Qual será o papel das novas tecnologias para ajudar os EUA a descarbonizar seu setor de energia até 2035 e a ser totalmente neutro em carbono até 2050? Neste post, Andrew Baker, editor associado da Natural Gas Intelligence, explora o papel vital que as empresas de petróleo e gás natural podem desempenhar para alcançar as ambiciosas metas de mudança climática do presidente Biden.
- A nova administração dos EUA disse que, se as empresas de petróleo e gás natural adotarem novas tecnologias, elas poderão ter um papel crucial na transição para um setor de energia livre de emissões de carbono até 2035 e uma economia neutra em carbono até 2050.
- Essas tecnologias incluem captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês), hidrogênio verde (obtido a partir de fontes não fósseis) e hidrogênio azul (criado com combustíveis fósseis).
- As políticas que conduzem à transição energética terão impacto nos mercados de trabalho nos setores de petróleo e gás, podendo também afetar o preço do petróleo.
Assessores do governo dos Estados Unidos disseram recentemente que as empresas de petróleo e gás natural podem desempenhar um papel vital para que as ambiciosas metas de mudança climática do presidente Biden sejam alcançadas.
Em comentários proferidos na CERAweek pela IHS Markit, que foi realizada no início de março, a secretária do Departamento de Energia (DOE), Jennifer Granholm, e o Enviado Presidencial Especial para o Clima, John Kerry, disseram que as empresas de combustíveis fósseis deveriam aproveitar sua infraestrutura e experiência para ajudar a descarbonizar o setor de energia por meio de novas tecnologias.
Entre os recursos tecnológicos citados estão captura, utilização e armazenamento de carbono, além de hidrogênio verde e azul, todos essenciais para atingir as metas de Biden que levariam a um setor de energia livre de emissões de carbono até 2035 e a uma economia neutra em carbono até 2050.
O chamado hidrogênio azul se refere ao hidrogênio criado com combustíveis fósseis, enquanto o hidrogênio verde é obtido de fontes não fósseis.
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O papel das empresas de petróleo e gás na transição energética
“Se você está envolvido como uma empresa de petróleo e gás hoje, você tem essa infraestrutura incrível, tem a capacidade de transportar hidrogênio”, disse John Kerry. “Existem várias maneiras de acelerar essa transição, o que precisamos fazer.” Ele ainda afirmou que as companhias deveriam estar tentando descobrir como se tornar uma empresa de energia e não apenas de petróleo e gás. E explicou: “Eu não me oponho aos combustíveis fósseis em si; me oponho ao subproduto do combustível fóssil, que é o carbono … e o metano, que é outro grande problema emergente”.
John Kerry ainda frisou que é preciso buscar todas as outras formas de energia como uma proteção contra qualquer tecnologia que possamos ou não produzir, além de citar potencias avanços em armazenamento de bateria e energia nuclear de próxima geração como formas de mudar o jogo.
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Avanços na produção de hidrogênio verde e azul
Segundo Kerry, o hidrogênio é a bola da vez no cenário internacional. “Precisamos nos envolver muito mais com o seu desenvolvimento”, afirmou.
Já Jennifer Granholm ressaltou que não dá para chegar a zero de carbono sem captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), e citou projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas para corroborar sua afirmação. A ex-governadora de Michigan ainda acrescentou: “Há enormes avanços acontecendo (…) no hidrogênio verde, no hidrogênio azul, para formar parceria com o gás natural. Queremos levar adiante esse trabalho e vemos isso como um elemento importante da estratégia, além de adicionar íons obviamente limpos e livres de carbono à rede. ”
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Impacto da transição energética no mercado de trabalho
A secretária do Departamento de Energia (DOE) foi clara ao dizer que o novo governo dos EUA está empenhado em garantir que a força de trabalho da indústria de combustíveis fósseis não seja deixada de lado pela transição para a energia limpa. Inclusive, ela criou um escritório de empregos dentro do próprio DOE para ajudar a recolocar os trabalhadores dispensados, transferindo-os para novas posições no setor de energia limpa.
Os sindicatos, no entanto, têm mostrado certo ceticismo em relação à iniciativa do DOE. Isso porque a maioria dos profissionais que atuam na área lembram que os empregos no setor de petróleo e gás oferecem melhores salários e mais segurança do que no segmento de energias renováveis.
O CEO do American Petroleum Institute (API), Mike Sommers, expressou uma opinião semelhante na CERAWeek. Ele observou que a indústria de petróleo e gás é responsável por mais de dez milhões de empregos só nos Estados Unidos, e que nessas posições costuma-se ganhar o dobro da média salarial do país –algo que ocorre na maioria dos países. “Trabalhadores do setor de petróleo e gás estão preocupados, pois sabem que algumas das promessas sobre empregos no segmento de energia limpa não podem ser cumpridas”, explicou Sommers.
Já o North America’s Building Trades Unions (NABTU) vem defendendo que o segmento de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) tem, sim, potencial para oferecer altas remunerações.
Como os preços das commodities de energia serão afetados?
O impacto das políticas do governo Biden sobre os preços das commodities de energia é algo que ainda está por vir.
A Administração de Informação de Energia dos EUA disse em seu último Short-Term Energy Outlook que espera que o preço spot do gás natural do Henry Hub seja, em média, de US$ 2,95/MMBtu em 2021, e de US$ 3,27 em 2022 –bem acima dos US$ 2,03 de 2020.
A previsão mais alta é impulsionada em grande parte pela retomada da demanda nos setores da indústria e de gás natural liquefeito, conforme as campanhas de imunização contra a Covid-19 avançam as restrições ao pleno funcionamento da economia tendem a diminuir.
Alguns observadores também sugeriram que os limites de perfuração em propriedades federais podem ter um impacto altista sobre os preços do petróleo no longo prazo.
A respeito do CCUS, o CEO da American Petroleum Institute (API) disse que precisam de um parceria com o governo para construir essa infraestrutura. “Já a possuímos, em algum nível, com o crédito fiscal 45Q (45Q Tax Credit)”, lembrou.
A seção 45Q do código tributário dos EUA fornece até US$50 por cada tonelada de carbono capturado e colocado em armazenamento geológico seguro, e créditos de até US$ 35 por tonelada de carbono injetado em poços de petróleo ou gás natural.
Sommers destacou que a API apóia políticas adicionais para promover o desenvolvimento de CCUS, bem como regulamentação federal direta de emissões de metano do setor de petróleo e gás. Ele observou ainda que a sua corporação apóia as ambições do Acordo do Clima das Nações Unidas (ONU) de 2015, também conhecido como Acordo de Paris, ao qual os Estados Unidos voltaram a aderir em janeiro por meio de uma ordem executiva emitida no dia da posse do novo presidente.
Anúncio da cúpula do clima
Em uma cúpula do clima organizada pelo governo Biden, programada para 22 e 23 de abril, os Estados Unidos devem anunciar sua “contribuição nacionalmente determinada” (NDC, na sigla em inglês) para a redução dos gases do efeito estufa. Isso precederá o 26º Congresso de Mudança Climática da ONU em Glasgow, programado para o período de 1º a 12 de novembro deste ano.
Antes de encerrar, é importante lembrar que a API e outros grupos do setor não têm sido tão favoráveis a outras ações tomadas por Biden desde que assumiu o cargo, incluindo ordens executivas para suspender o arrendamento de petróleo e gás em propriedade federal e revogar uma licença crucial para o oleoduto Keystone XL, que transporta petróleo do Canadá para 48 estados dos EUA.