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Como evitar que a transição da LIBOR gere problemas nos mercados

Silvina Bruggia
Silvina Bruggia
Proposition Director for Emerging and Frontier Markets, Refinitiv
Jacob Rank-Broadley
Jacob Rank-Broadley
Head of LIBOR Transition, B&I

Quais medidas os mercados emergentes podem tomar para garantir que a transição da LIBOR para outras taxas de referência seja tranquila?


  1. Os mercados emergentes deverão enfrentar desafios únicos ao se preparar para migrar da LIBOR (London Interbank Offered Rate) para taxas de referência alternativas.
  2. Essa transição tende a gerar distúrbios nos mercados emergentes, que costumam ter economias altamente dolarizadas e altos níveis de taxa flutuante ou de dívida denominada em moeda estrangeira, além de reservas de investimentos externos.
  3. Os bancos na América Latina estão trabalhando tanto individualmente quanto com organizações locais e internacionais para encontrar soluções para os transtornos provocados pela transição da LIBOR.

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Durante anos, a LIBOR (London Interbank Offer Rate) permeou os sistemas financeiros em todo o mundo, definindo como os contratos são precificados e o risco, administrado. Mas em 2017 a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido anunciou que descontinuaria a LIBOR ao final de 2021.

O mundo teve quase quatro anos para se preparar para o fim do reinado da LIBOR como a referência global mais importante das taxas de juros, contudo, centenas de trilhões de dólares em exposições a derivativos e dívidas ainda são precificados com base nesse benchmark.

E, embora os principais mercados já tenham identificado taxas livres de risco (Risk Free Rates, ou simplesmente RFRs) alternativas, a maioria dos emergentes ainda está incrivelmente atrasada em seu processo de transição.

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Impactos da aposentadoria da LIBOR

Em uma recente pesquisa com participantes do mercado na América Latina, menos de 25% dos entrevistados no México disseram que suas instituições estavam prontas para transferir as obrigações de dívida para taxas de referência alternativas quando novos prazos e moedas atreladas a LIBOR desaparecessem no final deste ano. A data final para os principais prazos da LIBOR em dólares americanos é 30 de junho de 2023.

O fim da LIBOR afetará todos os aspectos da indústria de serviços financeiros globais, incluindo sistemas tradicionais e corporativos. Os mercados emergentes, que tendem a ter economias bastante dolarizadas, altos níveis de taxa flutuante ou dívida denominada em moeda estrangeira, além de reservas de investimentos externos, têm sérios desafios pela frente.

O enigma do mercado emergente

Grupos de trabalho públicos e privados identificaram RFRs alternativas para as moedas atreladas a LIBOR, como a Secured Overnight Financing Rate (SOFR) para o dólar americano; a Sterling Overnight Index Average (SONIA) para a libra esterlina; a Euro Short-Term Rate (€STR) para o euro; a Swiss Average Rate Overnight (SARON) para o franco suíço; e a Tokyo Overnight Average Rate para o iene japonês.

Mas, em vez de essas novas taxas serem cotadas de forma prospectiva, como a LIBOR, as RFRs são baseadas em transações overnight do mercado financeiro, fornecendo uma referência voltada para o passado.

Os mercados para essas RFRs encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento e adoção, e alguns já estão obervando crescimento de liquidez. Essa abordagem –fragmentada e desigual— em relação à substituição da LIBOR traz dificuldades únicas para os países emergentes, como Brasil e México.

Enquanto os bancos centrais da Ásia e do Oriente Médio estão ajudando suas instituições financeiras a administrar a transição, seus equivalentes nos mercados emergentes enfrentam obstáculos para mudar de um benchmark com uma estrutura de prazo prospectiva como a LIBOR (em que o valor dos juros é conhecido com antecedência) para outros que não funcionam dessa forma, especialmente quando se depende de bancos internacionais para a obtenção de crédito.

A incerteza sobre o valor dos pagamentos de juros futuros e a incapacidade de calcular os fundos devidos até a data de vencimento dessas parcelas é problemática. Como esses tomadores de empréstimo precisam fazer pagamentos usando a receita gerada em sua moeda local, eles devem lidar com a flutuação das taxas de câmbio e de juros.

Embora uma estrutura de prazo retrospectiva que fosse mais longa ou uma mudança na determinação de juros possam resolver o problema da incerteza da taxa de juros, o risco de uma incompatibilidade entre o período de juros real e o utilizado para determinar os juros torna difícil para a instituição financeira administrar sua exposição, e é capaz de desalinhar o custo dos fundos dos bancos em relação ao valor dos juros recebidos.

Dessa forma, nos mercados emergentes, os bancos podem ser incapazes ou menos dispostos a fornecer novos empréstimos a quem requisita.

Além de tudo isso, a mudança para RFRs cotadas de forma retrospectiva poderia entrar em conflito com as leis comerciais e bancárias e com os regulamentos de alguns mercados emergentes.

Bancos latino-americanos respondem à extinção da LIBOR

“Os bancos latino-americanos estão trabalhando individualmente e em conjunto com autoridades locais e organizações internacionais”, observa Salvador Covarrubias Chavez, Diretor Gerente e Chefe de FX e STM do Santander México. “O primeiro objetivo ao adotarmos os novos RFRs é ajustar nossos sistemas, metodologias de risco e contabilidade. Estamos nos concentrando em questões legais e adesão aos protocolos de ‘fallback‘ ”, explica ele. “Nosso segundo foco será desenvolver mercados locais em relação à nova Interbank Equilibrium Interest Rate (em espanhol Tasa de Interés Interbancaria de Equilibrio ou TIIE).”

Os bancos devem coordenar a migração para novos benchmarks tanto no caso de clientes locais quanto estrangeiros. “Investimos na formação de equipes responsáveis ​​pela implementação dessas mudanças”, observa Covarrubias Chávez. “Cada instituição difere em seu tipo de exposição e está sujeita a diferentes regulamentações internacionais, além das mexicanas.”

Ele acredita que os derivativos listados em Bolsas de Valores e Câmaras locais e internacionais, combinados com incentivos governamentais, como a emissão de dívidas relacionadas às novas taxas, devem permitir que o mercado latino-americano se desenvolva em um ritmo razoável. “É fundamental que as operações dos clientes migrem para as novas taxas, mesmo quando são cobertas por contratos bilaterais”, explica o diretor. “A liquidez da cobertura encontra-se nas contrapartes que realizam as liquidações em câmaras e que serão avaliadas com os novos benchmarks.”

Covarrubias Chávez recomenda ainda que os bancos mantenham o foco nos prazos (mesmo que continuem mudando) e preparem seus sistemas, definam metodologias de avaliação, participem de derivativos e estejam em constante comunicação com as autoridades locais.

Seis medidas que precisam ser adotadas pelos participantes dos mercados emergentes

  1. Realize a due diligence o mais rápido possível

se as transações existentes que fazem referência à LIBOR continuarão além de 2021, e se há cláusulas de fallback tanto nos contratos de empréstimo quanto nos documentos de hedge se a LIBOR não estiver mais disponível. Se não houver essas disposições, determine quais consentimentos você precisa corrigir para fazer referência a uma RFR versus a LIBOR.

  1. Tenha um plano de contingência –estabeleça o que você fará se RFRs cotadas de forma prospectiva estiverem disponíveis para moedas relevantes –e também o que você fará se não estiverem. Por exemplo, você usará uma taxa fixa ou uma taxa flutuante com base na Bank of England’s Base Rate? Você adotará essa taxa temporariamente até que uma RFR com estrutura de prazo prospectiva esteja disponível ou a tornará permanente?
  2. Comunique seu plano de transição para os financiamentos em andamento –se você está celebrando qualquer contrato de financiamento e ainda não determinou a taxa alternativa para a LIBOR, certifique-se de que as contrapartes concordam com o processo de substituição.
  3. Identifique uma estratégia de implementação –se você optar pela alteração, substituição, resgate (ou até mesmo por não tomar nenhuma ação), envolva terceiros para implementar sua estratégia.
  1. Comprometa recursos –você precisará de tempo e dinheiro para concluir a transição. Crie um time de transição da LIBOR que seja realmente comprometido e esteja pronto para atrair advogados, gerentes de relacionamento e de transações e equipes de agências e operações, conforme necessário.
  2. Mantenha-se atualizado: acompanhe os desenvolvimentos do mercado a partir de fontes confiáveis, como:

(Adaptado de “LIBOR Transition –A Compounding Problem for Emerging Markets”, de Mayer Brown).

Fallbacks em dinheiro vivo e em dólares americanos: o caminho para uma transição suave

Embora cerca de 67% das atuais exposições à LIBOR em dólares americanos tenham vencimento antes de junho de 2023, estima-se que US$ 5 trilhões de produtos de referência à vista permanecerão em circulação, o que representa um risco significativo para os mercados globais.

O Alternative Reference Rates Committee (ARRC) e outros formuladores de políticas financeiras estão trabalhando para fornecer uma estrutura legal adequada para tratar de questões relacionadas ao fallback, e escolheram a Refinitiv para publicar suas taxas de ajuste de spread para produtos em cash.

Ao publicar as taxas de fallback do ARRC, a Refinitiv aproveitará sua experiência como administradora de benchmarks como WMR, CDOR e Term SONIA.

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