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É hora de definir as bases para a transição energética

Rod Morrison
Rod Morrison
Editor of Project Finance International na Refinitiv

À medida que avançamos rumo a novas fontes de energia, aumenta a pressão para que os bancos invistam em tecnologias innovadoras. Mas, afinal, uma mudança em larga escala para ativos verdes até 2030 é uma meta realista?


  1. Enquanto o presidente do Banco Europeu de Investimento, Werner Hoyer, dizia que a era do gás havia chegado ao fim, autoridades alemãs concediam novas permissões para a passagem por terra do gasoduto Nord Stream 2 da Rússia.
  2. A Agência Internacional de Energia (AIE) afirma não haver novos campos de gás, mas muitas empresas comerciais de energia o enxergam como o combustível desta fase de transição.
  3. Até agora não começamos a definir as bases para a transição energética e os possíveis problemas ainda não vieram à tona.

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Este artigo foi publicado originalmente na PFI, em 19 de maio de 2021.

O ex-governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, apareceu recentemente na TV falando sobre a preparação para a COP26, conferência sobre mudança climática das Nações Unidas que ocorrerá em Glasgow em novembro deste ano. Ele é o consultor financeiro da presidência do evento no Reino Unido.

Quando perguntaram a ele se deveríamos parar de viajar de avião para ajudar o meio ambiente, Carney disse que certamente precisávamos levar em conta o impacto desses deslocamentos e aumentar o custo dos voos com base na precificação do carbono até que os combustíveis sustentáveis ​​possam entrar em ação.

Leia o novo relatório: “Infraestrutura Sustentável –A Onda Verde”

Novas tecnologias e a transição energética

Além disso, Mark Carney também enfatizou a necessidade de os bancos investirem em novas tecnologias.

Segundo ele, em um futuro previsível, serão necessários trilhões de libras de investimento todos os anos –e essa soma terá de vir dos bancos, simplesmente porque é lá que o dinheiro está.

Essas instituições financeiras serão “forçadas” a fornecer fundos para os negócios verdes, pois se continuarem financiando ativos não sustentáveis, esses ficarão encalhados. Ou seja, é preciso mudar.

O gás, aparentemente, já é considerado o novo carvão, e poderia representar até US$ 100 bilhões em ativos encalhados, de acordo com o Global Energy Monitor, organização de São Francisco, nos EUA, dedicada a promover a energia limpa.

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Metas de redução de emissões

Carney também destacou que os bancos agora devem submeter seus ativos aos testes de estresse do Banco da Inglaterra para ver como os empréstimos irão se comportar em 2030, quando o Reino Unido atingir sua meta de reduzir as emissões em 68% em relação aos níveis de 2005.

Já na Austrália, em uma postura bastante contrastante, o governo federal acaba de resgatar as duas refinarias de petróleo restantes do país com um pacote de US$ 1,8 bilhão até 2030.

O plano australiano inclui a mudança para uma gasolina com baixíssimo teor de enxofre. É uma pena que os bancos não tenham podido participar desse financiamento, mas, convenhamos, as refinarias não estão lá muito em alta entre os banqueiros.

Tecnologias para impulsionar o setor de energia renovável

O ex-governador do Banco da Inglaterra afirma que é preciso investir em novas tecnologias como a energia eólica offshore, e ressalta que já seria ótimo se apenas alguns desses negócios pudessem contar com a ajuda do setor bancário. Além disso, ele chama a atenção para outras áreas promissoras, como a de hidrogênio verde.

Mas e o prazo de 2030? Segundo Carney, será apertado.

Acelerar a produção de amônia a partir de hidrogênio, talvez. Mas o uso generalizado de hidrogênio verde, provavelmente ainda não ocorrerá a essa altura. E o mesmo pode ser dito para muitas novas tecnologias que não foram comprovadas e, portanto, por definição, não poderão ser financiadas.

Ao ser questionado se os bancos deveriam, então, apoiar empresas cujas atividades prejudicam o planeta, o atual consultor financeiro frisou que precisamos fazer a transição para o amanhã, para as indústrias do futuro.

Mas e hoje? Como fazer essa transição de forma realista?

Roteiro para carbono zero até 2050

A Agência Internacional de Energia (AIE), que costumava ser criticada por não levar a energia verde suficientemente a sério, agora já diz que para chegarmos ao carbono zero em 2050 precisamos agir o quanto antes. Ou seja, a janela é estreita, mas ainda seria possível.

E, dada a urgência, a entidade traçou um roteiro que exclui novos campos de gás, novas caldeiras de gás etc. Enfim, as novas tecnologias para a geração energética vão dominar o cenário.

“A maior parte das reduções globais nas emissões de CO2 entre agora e 2030 ocorrerá devido a tecnologias já disponíveis”, diz Mark Carney. “Mas, em 2050, quase metade das reduções virá de tecnologias que atualmente estão em fase de protótipo ou de demonstração.”

Aposentar o gás não é tão fácil quanto parece

Até aquí, tudo muito bem. No entanto, como a própria União Europeia (UE) descobriu recentemente, descartar o gás pode ser problemático.

A Comissão Europeia (EC, na sigla em inglês) havia planejado retirar as usinas movidas a gás de uma nova lista de investimentos sustentáveis, mas, no mês passado, teve de adiar a decisão após reclamações de alguns países membros e empresas. Uma série de grandes empresas de petróleo e gás fizeram lobby contra a regra, como já era de se esperar.

Apesar dos imperativos comerciais, o que realmente faz sentido para a sociedade como um todo?

Rumamos em direção a uma nova era de bancos (ou outro tipo de instituição financeira), mas subsidiando novas tecnologias na esperança de que funcionem? Seria algo semelhante a quando os sistemas ferroviários a vapor no Reino Unido foram substituídos pelos movidos à eletricidade de uma hora para outra? Ou devemos planejar com antecedência e estabelecer o que a transição realmente significa? É muito bom definir demandas, objetivos e ambições futuras, mas por que não ir avaliando-os passo a passo?

O gás desempenha um papel importante na matriz energética atual e deverá continuar assim nas próximas duas décadas.

Se isso gera problemas como vazamento de metano ou impede uma maior redução das emissões de carbono, é preciso incentivar pesquisas para resolver essas questões –e agora! Faça isso em paralelo ao trabalho de desenvolvimento e aceleração de novas tecnologias. Quem sabe aonde isso levará?

Suspeito que os avanços tecnológicos serão mais rápidos do que esperamos. Mas apostar nisso nesse momento não faz sentido. Aproveite o que você sabe. Afinal, sabíamos que os trens elétricos funcionavam.

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