No ano passado, as incertezas ocasionadas pela pandemia fizeram com que as organizações agissem rápido para garantir acesso à liquidez, gerando –como mostram os dados da Refinitiv— uma transferência de capital sem precedentes entre poupadores e devedores. Para outros, no entanto, essa mudança de comportamento acabou criando grandes oportunidades. De qualquer forma, ambas as tendências levaram os mercados de capitais globais a níveis históricos. Veja os detalhes neste post.
- Durante 2020, os mercados de crédito (Debt Capital Markets ou DCM, na sigla em inglês) globais atingiram a cifra inédita de US$ 10 trilhões. Nesse valor estão incluídos US$ 4,8 trilhões de dívida corporativa global com grau de investimento; US$ 500 bilhões de dívida global de alto rendimento; e US$ 222,2 bilhões de títulos verdes.
- Uma retomada nas Ofertas Públicas Iniciais (IPOs) ajudou os Equity Capital Markets (ECM) a alcançar a marca de US$ 1 trilhão –um aumento de 56% em relação a 2019— com 6.100 emissões. Esses foram os números mais altos vistos nesse mercado desde o início dos registros.
- Já no setor de fusões e aquisições (M&As), 2020 poderia ser dividido em dois, com os banqueiros tentando recuperar o atraso na segunda metade do ano. Enquanto o primeiro semestre foi mais parado para quem trabalha com M&A, tanto o terceiro quanto o quarto trimestre ultrapassaram US$ 1 trilhão em valor de negócios. Mesmo assim, em 2020, as fusões e aquisições globais caíram 5% em relação a 2019.
Por incrível que pareça, 2020 foi o ano mais movimentado para os mercados de capitais globais desde que se iniciaram os registros. E isso ocorreu justamente porque empresas, governos e instituições financeiras foram em busca de liquidez para se sustentar durante os períodos de baixa atividade econômica de 2020.
Mercados de capitais globais: desempenho recorde
As emissões no mercado de crédito atingiram US$ 10,2 trilhões em mais de 25.000 ofertas. Esses foram os níveis mais altos –tanto em volume quanto em valor— desde 1980, quando começaram os registros. Os três primeiros trimestres do ano foram recordes, com os DCMs globais ultrapassando o patamar de 2019 em cerca de um terço.
No segmento de dívida corporativa global com grau de investimento a arrecadação foi de US$ 4,8 trilhões, um salto de 22% sobre o ano anterior, além de um recorde histórico. Em 2020, a quantidade de emissões de tomadores de empréstimos de alta qualidade foi bastante significativa, levando-nos a testemunhar cinco dos dez meses mais movimentados de todos os tempos para emissões com grau de investimento. Isso foi impulsionado, sobretudo, pelo mercado de dólares americanos, que contou com uma elevação de 62% nas emissões de dívida, para US$ 1,9 trilhão.
Enquanto isso, as chamadas emissões de alto rendimento chegaram a US$ 500 bilhões em todo o mundo. Com um aumento de 52% nas emissões, os mutuários dos EUA representaram cerca de dois terços do mercado de alto rendimento em 2020.
Além disso, US$ 222,2 bilhões foram arrecadados por títulos verdes, um crescimento de 26% na comparação com 2019 e também um recorde histórico, segundo dados da Refinitiv e da The Climate Bond Initiative.
Novas máximas nos Equity Capital Markets
Os ECM (Equity Capital Markets) globais também bateram recordes inimagináveis ao longo de 2020. Enquanto o valor das ações emitidas saltou 56%, para US$ 1,1 trilhão, o número de emissões cresceu em um terço (6.100) em relação a 2019. Ambos os resultados foram os melhores em mais de 40 anos. O ano ainda terminou apontando para uma tendência de alta, com US$ 300 bilhões arrecadados apenas no quarto trimestre.
Mais de 4.000 ofertas subsequentes (ou follow-on) também chegaram ao mercado em 2020, totalizando US$ 663 bilhões –a maior contagem do mercado secundário desde 2009 e um aumento de 72% sobre 2019. Ao mesmo tempo, as ofertas conversíveis cresceram 50% sobre o ano anterior, para US$ 188 bilhões, a maior quantia já registrada.
Mas esse renascimento do mercado de ações foi muito mais do que uma busca por reservas adicionais de capital.
No ano que passou, as Ofertas Públicas Iniciais (IPOs) subiram 25%, para US$ 222 bilhões, à medida que o sentimento dos investidores sobre oportunidades de crescimento futuras contrastava fortemente com a crise em curso. E preciso lembrar que este número exclui as chamadas Special Purpose Acquisition Company (SPAC), categoria que, sozinha, foi responsável por um mini boom de equities.
Como já dá para imaginar, a atividade no mercado de IPOs também terminou em alta, com US$ 83 bilhões levantados no último período de 2020, a maior cifra vista em qualquer trimestre desde 2010.
É interessante notar que isso reflete com bastante precisão a Pesquisa de Opinião de Fornecedores 2020 da Refinitiv, publicado em janeiro de 2020. Segundo o estudo, a parcela de entrevistados que estava otimista em relação a IPOs era duas vezes maior do que de pessimistas, e isso se justificava pelos avanços tecnológicos.
A emissão de ações avançou em um terço nos EUA e na região EMEA, mas essa taxa parece mínima se comparada à da Ásia-Pacífico, onde o salto foi de 67% e ajudou a formar o que hoje é o maior ECM do mundo.
Os emissores da região tomaram emprestado um valor recorde de US$ 370 bilhões em 2020, impulsionados pela China, que viu um aumento de 90% nas receitas de ECM (para US$ 281 bilhões). O Japão também apresentou um aumento de 82% nas receitas proveniente de equities, para um total de US$ 39 bilhões.
Um ano peculiar para M&As
Os consultores do setor de M&A deveriam ter sido aconselhados a tirar suas férias anuais antes de junho. Isso porque, após um hiato de seis meses, tanto o terceiro quanto o quarto trimestre ultrapassaram o valor de US$ 1 trilhão em negócios, um aumento de 90% sobre o primeiro semestre de 2020. Mesmo com esse salto, no entanto, as fusões e aquisições globais terminaram o ano 5% abaixo de 2019.
Não há dúvida de que o ano tenha sido salvo pelo setor de tecnologia, que claramente se beneficiou da pandemia de Covid-19, com negócios que totalizaram US$ 684 bilhões –um salto de 50% em relação a 2019 e mais um recorde histórico.
Enquanto isso, o segmento de private equity acelerou o lançamento de seus ilíquidos war chests, obtendo uma fatia de 16% das fusões e aquisições globais, um quarto a mais do que no ano passado e, novamente, um recorde na história dos registros sobre a área.
No que diz respeito às diferentes regiões, nos EUA, o setor de M&A encerrou o ano com queda de 21%; Ásia-Pacífico, em alta de 16%; e EMEA, a grande vencedora, com avanço de 36% –embora reforçada por acordos técnicos, como a unificação de ações de US$ 106 bilhões da Unilever PLC.
Contudo, o que as manchetes podem esconder (mas o gráfico abaixo revela) é que os negócios menores foram os mais resilientes. Por exemplo, enquanto os mega negócios caíram 21%, aqueles com valores entre US$ 5 bilhões e US $ 10 bilhões subiram 36%.
Europa fica para trás na na “corrida das taxas”
Em 2020, as taxas de banco de investimento alcançaram, em nível global, US$ 128 bilhões, um aumento de 18% sobre 2019 e (claro!) o melhor ano desde que se iniciaram os registros, em 2000. Além disso, o segundo trimestre de 2020 foi o mais lucrativo da história no que diz respeito a taxas de banco de investimento (US$ 35,7 bilhões).
Houve, porém, uma clara divisão entre um lado e outro do Atlântico. Enquanto as empresas dos EUA pagaram 24% mais taxas do que em 2019, as da região EMEA experimentaram um aumento de apenas 5%, sustentado por ganhos principalmente na Alemanha e na Europa Central.
Já na Ásia-Pacífico o ano terminou com alta de 20%, impulsionada pelo Norte da Ásia, ultrapassando pela primeira vez as taxas de fechamento de negócios da Europa.
No ano passado, os cinco maiores bancos do mundo também aumentaram sua participação de mercado em 2,3 pontos, liderados por JP Morgan (7,2%) e Goldman Sachs (6,5%).
Já no universo de private equity, a KKR & Co pagou US$ 530 milhões em taxas; e o Goldman Sachs foi o principal banco para a área, arrecadando US$ 917 milhões.
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