentina recue 10% este ano, maior contração na região, o que ainda assim é uma perspectiva otimista para o país, assumindo uma reabertura tranquila e avanço nas negociações com detentores de títulos nos próximos meses.

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