Segundo recente pesquisa de opinião com deal makers internacionais, os ECM e DCM deverão seguir aquecidos nos próximos meses (a menos, claro, que a invasão da Ucrânia pela Rússia escale para algo ainda mais trágico, como uma guerra mundial).
- A “Deal Makers Sentiment Survey”, nova sondagem da Refinitiv com negociadores dos mercados de capitais de todo o mundo, aponta expectativa de crescimento global de 8% nos Debt Capital Markets (DCM) e Equity Capital Markets (ECM).
- Já para o mercado de M&A, que teve desempenho recorde em 2021, espera-se um salto de 10%.
- Entre os profissionais entrevistados, notamos uma clara mudança de foco, com maior atenção a fatores específicos das empresas participantes desses mercados em detrimento da situação macroeconômica –o que pode explicar a manutenção do viés positivo mesmo em tempos de guerra em solo europeu.
Os históricos níveis de aquecimento dos mercados de capitais globais que temos observado desde o início da pandemia, especialmente no segmento de crédito e de equities, deverão se manter nos próximos trimestres deste ano, de acordo com os participantes da mais recente edição da nossa “Deal Makers Sentiment Survey”.
Com os Debt Capital Markets (DCM) em um patamar superior aos US$ 300 bilhões a cada trimestre durante a maior parte da pandemia, nove em cada dez negociadores esperam que esse número sem precedentes de emissões persista (ou até seja superado) neste ano: a expectativa média é de um crescimento geral de 8,2% nos mercados de ações.
Os entrevistados da Ásia e das Américas mostram-se os mais otimistas. Para eles, o avanço médio dos ECM pode chegar a dois dígitos. Já mais de metade daqueles que se encontram na região EMEA parecem destoar do ânimo geral, descartando qualquer previsão de crescimento nos mercados de ações em 2022.
Altas expectativas em relação às SPACs
Assim como em 2021, os segmentos de IPOs (Initial Public Offering) e das SPACs (Special Purpose Acquisition Company) têm ganhado os holofotes neste ano.
E a expansão vertiginosa das SPACs no ano passado tem sido um frequente ponto de discussão entre os participantes dos mercados de dívida e de ações em todo o mundo. As opiniões sobre seus méritos e defeitos, no entanto, parecem variar bastante, mas, entre os deal makers que participaram de nossa pesquisa apenas uma minoria acredita que esse mercado seguirá aquecido nos próximos meses.
Forte otimismo sobre M&As na Américas
Os profissionais que atuam na área de fusões e aquisições corporativas estão extremamente confiantes em sua capacidade de realizar novos negócios: esperam uma taxa média de crescimento de quase 10% nos próximos trimestres. Esse índice seria ainda mais alto do que o recorde histórico estabelecido em 2021, de US$ 5,9 trilhões obtidos com 63.000 transações (um aumento de 64% em valor e de 24% em número de negócios em relação ao ano anterior).
Esse otimismo também se reflete nas empresas, pois observamos que apenas um quarto dos profissionais que atuam com M&A nas organizações não têm expectativa de realizar negócios em seu próprio setor nos próximos meses. Para as corporações, as principais motivações em relação a esses negócios dizem respeito a objetivos econômicos e retornos sobre investimentos, para compensar perdas, reduzir riscos ou aumentar volume de negócios.
No continente americano, os entrevistados apostam em um aquecimento maior nesse mercado, com previsão de taxa média de crescimento de 13% –mais do que o dobro das expectativas de expansão que vimos na região EMEA.
Eles creem, entretanto, que o aumento da atividade no segmento específico de aquisições seja pequeno, restrito a somente um dígito. A exceção seria o setor de tecnologia, que liderou consistentemente o ranking no ano passado e agora vem se expandindo de forma significativa, mais do que todos os outros.
Não houve grandes alterações na lista de setores que os deal makers acreditam que serão líderes em volumes de M&As. Mais uma vez, tecnologia, saúde, finanças e telecomunicações aparecem como favoritos (embora a taxa de crescimento prevista para o setor de saúde tenha caído de 8% em 2021 para 5% neste ano).
Vale dizer que é surpreendente que esse panorama positivo se mantenha enquanto os profissionais de M&A se veem às voltas com uma lista crescente de preocupações, que abrange desde a proliferação das SPACs até a manutenção (para boa parte deles) do trabalho remoto.
Uma pausa nos mercados de dívida
As emissão global de dívida, que atualmente já está em mais de US$ 10 trilhões, deverá aumentar 8,6% até o final do ano, segundo o “Deal Sentiment Survey 2022”. E o prognóstico se mantém apesar do notável declínio na atividade desse mercado no segundo semestre de 2021 e de um ambiente de elevação de taxas de juros.
Assim como observamos nos ECM, os participantes do DCM nas Américas e na Ásia são os mais otimistas, com previsões de crescimento de dois dígitos. Mas, em contraste com os mercados de ações, os profissionais da região EMEA também demonstram sentimento positivo, com a grande maioria (95%) dos entrevistados esperando que a emissão de dívida se mantenha nos níveis historicamente altos de 2021.
Para a maioria dos participantes da pesquisa, finanças sustentáveis são de grande importância quando se trata de levantar capital. Além disso, eles consideram as taxas de juros e a capacidade de serviço da dívida como fatores decisivos para os próximos trimestres.
Já a parcela de entrevistados que estão preocupados com a ameaça de recessão ou desaceleração econômica foi menor do que em anos anteriores, mas os fatores econômicos e financeiros continuam sendo fundamentais.
Poucos profissionais mencionaram a Covid-19 ou mesmo vacinas. Em vez disso, eles se concentram em fatores específicos das companhias, como liquidez e necessidade de capital; ou questões temáticas, como os prós e contras de títulos e ESG.