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Economia brasileira está em “recuperação sem empregos” após salto da inflação

Gabriel Burin
Gabriel Burin
Polling correspondent for Latin America, Reuters

A economia do Brasil continuará vivenciando uma chamada “recuperação sem empregos” após o salto da inflação neste ano, enquanto as perspectivas de crescimento do México parecem melhores apesar de preocupações sobre o aperto da política monetária nos Estados Unidos, mostrou uma pesquisa da Reuters.

Superficialmente, as perspectivas macroeconômicas do Brasil estão melhorando, à medida que os consumidores dão de ombros para a pandemia de Covid-19, as empresas aproveitam a retomada de acordos de fusão e aquisição e o setor agrícola prospera com a forte demanda global.

No entanto, as melhoras recentes nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) doméstico contrastam com uma série de problemas. A alta da inflação, a principal preocupação hoje, provavelmente será seguida por um desemprego persistentemente alto no próximo ano, em que os brasileiros irão às urnas.

“Como a economia levará algum tempo para reabsorver trabalhadores e elevar o emprego novamente, continuamos esperando que o desemprego médio permanecerá em dois dígitos este ano, em 13,6%, e 13,6% em 2022”, escreveram analistas do Bank of America em um relatório.

“A alta do desemprego vai limitar a inflação do setor serviços, que representa quase 40% (do índice de preços geral)”. Os preços ao consumidor têm avançado este ano por conta da desvalorização do real e outros fatores, forçando o Banco Central a adotar uma postura bem “hawkish”, ou dura com as pressões inflacionárias.

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Na pesquisa da Reuters, a taxa média de desemprego do Brasil para 2021 foi projetada em um recorde de 14,2%, de acordo com a estimativa mediana de 20 economistas entrevistados de 5 a 13 de julho. Isso ocorreu apesar de um aumento significativo nas projeções do PIB.

Segundo amostra mais ampla de 40 entrevistados, a maior economia da América Latina deve apresentar expansão de 5,1% em 2021, bem acima dos 3,2% previstos na pesquisa de abril. As expectativas de inflação também subiram, para 6,5%, de 5,1% no último trimestre.

Muitos brasileiros viram seus empregos desaparecerem devido à pandemia. Críticos culpam as políticas do presidente Jair Bolsonaro. O governo aponta para outros dados que mostram sólida geração de empregos.

No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador parece em situação mais que seu colega brasileiro. Embora ambos enfrentem escândalos de corrupção, López Obrador está sob muito menos pressão.

Como no Brasil, a economia do México está voltando em melhores condições, com maior crescimento e inflação menor que a do Brasil. O PIB mexicano e os preços ao consumidor devem aumentar 5,9% e 5,1%, respectivamente, neste ano, ante previsões de 4,7% e 3,9% na pesquisa de abril.

Os mexicanos estão acompanhando de perto o plano do Federal Reserve para começar a reverter cautelosamente seu amplo estímulo para a economia. Até agora, ele tem sido bem recebido do outro lado da fronteira, em vez de ser visto como obstáculo para os fluxos de capital.

“Revisamos para cima nossa projeção de PIB para 2022 para 3,0%, ante 2,8%, impulsionada por uma melhor perspectiva de investimento”, escreveram analistas do BBVA México em um relatório. “Este impulso provavelmente permitirá que o emprego formal no setor privado atinja seu nível pré-pandemia no primeiro trimestre de 2022.”

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