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Há luz no fim do túnel para a economia brasileira?

Em mais um episódio de Corona Correction –série da Refinitiv sobre as perspectivas para a crise econômica global—, Daniel Buttino, nosso senior account director, conversou com Roger Hirst, co-head of content do Real Vision Group, sobre os impactos da pandemia para o país.


Após a Covid-19 ter provocado um tombo de quase 50% no mercado acionário brasileiro e atrasado os planos de reforma do governo, a pergunta que não quer calar é: o quanto isso, de fato, atrasou o Brasil?

No 36º episódio de “Corona Correction”, série especial sobre os efeitos da pandemia nos mercados financeiros globais, o apresentador Roger Hirst ouviu as impressões e prognósticos de Daniel Buttino para a economia local. Confira a seguir os principais pontos abordados pelo senior account director da Refinitiv.

Elemento chave: dívida pública

“A economia local esteve em recessão de 2014 a 2017, seguida por uma lenta recuperação em 2018 e 2019. Um elemento chave é a dívida do Brasil, que representa cerca de 88% do PIB. Essa proporção é muito alta, se comparada aos seus pares na América Latina, ou a outras nações dos BRICS. Além disso, o governo teve que implementar uma combinação de medidas econômicas para combater a Covid-19, o que deve somar 3% a essa equação. Então, um primeiro ângulo pelo qual podemos analisar a situação é: temos um país se recuperando lentamente de uma recessão de anos anteriores, com uma alta dívida pública e, agora, seriamente impactado pela Covid-19.”

Aprovação das reformas econômicas

“Para enfrentar esses desafios fiscais desde o início do mandato, em 2019, o governo Bolsonaro tem se concentrado em fazer algumas reformas econômicas estruturais, como a da previdência, aprovada em outubro de 2019. O principal ponto aqui é que, para ter sucesso nessas reformas, você precisa do apoio do Congresso. E o que temos visto em 2020 é uma situação política muito diferente com a pandemia. Esses acordos e a abordagem geral do coronavírus no Brasil levaram a um forte aumento da oposição ao atual governo. E acredito ser justo dizer que estamos tendo uma turbulência política no momento no país. Com isso em mente, é possível imaginar que a aprovação de reformas econômicas adicionais não será simples.”

Corte na taxa de juros

“O principal instrumento que o banco central vem utilizando para tentar estimular a economia é a política monetária. De meados de 2019 até agora, a taxa de juros de referência foi reduzida de 6,5% para 2,25%, uma forte queda no intervalo de um ano. A taxa atual, por sinal, é a mais baixa da série histórica no Brasil. Além disso, o banco central deixou em aberto a possibilidade de um corte adicional em sua revisão de julho. Obviamente, além do cenário de redução dos juros, as incertezas que a Covid-19 trouxe aos mercados fizeram com que uma quantidade significativa de capital saísse do Brasil. Consequentemente, houve uma grande desvalorização do real, cerca de 30% no acumulado do ano em relação ao dólar norte-americano.”

Commodities agrícolas: janela de oportunidade

“Em todos os contextos, no entanto, há muitas oportunidades para as quais podemos olhar, especialmente no caso do Brasil, que é grande e diversificado. Um dos lados positivos que eu destacaria são os produtos agrícolas brasileiros. As commodities agrícolas representam 21% do PIB e aproximadamente 50% de todas as exportações do país. A baixa atividade econômica em todo o mundo fez com que os preços das commodities caíssem e, com a queda nos fluxos, o preço do frete também foi impactado. No momento, vemos essa baixa histórica nas taxas de frete. A China já é o principal parceiro comercial do Brasil, recebendo cerca de 23% de todas as nossas exportações. Então, quando pensamos nesse cenário –que envolve preços baixos de commodities, taxas de remessa reduzidas, um BRL desvalorizado (o que é favorável para os exportadores) e a China comprando menos desses produtos dos EUA devido às guerras comerciais—, nos deparamos com uma grande janela de oportunidade para o Brasil. Os agentes locais no setor de commodities, inclusive, já estão notando uma demanda muito mais forte por esses produtos agrícolas. E eu destacaria o principal, a soja”.

Assista a entrevista na integra abaixo