Nesta COP 27 da ONU, realizada há poucas semanas no Egito, um dos temas mais discutidos foram maneiras de se financiar a transição industrial global. Agora, espera-se que o entusiasmo dê lugar a uma série de inovações na emissão de dívida com rótulo ESG, preparando o cenário para abordarmos na próxima COP28, nos Emirados Árabes Unidos, a complicada situação do Oriente Médio em relação a essa transição.
- Com o fim da COP27 da ONU, apelidada de “COP da implementação”, agora é hora de realmente focarmos nas finanças e na transição industrial.
- Estima-se que sejam necessários até US$ 100 trilhões para que o mundo cumpra o Acordo de Paris.
- Acredita-se que serão os países –e não as corporações— os maiores responsáveis pela transição verde.
Esta COP27 da ONU, realizada durante o mês de novembro no Egito, foi anunciada como a “COP da implementação”, e no encontro discutiu-se profundamente como financiar a transição industrial do planeta e colocar no mercado alguns negócios considerados bem complicados, já que são de setores notórios por sua alta emissão de CO2.
“No Egito, a conversa foi mais sobre transição e construção rumo a COP 28, em Abu Dhabi. Para a edição do próximo ano, há muita expectativa sobre como podemos ajudar o Oriente Médio a fazer parte da transição de uma maneira realmente significativa”, disse Anjuli Pandit, chefe de títulos sustentáveis para EMEA e Américas do HSBC.
Em direção aos objetivos do Acordo de Paris
Segundo diversos estudos internacionais, são necessários US$ 100 trilhões para –digamos—“esverdear” a reserva de capital mundial e cumprir com as metas do Acordo de Paris, limitando, assim, o aquecimento global a dois graus Celsius (ou menos).
Cerca de US$ 20 trilhões são para ativos que podem precisar ser descartados ou adaptados para evitar que fiquem ociosos, de acordo com pesquisa da BNY Mellon Investment Management.
“Podemos dizer que o financiamento esteve muito presente nesta COP. Em todas as sessões do evento, vimos representantes de ministérios da economia da maioria dos países e profissionais da área de finanças. O financiamento da transição industrial foi uma parte fundamental da agenda. E eu vejo isso como um amadurecimento da situação. As discussões passaram de ‘precisamos fazer isso’ para ‘é assim que fazemos’, mas as opções e os caminhos da transição são difíceis”, disse Sean Kidney, diretor executivo da Climate Bonds Initiative.
Alguns dos maiores desenvolvimentos nesse sentido estão sendo liderados pela comunidade global de nações, onde cada país tem a oportunidade de compartilhar informações sobre como posicionar o financiamento ESG a partir de sua própria perspectiva e como ter esse diálogo com o mercado.
Em muitos casos, no entanto, também é preciso superar desafios aparentemente incompatíveis com a transição verde, que é o que ocorre em países com economias altamente dependente de combustíveis fósseis, como os do Oriente Médio.
Títulos vinculados à sustentabilidade
A presença do Chile e do Uruguai, que concluíram recentemente uma significativa emissão de títulos vinculados à sustentabilidade (SLBs), teve um efeito estimulante sobre os participantes da COP27 que atuam na área de gestão de dívida soberana. Isso porque eles se sentiram encorajados a dar mais atenção a uma variedade de instrumentos que antes costumavam deixar de lado, como títulos vinculados à sustentabilidade (SLBs) e os chamados swaps de dívida por natureza (debt-for-nature swaps).
Em setembro deste ano, inclusive, a Associação Internacional do Mercado de Capitais (ICMA), a Iniciativa Títulos Climáticos (CBI), bancos de desenvolvimento e ONGs lançaram um centro global de dívida soberana vinculado à sustentabilidade. Com a iniciativa –que envolve a injeção de recursos relacionados à natureza e ao clima, incluindo aqueles referentes à biodiversidade e às emissões de CO2—, essas entidades esperam acelerar o desenvolvimento de SLBs soberanos.
Oriente Médio: situação delicada
O Oriente Médio é uma das regiões em que as finanças sustentáveis mais crescem, mas esse assunto tem sido deixado de lado devido a preocupações com greenwashing e a dependência da região de dinheiro proveniente de combustíveis fósseis.
Essas sensibilidades foram ainda mais agravadas depois que o Grupo de Especialistas de Alto Nível da ONU afirmou durante a COP27 que a contínua expansão de combustíveis fósseis é incompatível com o alcance de metas net zero, e que, em 2023, esta questão deve estar no topo da agenda de emissores, investidores e bancos.
“Isso claramente nos alerta a respeito de financiar novos empreendimentos relacionados a combustíveis fósseis em regiões em que as emissões já são altas. Teremos que nos posicionar, e é difícil”, disse Jean-Philippe Desmartin, chefe de investimento responsável da Edmond de Rothschild Asset Management.
Este artigo foi escrito por Tessa Walsh.