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Fusões e aquisições internacionais decolam no terceiro trimestre

Lucille Jones
Lucille Jones
Analyst, Deals Intelligence

Após o gargalo que se formou na primeira metade de 2021 no setor de fusões e aquisições internacionais, com um grande número de negócios à espera de conclusão, o terceiro trimestre deste ano deu vazão à maior quantidade de M&A globais em todos os tempos, com transações no valor de US$ 1,6 trilhão.


  1. Após um primeiro semestre marcado pela lentidão nos negócios, o terceiro trimestre do ano foi responsável pelo maior recorde já visto no setor de M&A, com o número de fusões e aquisições internacionais crescendo 93%.
  2. Os EUA foram responsáveis pelo maior número de investimentos e o principal destino para M&A. O país respondeu por 38% de todas as transações internacionais do setor em 2021.
  3. Com a recuperação da crise econômica trazida pela pandemia e a redução da incerteza sobre o Brexit, o Reino Unido registrou aumento de 250% no interesse de estrangeiros por M&A e ficou com o segundo lugar.

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As fusões e aquisições internacionais aumentaram 98% até o final de setembro deste ano, alcançando US$ 1,6 trilhão, o maior valor já visto desde que foram iniciados os registros, em 1980.

Esse desempenho torna-se ainda mais notável se levarmos em conta a impressionante lentidão dos primeiros seis meses de 2021, o pior semestre para negócios internacionais no setor de M&A desde 2013.

A maior parte das atividades na área ocorreu durante os meses de verão do hemisfério norte, transformando o terceiro trimestre do ano no melhor período de todos os tempos.

Fusões e aquisições transfronteiriças concentradas na Anglosfera

As transações internacionais responderam por 36% das M&A globais em 2021, e os compradores dos Estados Unidos ficaram na dianteira das aquisições, com 37% de participação nos negócios.

Mas toda a Anglosfera esteve na liderança do mercado de aquisições externas (outbound): EUA, Austrália, Canadá e Reino Unido ocuparam as quatro primeiras posições na tabela de classificação.

Os EUA também foram o destino mais popular para esse tipo de negócio, movimentando um valor total de US$ 356 bilhões e sendo responsáveis por 22% da atividade global do segmento internacional de M&A. Entre as principais operações estão a venda da unidade de leasing de aviões da General Electric para a Irish AerCap (por US$ 31 bilhões) e a oferta de US$ 32 bilhões da Canadian Pacific Railway pela Kansas City Southern.

Do outro lado do Atlântico, o Reino Unido conseguiu espantar o pessimismo sobre sua economia após a saída da UE para se tornar o segundo destino mais popular para M&A.

As aquisições de empresas do Reino Unido por estrangeiros saltaram 250% em relação ao ano anterior, atingindo o maior nível da história. Os compradores estrangeiros foram responsáveis por 83% de todas as fusões e aquisições no Reino Unido –a maior participação desse segmento em seis anos. Esse movimento foi deflagrado pela recuperação econômica mais rápida do que o esperado após a Covid-19, além da redução das incertezas sobre o Brexit.

As negociações incluíram a oferta de US$ 25 bilhões da DraftKings pela Entain Plc; a aquisição da rede de supermercados WM Morrison pela empresa de private equity CD&R (por US$ 13,6 bilhões); e os US$ 9,8 bilhões que a Parker-Hannifin pagou pela empresa de engenheira aeroespacial e de defesa Meggitt Plc.

O que está por trás dessa onda de negócios?

O aumento sem precedentes do número de operações internacionais que vimos a partir de julho é resultado de uma confluência de fatores. Mas pode-se dizer que o principal deles foi a vazão para uma demanda reprimida que vimos no verão do hemisfério norte, conforme a confiança retornava às diretorias corporativas com a diminuição das restrições econômicas impostas pela pandemia.

Além disso, as taxas de juros permanecem baixas e alguns analistas começam a alertar para o aumento das pressões inflacionárias.

Acredita-se que questões estratégicas também tenham gerado um maior interesse por aquisições estrangeiras, incluindo preocupações em torno da segurança das cadeias de abastecimento e a perspectiva de regulamentação protecionista. O National Security & Investment Act do Reino Unido, por exemplo, entrará em vigor em janeiro de 2022.

Há ainda impulsionadores estruturais da atividade, como a grande quantidade de investimentos em fundos de private equity, que permaneceram praticamente intocados em 2020.

Enquanto isso, o fenômeno das Empresas de Aquisição de Propósito Específico (SPACs, na sigla em inglês) dos EUA começou a se espalhar para o exterior. Entre esses negócios estão a compra da Grab Holdings pela Altimeter Growth por US$ 31 bilhões e a incoporação do Grupo eToro pela Fintech Acquisition Corp por US$ 10 bilhões.

As SPACs respondem por 11% da atividade no setor de M&A internacionais neste ano (ante 1% em 2020).