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Fed complica planos de bancos centrais de mercados emergentes sobre juros

Marc Jones
Marc Jones
Specialist markets correspondent, Reuters

Depois de se anteciparem ao Fed e outros importantes bancos centrais quando se tratou de aumentar as taxas de juros, partes do mundo em desenvolvimento deverão ser os primeiros novamente em cortá-las, embora o timing agora pareça cada vez mais incerto.

Enquanto os Estados Unidos ameaçam subir seus custos de empréstimos para até 6%, economistas observam o que acontece nos países emergentes, que elevaram os juros mais rápido e mais longe do que os demais.

As expectativas do mercado financeiro compiladas pelo JPMorgan, por exemplo, apontam que a Hungria e o Chile –que subiram os custos de empréstimos em mais de 12 e quase 11 pontos percentuais, respectivamente, nos últimos dois anos– iniciarão grandes ciclos de flexibilização já neste mês.

A Polônia e o Peru também podem mudar a abordagem de sua política monetária até junho, seguidos pela República Tcheca, Colômbia e Brasil no terceiro trimestre e possivelmente Índia, México e África do Sul no final do ano ou início de 2024.

“Eu acho que isso (uma onda de flexibilização) está chegando, mas pode não estar chegando tão cedo como mercado esperava”, disse Guido Chamero, administrador do portfólio Pictet. “É muito difícil ir muito antes do Fed.”

Embora os cortes nas taxas de juros possam sinalizar a deterioração econômica no mundo em desenvolvimento, eles podem trazer alívio para investidores que regularmente perdem dinheiro com a dívida em moeda local dos mercados emergentes desde o chamado “taper tantrum” –desencadeado pelas indicações de retirada de estímulos do Fed– uma década atrás.

O chefe de dívida de mercados emergentes da Mirabaud, Daniel Moreno, explicou que os cortes nos juros tendem a elevar os preços dos títulos de mercados emergentes, à medida que compradores tentam comprá-los antes que as taxas de juros que eles oferecem caiam.

Entre 2013 e 2015, após o “taper tantrum” e depois da primeira invasão da Ucrânia pela Rússia, a dívida local dos mercados emergentes perdeu quase 27% no total.

A dívida local dos mercados emergentes também perdeu quase 12% no ano passado, quando a inflação global, as taxas de juros e o dólar subiram no contexto da invasão da Rússia à Ucrânia e enquanto o mundo se recuperava da Covid-19

Os analistas da BofA apontaram que houve um número impressionante de 167 altas de taxas no ano passado, o que dá uma média de uma em cada 1,5 dia de mercados financeiros abertos.

“A recuperação no mercado é geralmente mais forte onde as quedas foram as maiores”, disse Moreno, da Mirabaud, acrescentando que a dívida de moeda local da Hungria, que ainda oferece juros de 15%, despencou 27,5% no ano passado.

Este ano, a dívida da Hungria recuperou quase 8% e os preços do mercado apontam para uma redução impressionante de 6 pontos percentuais nas taxas do banco central nos próximos 12 meses. O Brasil precifica um corte de 1,25 ponto percentual, o Chile de 3,5 pontos percentuais e a Polônia e a República Tcheca em torno de 1 ponto percentual.

À Frente do Fed

Apesar de juros de 6% nos EUA agora parecerem possíveis, o chefe de pesquisa da Oxford Economics, Gabriel Sterne, fez uma análise em que sugeriu que os bancos centrais dos mercados emergentes continuarão com “guinadas” de política monetária, desde que as taxas de inflação doméstica estejam suficientemente em queda.

Quase um terço dos mercados emergentes lançou ciclos de corte de juros 12 meses antes das últimas sete “guinadas” do Fed desde 1980, mostram seus dados, e nas últimas duas décadas não houve casos em que um grande mercado emergente foi forçado a reverter rapidamente um corte nos custos de empréstimos.

“São as condições domésticas que realmente determinarão o que os bancos centrais farão”, disse Sterne. “Eles não hesitarão porque o Fed ainda não deu sua guinada.”

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