Costumamos esquecer o quão incrivelmente jovem é o mercado de finanças sustentáveis. No entanto, fora do universo dos títulos verdes, ainda não havia nenhuma fonte de dados para todo o capital que vem sendo levantado para amparar essa nova classe de investimentos. Até agora.
- A Refinitiv é a primeira a revelar números abrangentes sobre os investimentos sustentáveis.
- No primeiro semestre de 2020, US$ 275 bilhões em novos financiamentos foram levantados nos mercados de capitais, que incluíam títulos de sustentabilidade, empréstimos sindicalizados e emissão de capital acionário vinculados a resultados de sustentabilidade.
- Dentro dos títulos sustentáveis, os green bonds permaneceram fortes apesar da pandemia, enquanto os títulos sociais e outros com foco no meio ambiente apresentaram um crescimento espetacular.
Com o lançamento da Sustainable Finance Review, a Refinitiv apresenta um quadro abrangente do volume de capital investido nos mercados com foco em sustentabilidade, independentemente do instrumento financeiro.
Essa análise é a mais abrangente do setor até o momento, e cobre quatro principais áreas:
Para obter mais informações sobre o universo das finanças sustentáveis no primeiro semestre de 2020, faça aqui o download de nossa edição trimestral do Refinitiv Sustainable Finance
Finanças sustentáveis no primeiro semestre de 2020
No primeiro semestre de 2020, mais de US$ 275 bilhões em novos investimentos foram levantados nos mercados de capitais. Proporcionalmente, isso significa mais de meio trilhão de dólares por ano comprometidos com um futuro mais sustentável.
Nesse valor estão incluídos títulos de sustentabilidade, bem como empréstimos sindicalizados e emissão de capital acionário claramente vinculados a resultados de sustentabilidade. O relatório da Refinitiv também engloba atividades de M&A que envolvem a aquisição de empresas sustentáveis e tabelas de classificação de consultores.
Essa cifra é bastante reveladora se pensarmos no contexto da luta contra as mudanças climáticas. Em 2014, a Agência Internacional de Energia estimou que o custo para alcançar a segurança energética e colocar o mundo em uma trajetória de emissões que provocasse um aquecimento global de no máximo dois graus Celsius seria de US$ 1 a US$ 2 trilhões ao ano.
Este relatório, portanto, funciona como uma referência que permite à comunidade internacional ver quanto capital está sendo atualmente comprometido com iniciativas sustentáveis.
Títulos sustentáveis
No primeiro semestre de 2020, vimos quase US$ 200 bilhões em títulos sustentáveis serem emitidos ao redor do globo. Isso representa o dobro do valor arrecadado no primeiro semestre de 2018.
Grande parte desse crescimento ocorreu no segundo trimestre deste ano, com US$130 bilhões investidos, o maior valor trimestral já registrado. O Banco Mundial foi o maior emissor de títulos sustentáveis, levantando quase US$ 30 bilhões, um patamar próximo ao do primeiro semestre de 2019.
Na categoria de títulos sustentáveis, os green bonds responderam pela maior parte do valor arrecadado, US$ 77 bilhões, uma queda de 13% em relação a 2019. Já o US$1,5 bilhão do Citigroup representa a maior emissão individual de títulos verdes até o momento.
No entanto, outros títulos sustentáveis com foco no meio ambiente cresceram 94% na comparação anual, dobrando o valor arrecadado, para US$ 57 bilhões.
Ainda mais espetacular foi o salto na emissão de títulos sociais, que registrou um aumento de 50% sobre o valor total de 2019, para US$ 45 bilhões, impulsionado pelo levantamento de capital de soberanos, multinacionais e bancos para os esforços de recuperação pós-pandemia.
O novo relatório mostra que a Europa é o maior mercado de emissão de títulos sustentáveis. O continente detém 46% desse segmento, seguido pela América do Norte (32%) e Ásia-Pacífico (16%).
Os emissores europeus são ainda mais dominantes na cena de empréstimos sustentáveis. A sua participação, de 63%, é impulsionada por negócios como uma instalação de US$ 5,4 bilhões para a italiana Enel SpA e os US$ 5 bilhões levantados para a dinamarquesa AP Moller-Maersk, empresa de logística para contêineres.
Já na esfera global, os empréstimos sustentáveis totalizaram US$ 79 bilhões, uma ligeira queda em relação a 2019.
Enquanto isso, as Américas responderam por 83% da atividade sustentável do mercado de ações, com a Europa em um distante segundo lugar (17%). E, por incrível que pareça, a NextEra Energy, empresa sustentável com sede na Flórida, levantou no primeiro semestre deste ano mais de US$ 10 bilhões em mercados de capitais de dívida e ações, além de empréstimos sindicalizados.
Por outro lado, a emissão geral de ações entre empresas sustentáveis caiu no último trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 3,8 bilhões.
O estudo da Refinitiv mostra ainda que as fusões e aquisições envolvendo essas companhias mantiveram-se praticamente estáveis, totalizando US$ 14 bilhões, referente a 220 transações. Nessa categoria, a China ficou em primeiro lugar, com 20% do volume de mercado.
Ouça: Social Bonds Q&A: What Makes a Good COVID-19 Bond and What to Expect Post-Crisis
Tabelas de classificação de consultorias
Como parte da Sustainable Finance Review, a Refinitiv também lançou tabelas de classificação de consultorias. O Goldman Sachs aparece na dianteira da tabela de M&As sustentáveis, pela assessoria realizada para cinco negócios, avaliados em US$ 4,9 bilhões.
O HSBC foi o favorito na subscrição de títulos sustentáveis, com uma participação de mercado de 6,3%, mesma proporção do BNP Paribas para empréstimos sindicalizados sustentáveis. Paralelamente, JPMorgan, Bank of America e Wells Fargo possuem, cada um, mais de um quinto do mercado de ações sustentáveis.
Metodologia em evolução
A Sustainable Finance Review da Refinitiv oferece maior transparência para essa área do mercado. O desenvolvimento das categorias (tabela abaixo) tem sido um processo colaborativo, e deverá ser revisado conforme o setor for amadurecendo.
Tive o prazer de cooperar com nossos parceiros da Climate Bonds Initiative (CBI) e de fazer parte de um grupo de trabalho do Reino Unido sobre finanças sustentáveis, ajudando a definir critérios em relação a essas várias categorias. Com o tempo, esperamos que a metodologia evolua e se torne a norma do mercado.
Ainda há muito trabalho a ser feito, e estou animado para ir mantendo todos sempre atualizados, à medida que a cobertura desse mercado for progredindo.