Como a pandemia de coronavírus reformulará a gestão de fundos daqui para a frente? Neste post, falamos um pouco sobre as novas práticas de negócios e medidas que definirão como o setor vai operar neste e nos próximos anos. Confira.
- Os gestores de fundos estão adotando novas formas de operação, incluindo trabalho remoto e preferência pelo contato digital com o cliente.
- O uso de dados e de novas tecnologias nas empresas se intensificará ainda mais, à medida que os gerentes de fundos procuram atuar com mais agilidade e estabelecer processos mais inteligentes.
- Até que a crise diminua, os ativos de menor risco provavelmente continuarão a compor os fundos que são gerenciados ativamente.
Em geral, os gestores de investimento concordam que os fundos com melhor desempenho são aqueles que seguem estratégias rigorosas. Isso pode tanto significar um gerenciameto ativo, para tirar proveito das oportunidades de negociação tática quando elas surgirem, quanto uma gestão passiva, que busca capitalizar o aumento dos preços dos ativos a longo prazo.
A cada ano, ambas abordagens –ativa versus passiva— rendem debates recorrentes entre os vencedores do Refinitiv Lipper Fund Awards, com fervorosos apoiadores dos dois lados argumentando com base em dados históricos.
“Apesar de a pandemia não alterar a forma como o setor estabelece a estratégia de seus fundos, ela propiciará, sim, novas formas de trabalho, além de aumentar a preferência por decisões de investimento de curto prazo e mais táticas, que favorecem os ativos de menor risco”, afirma Detlef Glow, Head of Lipper EMEA Research na Refinitiv.
Confira, a seguir, quatro maneiras pelas quais a Covid-19 ajudará a reestruturar a gestão de fundos neste e nos próximos anos.
Tomada de decisão mais rápida e inteligente
“Depois que a doença se retrair substancialmente, os gerentes de fundos analisarão os dados de mercado dos meses anteriores para descobrir as potenciais lições a serem aprendidas com a crise”, explica Glow. Com essas informações em mãos, eles trabalharão para desenvolver um indicador que os ajude a agir com mais rapidez e inteligência, principalmente para fundos gerenciados ativamente. Assim, se um evento desse tipo acontecer novamente, será possível se mover com agilidade para proteger seus portfólios de choques do mercado.
É consenso que todo gestor de fundos precisa de dados para tomar decisões bem embasadas –e é particularmente importante que eles sejam de alta qualidade. “Em tempos de turbulência no mercado, os gerentes devem reagir rapidamente a um ambiente de mercado em mudança”, diz Glow. “Eles necessitam de tecnologia que possa fornecer dados oportunos e precisos, levando-os a análises e rápidas tomadas de decisões em todas as partes do processo de gestão de portfólio”.
Contato digital
Entre os gestores, sempre foi costume promover seus fundos pessoalmente, com apresentações que destacavam a singularidade e a competitividade do produto. No entanto, com as restrições a viagens e reuniões presenciais impostas pela pandemia de coronavírus, esse tipo de abordagem teve de ser completamente interrompida.
Embora isso esteja prejudicando bastante os esforços de divulgação de alguns gerentes, para outros, não deixa de ser uma oportunidade.
Normalmente, os seletores de fundos precisam de informações mais detalhadas somente quando o produto é listado em suas listas de compras, após terem verificado fatores predefinidos como horizonte, classe de ativos e mercados.
Assim, os gestores podem disponibilizar informações sobre seus fundos on-line, tornando-as acessíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana a potenciais investidores. No caso de uma solicitação de proposta, os dados sobre o fundo e seu administrador podem ser compilados e enviados por email ou carregados pelo emissor.
Investimentos táticos e de menor risco
Segundo Detlef Glow, a atual crise sanitária e econômica fará com que nos próximos meses as preferências dos gestores recaiam sobre investimentos menos arriscados. “Conforme os mercados acionários declinam, o mesmo ocorre com os ativos sob gestão. E é improvável que os fundos de ações sejam a única classe de ativos a experimentar movimento de queda, já que a crise leva os gerentes a favorecer investimentos de menor risco”, completa.
Dessa forma, seria normal ver os investidores saindo de todos os tipos de ativos de risco: de fundos alternativos UCITS, de retorno absoluto, de ativos mistos e corporativos até os de alto rendimento e de títulos de mercados emergentes.
Trabalho remoto
A capacidade dos gerentes de implantar rapidamente o trabalho remoto tem sido muito positiva para o setor de fundos. Ao serem solicitados, muitos mudaram para essa forma de operação sem grandes problemas ou impacto sobre o fluxo de trabalho ou produtividade. O sucesso dessa nova rotina tem provocado um importante questionamento: os gerentes de fundos realmente precisam dos escritórios que atualmente alugam, muitos deles em regiões caras e privilegiadas?
O problema é que muitas das funções essenciais para o negócio devem ser realizadas em um “local oficial da empresa”, incluindo o gerenciamento de portfólio. Nas principais jurisdições do planeta, os gestores de fundos devem, por lei, usar equipamentos do escritório corporativo para executar suas tarefas diárias.
Entretanto, como lembra Glow, diante de um evento como a pandemia de Covid-19, os reguladores provavelmente farão exceções ou alterações a essas regras para garantir que o setor possa prosperar remotamente em todas as suas funções.
De qualquer forma, é provável que a adoção de medidas como trabalho remoto, contato digital e processos que levem a decisões mais rápidas e embasadas mudem a indústria para melhor – à medida que as negociações táticas de curto prazo e investimentos passivos de longo prazo continuam gerando retornos para os investidores.