Na reta final da COP26, ainda não resolvemos uma questão básica: quais medidas as nações concordarão em tomar para limitar o aquecimento global a +1,5 °C acima dos níveis pré-industriais –elevação máxima de temperatura para evitar os piores efeitos da mudança climática?
- As negociações da COP26 já estão em seus momentos finais, mas muitos pontos ainda não estão resolvidos.
- A transição para emissões líquidas zero nos mercados emergentes (EM, na sigla em inglês) continua sendo crucial para o esforço global.
- O financiamento da transição para emissões líquidas zero exigirá o compromisso dos setores públicos e privados.
Um novo relatório da Refinitiv analisa as questões em torno da COP26 e inclui dados climáticos, com gráficos proprietários do Refinitiv Datastream e da empresa parceira Fathom Consulting.
Limitar o aquecimento a +1,5 °C exigirá cortes profundos nas emissões globais de CO2.
Para manter a meta climática sob controle, as nações ainda terão de encontrar uma maneira de reduzir a intensidade das emissões resultantes da atividade econômica, de forma que o nível global de geração de carbono caia mesmo que a economia mundial continue a crescer.
Isso não é impossível, e pode até não ser tão caro quanto se costuma pensar.
O debate já não é sobre tornar as emissões mais caras (por meio de tributação ou de regulamentação), mas sim para fazer com que a tecnologia verde seja mais barata.
Identificar as tecnologias verdes mais promissoras e descobrir como reduzir seus custos de forma ainda mais rápida para implantá-las em grande escala foram alguns dos tópicos discutidos nos debates sobre ciência e inovação.
O problema é que as ações políticas seguem lentas, e a escala e a duração da cúpula das Nações Unidas atestam sua complexidade.
A situação da China e dos EUA
A China, o maior emissor de CO2 do mundo, é fundamental para o esforço global de descarbonização, mas sua situação atual ainda se mostra contraditória.
Por um lado, o gigante asiático é o maior produtor mundial de energia renovável, exporta mais energia solar do que qualquer outro país e possui a maior frota de veículos elétricos do planeta.
Por outro, é o que consome mais carvão, importa mais petróleo e produz cerca de um terço das emissões totais de CO2.
Recentemente, o país prometeu suspender o financiamento de usinas termelétricas a carvão no exterior. Se eles aproveitassem o ímpeto para se comprometer a fazer o mesmo em seu terrritório seria maravilhoso.
Já os EUA, o segundo maior emissor, tem sido um parceiro nada confiável, hesitando em assinar o Acordo de Paris sob as administrações de Trump e Biden.
Agora de volta ao acordo, o atual governo estabeleceu metas ambiciosas e quer que outros aumentem seu comprometimento com a questão climática. Esses apelos, no entanto, dificilmente serão ouvidos, a menos que a Casa Branca seja capaz de apontar para uma nova legislação climática doméstica.
Desafios dos mercados emergentes
Se mesmo com toda a tecnologia e recursos financeiros à disposição não é garantido que os países ricos possam alcançar as emissões líquidas zero, imagine então o tipo de desafio que se impõe aos mercados emergentes.
Grandes países emergentes como a Índia –que na semana passada prometeu atingir emissões líquidas zero até 2070— precisarão aumentar a eficiência da atividade econômica partindo de um baixo nível de desenvolvimento, o que significa abandonar certas tecnologias em vigor. Isso não é impossível, especialmente com as atuais quedas dos preços da energia eólica e solar onshore.
Aliás, a redução do custo das “soluções verdes” é uma questão que foi colocada de forma contundente na COP26; e mercados emergentes como Índia, Indonésia e África do Sul serão cobrados a estabelecer metas de redução de emissões mais ambiciosas e a abraçar as energias renováveis de forma mais ampla.
Para alcançar esse objetivo, os países emergentes precisarão (e deverão solicitar) de mais assistência tecnológica e financeira.
Outro tópico importante diz respeito aos países baixa renda, como Argélia e Nigéria, que dependem fortemente da exportação de combustíveis fósseis. Como eles farão para lidar com ativos legados e gerenciar a transição para uma economia descarbonizada?
O que mais esteve em pauta?
Outro ponto não resolvido, e que certamente ganhará as manchetes em breve, é a promessa dos países ricos de financiar a transição para emissões líquidas zero nas economias emergentes a uma taxa de US$ 100 bilhões por ano.
De acordo com a OCDE, em nenhum dos onze anos desde que essa promessa foi feita, ela foi cumprida. Mais do que extremamente necessário, esse financiamento também seria um bom precedente para negociações mais amplas, encorajando os mercados emergentes a estabelecer metas ambiciosas.
Mobilizar financiamento em grande escala será fundamental tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes. Isso porque a transição para um mundo de baixo carbono exigirá enormes transferências de capital até que se desenvolva a infraestrutura global necessária.
Grandes reservas de capital privado já estão em busca investimentos sustentáveis. Mas também é preciso que o setor público entre em cena com alocações estratégicas de dinheiro para ajudar a desbloquear ainda mais financiamento privado. Como identificar as iniciativas que devem ser prioridade dessas verbas foi tema de grande discussão na COP26.
Além disso, as sessões da cúpula destinadas a energia e transporte discutiram as mudanças tecnológicas, com foco em questões práticas como conectividade da rede e infraestrutura de armazenamento, no caso de energia; e infraestrutura de carregamento para veículos elétricos, no caso de transporte.
Os organizadores da COP26 estabeleceram a meta de garantir emissões líquidas zero até 2050, mirando em um aumento de no máximo 1,5 °C até o final do século.
Discussão permanente
Se passos concretos em direção a essa meta ainda parecem improváveis, excelentes argumentos econômicos e de negócios defendendo uma maior ambição climática nunca foram tão fortes, sobretudo com o custo das “soluções verdes” cada vez mais acessíveis.
E, claro, essa discussão não será encerrada com a COP26, mesmo que o evento tenha sido rotulado como “reunião da última chance”.
Baixe o nosso relatório com as mais importantes questões da COP26, além de dados climáticos, gráficos proprietários do Refinitiv Datastream e da empresa parceira Fathom Consulting.