A economia do Brasil entrou numa fase de estagnação que persistirá no próximo ano, à medida que a inflação implacável reduz os gastos do consumidor e as autoridades lutam para encontrar respostas à situação, mostrou uma pesquisa da Reuters.
Os riscos estão inclinados para o lado negativo, com uma potencial recaída em território de contração devido a preocupações com a prolongada ofensiva russa na Ucrânia, enquanto as tensões políticas também aumentam em casa antes da eleição presidencial de outubro.
Depois de se recuperar 4,6% em 2021 diante do impacto da pandemia de coronavírus, o Produto Interno Bruto brasileiro deve crescer apenas 0,5% neste ano e 1,5% em 2023, de acordo com a mediana das estimativas de 43 economistas consultados de 11 a 21 de abril.
Isso representa um rebaixamento em relação às estimativas já reduzidas de janeiro, de crescimento de 0,7% em 2022 e 2,0% no próximo ano. Os resultados da pesquisa de abril para 2022 também estão abaixo das projeções do governo e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“O impulso inesperado dos preços mais altos das commodities melhorou as perspectivas de curto prazo para a economia brasileira –as exportações atingiram um pico recorde e os investimentos devem aumentar”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.
“Mas nem tudo são boas notícias –a renda real das famílias será corroída pela inflação mais alta, e o banco central aumentará os juros ainda mais.”
Ambos os fatores devem permanecer desafiadores nos próximos meses.
Os preços ao consumidor subiram mais do que o esperado novamente em março, levando o aumento acumulado em 12 meses para 11,3%. Segundo a pesquisa, a inflação deve fechar este ano em uma taxa ainda elevada de 8,3% e desaceler para 4,4% em 2023.
Isso significa que, pelo segundo ano consecutivo, a meta do de inflação do Banco Central –de 3,5% para este ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou menos– será desrespeitada, apesar de a autarquia ter aumentado os juros para 11,75%, de 2,0% no ano passado. A expectativa é de que os juros sejam elevados para 13,25% neste trimestre.
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Deliberações Fiscais
A política fiscal também está num dilema, conforme o governo do presidente Jair Bolsonaro delibera sobre uma proposta de aumento salarial para atender às demandas de servidores públicos em greve que não inviabilize melhorias orçamentárias incipientes.
Investidores temem que Bolsonaro comece a aumentar os gastos para impulsionar sua popularidade e fortalecer suas chances nas eleições contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
Mas a margem de manobra fiscal é limitada, com expectativas de que a dívida do Brasil permaneça alta no horizonte previsível. Longe de ser um assunto abstrato, as preocupações orçamentárias são uma ameaça real à atividade, somando-se ao mal-estar atual.
O crescimento deve ter caído para 0,9% no primeiro trimestre, de 1,6% no final de 2021, e desacelerará ainda mais para pouco acima de zero em breve, mostrou a pesquisa. Os números oficiais do PIB de janeiro a março serão divulgados em 2 de junho.
“Enfrentando a incerteza eleitoral e uma guerra que está se intensificando, não descartamos uma queda na recessão no segundo semestre”, disse Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset.
As estimativas de crescimento do México foram cortadas mais do que as do Brasil, para 1,9% em 2022 e 2,1% em 2023, de 2,8% e 2,2%, respectivamente, mostrando o impacto negativo no poder de compra da maior taxa de inflação em mais de duas décadas.