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2022, um ano marcado pelo recuo generalizado dos mercados de capitais

Lucille Jones
Lucille Jones
Analyst, Deals Intelligence

No ano passado, tanto os Debt Capital Markets (DCM) quanto os Equity Capital Markets sofreram com arrecadações significativamente menores, movimento impulsionado, em grande parte, pela dramática queda no número de emissões de ações nos EUA.


  1. EUA foram os principais responsáveis pelo declínio da atividade global dos ECM e DCM.
  2. Já o Oriente Médio tentou compensar um pouco a tendência de retração com um crescimento de 63% no segmento de IPOs; e a Ásia, com suas emissões em moedas locais.
  3. Enquanto isso, os altos rendimentos vistos nos mercados norte-americanos só serviram para piorar ainda mais o panorama global.

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Para os profissionais dos mercados de capitais, 2022 foi um ano daqueles que precisam ser esquecidos. Após o que ficou conhecido como uma espécie de “crise positiva” nos dois anos anteriores –quando a liquidez global saiu em socorro de empresas e governos com restrições de caixa—, 2022 trouxe uma grande desaceleração na arrecadação de capital.

Durante o ano todo, apenas US$ 488 bilhões em ações foram levantados nos mercados de capitais internacionais, a menor contagem desde 2003 e 62% a menos do que em 2021. O número de ofertas, por sua vez, despencou 39%, para 4.450, o patamar mais baixo em dez anos. E o pior é que a curva dos ECM se manteve negativa no quarto trimestre de 2022: 14% abaixo do período anterior.

É preciso ressaltar, no entanto, que as perdas foram mais pesadas nos EUA, onde as receitas caíram 78% em comparação a 2021 e levaram a uma participação historicamente baixa, de apenas 17% do mercado total.

Enquanto isso, a China, que sofreu uma queda de 43% em relação ao ano anterior, conquistou sua maior fatia do bolo, com 38% da atividade global dos ECM em 2022.

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IPOs sofrem um baque

Em um mercado de baixo risco, não é nenhuma surpresa que as IPOs tenham sido as mais impactadas, com as transações globais caindo 64% e levantando apenas US$ 148 bilhões.

O mais curioso, contudo, é a assimetria geográfica dos declínios nas IPOs. Nos EUA, os mercados de ações quase fecharam para novas listagens, com a quantidade de IPOs diminuído em 95%, para uma arrecadação de não mais de US$ 8 bilhões, a menor (em valor) desde 1990.

A Europa também testemunhou um grande declínio em novas listagens –uma queda de 84%, para US$ 14 bilhões—, e se segurou graças a IPO de US$ 8,8 bilhões da marca alemã de automóveis Porsche.

Já para as IPOs realizadas na China, o ano foi (comparativamente) bem movimentado, levantando US$ 71 bilhões. E o Oriente Médio,  contrariando totalmente a tendência, viu em 2022 as suas IPOs subirem, em valor, mais de dois terços em relação a 2021, impulsionadas por uma série de flutuações nas bolsas domésticas.

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Em relação às chamadas ofertas subsequentes, a atividade também não foi muito melhor; caíram 61%, levantando apenas US$ 271 bilhões a partir de 2.800 ofertas globais, o pior valor agregado desde 2003. Neste segmento, a EMEA apresentou queda de 66% nas emissões, tocando a mínima em 27 anos.

Na categoria de subscritores de ações, o CITIC (que três anos atrás nem estava entre os “top 10”) ficou em primeiro lugar em receitas em 2022, seguido por Goldman Sachs e JP Morgan.

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Altos rendimentos e EUA prejudicam DCM

Após um primeiro trimestre promissor, os DCM globais passaram a registrar quedas trimestrais consistentes em 2022, terminando o ano com baixa de 19% em relação a 2021 e arrecadando um total de US$ 8,3 trilhões (pouco acima do ano pré-pandêmico de 2019). Enquanto isso, o número de emissões caiu 12%, para 26.625.

Atualmente, a taxa de execução trimestral dos DCM está abaixo de US$ 2 trilhões.

O setor financeiro, o governamental e as agências foram responsáveis por 78% das emissões globais de dívida em 2022, pouco acima dos 73% do ano anterior.

Mas foram registradas reduções acentuadas nas emissões de alto rendimento, que despencaram 80% em todo o mundo, para uma mínima de 14 anos, arrecadando somente US$ 133 bilhões.

Além disso, as emissões de alto rendimento no quarto trimestre ficaram abaixo de US$ 20 bilhões, o menor nível desde o auge da crise financeira global no início de 2009. E isso se deu, em grande parte, como resultado do declínio vertiginoso na atividade de alto rendimento nos EUA em dezembro.

Em compensação, a dívida corporativa com grau de investimento baixou apenas 13% (levantando US$ 4,1 trilhões), embora 2022 tenha sido o ano mais fraco para esse mercado desde 2019.

Também constatamos um recuo geral na emissão de dívida em termos de ofertas internacionais de títulos, que caíram 30%, para US$ 3,6 trilhões, enquanto as emissões corporativas de mercados emergentes diminuíram 42%, para US$ 226 bilhões.

Um ponto positivo foi a dívida em moeda local da Ásia, com alta de 4%, para US$ 3,4 trilhões, o maior resultado anual desde o início dos registros, em 1980. Esse movimento foi impulsionado, sobretudo, por um crescimento de 14% nas ofertas de Yuan da China.

Entre os bancos, o JP Morgan manteve, mais uma vez, o primeiro lugar. Já o BofA Securities trocou de posição com o Citi, ficando em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

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