- Após a crise global deflagrada pela Covid-19, os investidores levarão cada vez mais em conta fatores ESG na tentativa de preencher as lacunas criadas pela pandemia.
- O “S” –elemento social do ESG— ganhará maior relevância, e o mercado de títulos verdes seguirá crescendo, já que as mudanças climáticas são prioridade.
- O ano de 2021 verá o surgimento de novas tecnologias e abordagens, bem como um foco renovado na integração ESG impulsionada por dados.
Bastaram poucos meses para que a Covid-19 virasse o mundo do avesso. E, em meio à crise financeira global que se seguiu, os investimentos ESG também foram profundamente afetados. Para se ter uma ideia, os ativos sob gestão (assets under management, ou AUM, na sigla em inglês) dos EUA relacionados a fatores ESG aumentaram em cerca de US$ 5 trilhões em apenas dois anos.
Neste post, apresentamos as principais tendências de investimento que moldarão o futuro dos investimentos ESG de 2021 em diante.
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A crise gerada pela Covid-19 reforçará a importância do ESG
Embora, objetivamente, não possamos dizer que a crise provocada pela Covid-19 tenha trazido algo de bom, a pandemia expôs de maneira inédita as deficiências de nossas economias e sistemas sociais. E, no fim das contas, esperamos que isso leve a mudanças positivas.
- Durante 2020 tivemos aportes recordes em fundos ESG, e essa tendência continuará a todo vapor.
Nas próximas décadas testemunharemos a maior transferência de riqueza geracional da história: cerca de US$ 30 trilhões passarão dos baby boomers para os millennials. E isso será um marco para os investimentos ESG. “Os millennials apelam ao senso de responsabilidade para se concentrar em investimentos baseados em valor”, diz Helene LI, CEO e Co-Fundador da Golmpact.
Além disso, neste ano, novos rótulos e padrões catalisarão o surgimento de várias classes de ativos sustentáveis.
“Em 2021, devido ao crescente interesse dos clientes, o setor verá o desenvolvimento de rótulos sustentáveis para canalizar investimentos em ativos com alto valor ESG”, explica Christian Deseglise, Chefe de Finanças e Investimentos Sustentáveis do Banco Global e Mercados do HSBC.
Para que possamos colher os benefícios dessa mudança, infraestrutura deve ser projetada, construída e operada de forma sustentável.
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O “S” ganhará cada vez mais relevância
O “S” (de social) da sigla ESG deverá tomar a dianteira. Isso porque a pandemia segue revelando os pontos fracos de nossas sociedades, destacando cada vez mais a necessidade de responsabilidade social para com as comunidades locais.
- A crise provocada pela Covid-19 terá um impacto profundo (e sustentado) sobre as práticas de responsabilidade social corporativa.
- Para investimentos sustentáveis de longo prazo, serão consideradas apenas as empresas que adotarem uma abordagem humana, colocando seus funcionários em primeiro lugar.
- “Após a pandemia, a forma como as empresas gerenciam a relação com a sua força de trabalho, as sociedades em que operam e o ambiente político será determinante para a sua sobrevivência, sustento e capacidade de investimento a longo prazo”, afirma Svetlana Borovkova, Chefe de Modelagem Quantitativa na Probability & Partners.
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A transparência e a integração dos fatores ESG serão reforçados e os dados desempenharão um papel fundamental
De 2021 em diante, a transparência será um elemento chave para a evolução dos investimentos ESG.
Paralelamente, a transparência será um ingrediente chave na sustentação dos valores organizacionais e servirá como um método de gestão para construir uma cultura mais resiliente.
“Com o início desta nova década, a adoção de indicadores claros de desempenho se tornou fundamental”, ressalta Alessia Falsarone, First Mover Fellow do Aspen Institute Business and Society Program.
Segundo ela, é preciso considerar:
- Como as organizações irão lidar com as reivindicações de mitigação de risco relacionado à transparência e ajudar a estabelecer novas práticas corporativas para apoiá-la?
- Quais métricas os investidores usarão?
- E como eles encontrarão um equilíbrio entre o risco de reputação e o comportamento ético?
Caminhando lado a lado com a transparência, a integração do ESG assumirá um papel central.
“Para que as iniciativas ESG gerem valor, elas precisarão ser integradas em todo o sistema de gerenciamento de risco corporativo e estratégia de negócios. Só assim será possível identificar tanto riscos quanto oportunidades materiais”, destaca Andrew Droste, ESG Board Advisory Specialist da Russell Reynolds Associates.
Diante desse panorama, é essencial lembrarmos que a base da transparência e da integração ESG são dados ESG de alta qualidade.
“Este ano será decisivo em termos de disponibilidade e consistência de dados. E isso vai gerar mudanças no mundo real ”, diz Sudhir Roc-Sennett, chefe de liderança de pensamento e ESG na Vontobel Asset Management. “O melhor exemplo de um país que se vale do poder dos dados para impulsionar as mudanças é a China”, completa.
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Novos conceitos e tecnologias estão no horizonte
Simultaneamente à importância cada vez maior dos dados, novas tecnologias surgirão para apoiar os investidores no processo de tomada de decisões.
Como a mudança climática é nosso desafio sistêmico mais crítico, precisamos de ferramentas para construir estratégias de investimento que reflitam a gravidade desse risco.
- Já observamos sinais de uma reprecificação em grande escala no horizonte.
- Veremos uma reavaliação dos títulos municipais e dos preços das casas em áreas de alto risco climático.
- Haverá impacto sobre as ações e títulos corporativos.
De acordo com o Dr. Matthew McCarten, chefe de finanças espaciais da Smith School of Enterprise and the Environment da University of Oxford, analisar dados de ativos será crucial para compreendermos os riscos ambientais e aqueles relacionados à sustentabilidade.
O Dr. McCarten lembra que aquele tipo de abordagem “de cima para baixo”, frequentemente usada para avaliar os riscos ambientais e relacionados à sustentabilidade, são excessivamente simplistas. Segundo ele, deveríamos adotar uma abordagem ‘de baixo para cima.
“Graças aos avanços da tecnologia, agora é possível produzir conjuntos de dados universalmente confiáveis, transparentes e verificáveis sobre todos os ativos da economia global”, acrescenta.
Além disso, haverá uma demanda crescente por dados alternativos, como dados espaciais adquiridos de satélites, para orientar as decisões de investimento ESG.
“A utilização de dados geoespaciais aumenta a transparência dentro do sistema financeiro, permitindo-nos gerenciar melhor os riscos relacionados a ESG”, conclui McCarten.
Leia mais sobre como as finanças espaciais podem auxiliar no desenvolvimento sustentável
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O mercado de títulos de sustentabilidade continuará a crescer e o risco climático será prioridade
Este será o ano dos títulos verdes. A oferta global dos chamados green bonds deve aumentar 50% em 2021 –e pode ser que ainda não seja suficiente para satisfazer a demanda dos investidores.
Em paralelo, estamos vendo os chamados “greeniums” motivando os emissores a se tornarem “verdes”, alimentando ainda mais essa tendência de investimento ESG.
À medida que o risco climático ameaça o planeta, os investidores precisam encontrar novas e melhores maneiras de mensurá-lo. Um jeito de fazer isso é usando modelos de risco de transição.
De acordo com Paul Ellis, da Paul Ellis Consulting e do The Sustainable Finance Podcast, as estratégias de investimento atuais são construídas segundo modelos lineares, que não consideram os impactos não financeiros das mudanças climáticas nem outras questões ESG.
“É hora de os consultores incluírem modelagem periódica prospectiva dos potenciais resultados de choques futuros para o sistema financeiro como parte de suas estratégias de investimento de longo prazo”, disse ele.
No entanto, o clima não é o único foco para 2021. Segundo o Refinitiv Sustainable Finance Review, a emissão de títulos sociais representou 30% do mercado de títulos financeiros sustentáveis em 2020; em 2019 esse índice foi de apenas 5%.
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Mudança de foco
Conforme o mundo emerge de uma crise econômica e social sem precedentes, é inevitável que nosso foco mude para novas áreas que antes eram mantidas em segundo plano, ou até completamente ignoradas.
A pandemia de Covid-19 colocou em evidência uma miríade de questões sociais, incluindo as injustiças raciais sistêmicas que permeiam nosso sistema econômico, como o acesso desigual à saúde.
De agora em diante, os investidores vão procurar oportunidades de investir em comunidades justas e resilientes. E eles farão isso por meio de uma alocação diversificada de ativos visando retornos de taxa de mercado ajustados ao risco.
Outra área que deverá receber maior atenção em um futuro próximo é o desenvolvimento urbano. Esse é um problema que está alinhado com um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o de “Cidades e Comunidades Sustentáveis”.
“À medida que as deficiências de um mundo cada vez mais urbanizado e desigual foram expostas pela pandemia de coronavirus, a necessidade de abraçar uma economia circular só cresceu”, diz Curtis S. Chin, líder empresarial e senior fellow do Milken Institute. “Um sistema econômico que integre o uso contínuo de recursos e elimine o desperdício será necessário para que a sustentabilidade e a resiliência de longo prazo sejam estabelecidas”, completa.
Os investidores impulsionarão uma demanda crescente por fontes de energia resilientes e renováveis, ao lado de redes e edifícios de transporte mais verdes e sustentáveis.
Finalmente, a biodiversidade começará a receber mais atenção, já que sua redução continua a ter sérias implicações para nossos meios de subsistência e economias.“A perda de biodiversidade se tornou uma questão relevante para o setor privado. Na verdade, a dependência e o impacto das empresas sobre a biodiversidade geram riscos e oportunidades significativas para companhias de todos os setores ”, aponta o Dr. Joël Houdet, Diretor da Biodiversity Footprint Company.