Um achatamento dramático em trechos importantes da curva de rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos está refletindo preocupações de que o banco central norte-americano tenha sido lento demais para aumentar sua taxa de juros e agora corre o risco de causar uma recessão ao apertar a política monetária de forma muito agressiva.
A diferença entre os retornos da dívida do governo dos EUA de dois e dez anos é a menor desde julho de 2020 e já caiu 20 pontos-base depois de dados divulgados na quinta-feira mostrarem a inflação anual mais forte em quatro décadas no mês passado.
Investidores observam a curva de juros para extrair informações sobre a economia dos EUA. Uma curva invertida, em que as taxas da dívida pública de curto prazo excedem as da dívida de longo prazo, previu recessões passadas com segurança.
Investidores agora precificam cerca de 175 pontos-base de elevações na taxa de juros em um ano e uma chance de 62% de que o Fed suba os juros em 50 pontos-base em sua reunião de março. Uma alta da taxa de juros de pelo menos 25 pontos-base em março está totalmente precificada.
A curva de juros entre as notas de dois e cinco anos – que Tom Fitzpatrick, estrategista-chefe de análise técnica do Citi, chama de sua “bíblia financeira” por causa de sua precisão histórica na previsão dos resultados da política monetária do Fed– atingiu brevemente 30,4 pontos-base, ante 66 pontos-base há um mês.
Todas as vezes que a diferença caiu abaixo da área de 31 a 33 pontos-base nos últimos 25 anos, a curva acabou se invertendo, com o spread ficando negativo –como ocorreu em 2000, 2006 e 2019, disse Fitzpatrick. Contração econômica e declínios do mercado de ações vieram depois de cada um desses casos –com o mergulho mais recente causado pelo fechamento de estabelecimentos em resposta à pandemia.
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A curva de rendimento de dois anos e dez anos é a mais observada como indicador de recessão e um retrocesso econômico é visto como provável a partir de seis meses a dois anos após essa parte se inverter. Essa medida atingiu 38 pontos-base na segunda-feira, antes de voltar para 45 pontos-base.
Mas embora a curva nesse trecho esteja achatata em relação ao início de ciclos de aperto monetário anteriores, outro indicador de recessão, a diferença entre as taxas dos títulos de três meses e da nota de dez anos, é mais encorajador, de acordo com o Deutsche Bank.
Esse intervalo “nos diz que a forma atual da curva de juros não é drasticamente muito diferente do início dos ciclos de aperto monetário anteriores, uma vez que o número total esperado de aumentos de juros é levado em consideração”, afirmou o estrategista do Deutsche Bank Steven Zeng, em relatório.
O spread entre os dois rendimentos está em cerca de 160 pontos-base, enquanto o mercado precifica 200 pontos-base de elevações acumuladas ao fim do ciclo. Se os rendimentos de dez anos subirem 40 pontos-base durante as altas dos juros, “a curva evitaria uma inversão completa”, disse Zeng.
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Embora o achatamento da curva de juros esteja chamando atenção, a maioria dos participantes do mercado não vê recessão no horizonte.
Em uma pesquisa do Bank of America Global Research divulgada nesta terça-feira, gestores de fundos elegeram bancos centrais “hawkish” (agressivos contra a inflação) como o principal “risco de cauda” para os mercados.
As expectativas de achatamento da curva de juros são as mais altas desde 2005, mas apenas 12% dos entrevistados disseram que uma recessão ocorrerá no próximo ano.