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Governos da América Latina despertam para a emissão de Títulos Vinculados à Sustentabilidade

Países latino americanos parecem estar finalmente aderindo à onda global de Títulos Vinculados à Sustentabilidade (SLBs), e é bem provável que alguns deles adotem a inovadora estrutura bidirecional de preços do Uruguai, que implica na redução do cupom do título como incentivo à melhoria ambiental, e na sua elevação como penalidade para o baixo desempenho.


Este artigo foi produzido pela IFR e publicado originalmente em www.IFRe.com

 

  1. O bem-sucedido exemplo do Uruguai com a emissão de Títulos Vinculados à Sustentabilidade (Sustainability-Linked Bonds, ou SLBs) está incentivando outros países da América Latina a seguir no mesmo caminho.
  2. Conectar as estruturas financeiras às metas climáticas de cada país –também conhecidas como Contribuição Nacionalmente Determinada, ou NDCs— pode acelerar a redução geral de emissões.
  3. Os países da América Latina já estão inovando com outros tipos de produtos financeiros sustentáveis, como os blue bonds, que são títulos de dívida com foco na preservação dos oceanos e rios e no financiamento de projetos que promovam a chamada “economia azul”.

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O sucesso do Uruguai com sua emissão de US$ 1,5 bilhão em Títulos Vinculados à Sustentabilidade (SLBs) estabeleceu um precedente para que outros países da região tenham iniciativas semelhantes, atendendo à atual demanda dos investidores que, cada vez mais, estão convencidos de que um desempenho ambiental superior pode significar menor risco de crédito.

“A liderança uruguaia deve inspirar outros governos da América Latina a entrar no mercado de SLBs, e alguns podem adotar uma abordagem semelhante, com um mecanismo de step-up e step-down no cupom do título”, disse Romina Reversi, chefe da divisão de investimento sustentável para as Américas no Credit Agricole.

Conectar uma estrutura de financiamento às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países –que detalham os esforços de cada nação para reduzir as emissões nacionais para atender às metas do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas – é uma forma de acelerar o corte de emissões globais, já que o mundo está extremamente atrasado nesse movimento.

A carteira de pedidos do Uruguai (de US$ 3,96 bilhões) despertou o interesse de 188 contas globais, incluindo quarenta novos credores, o que resultou em um spread final de 170 pontos-base. Isso representou um incrível “prêmio verde” de 20 pb sobre a curva soberana do país no mercado secundário.

O Uruguai ainda destacou que o negócio gerou demanda adicional de investidores ESG e ajudou a aumentar a visibilidade da estratégia climática do país. Espera-se também que a iniciativa contribua para fornecer melhor acesso a outros instrumentos internacionais de financiamento climático, essenciais para a transição para uma economia de baixo carbono.

“Além do próprio mecanismo financeiro, também foi gratificante ver que muitos investidores valorizam a determinação do país de transformar suas metas de Contribuição Nacionalmente Determinadas (NDCs) em compromissos financeiramente vinculativos, o que é um grande salto para um país de mercado emergente”, observou Herman Kamil, chefe de gestão da dívida soberana no Ministério da Economia e Finanças do Uruguai.

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Quais serão os próximos países a oferecer SLBs?

Na América Latina, acredita-se que o Chile possa ser um dos próximos a emitir SLBs com precificação bidirecional. Isso porque o país andino tem se aproximado cada vez mais das finanças sustentáveis –seja por meio de títulos verdes, sociais ou de sustentabilidade— e, inclusive, montou sua primeira oferta de SLBs soberanos em março passado.

O México, por outro lado, provavelmente não seguirá essa linha. O governo mexicano vê os SLBs como mais apropriados para os emissores corporativos do país e deve se concentrar na criação de referências sustentáveis ​​para mais emissores mexicanos.

A região latino-americana também tem inovado em outros formatos (soberanos) de uso de recursos, como os blue bonds. Em setembro, Barbados se tornou o terceiro país (após Seychelles e Belize) a levantar capital para proteger os oceanos.

Por que os KPIs são essenciais?

Para que a precificação bidirecional seja bem sucedida em um contexto soberano (e além), a escolha dos KPIs é de extrema importância –particularmente em relação ao step-down, já que os investidores não estão dispostos a financiar objetivos fáceis.

“Se o governo de um país ou uma corporação surgir no mercado propondo uma estrutura de step-up e step-down, mas o step-down não for considerado ambicioso o suficiente, esse mecanismo enfrentará grande resistência”, disse Romina Reversi.

Os dois KPIs do Uruguai –reduzir as emissões de gases de efeito estufa e manter o tamanho de sua área de floresta nativa –tinham duas metas de desempenho de sustentabilidade para cada um, e somente serão reduzidos se o país superar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)

E, como lembrou Herman Kamil, o segundo KPI, relativo a manter o tamanho de suas florestas, “ressoou fortemente com as contas, pois a conservação do capital natural e a proteção da biodiversidade são cada vez mais importantes para deter as mudanças climáticas”.

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Este artigo foi escrito por Tessa Walsh e Jo Bruni