Neste novo post, Rod Morrison, editor do Project Finance International (PFI), analisa o papel de projetos movidos a hidrogênio azul e verde na construção de uma economia global de baixo carbono.
Este artigo foi publicado originalmente no PFI, em 23 de março de 2021
- Temos visto uma explosão no número de projetos envolvendo hidrogênio azul e verde. Iniciativas de grande porte estão sendo anunciadas quase diariamente ao redor do globo.
- O hidrogênio nos ajudará a acelerar o passo em direção a uma economia livre de carbono.
- Mas, como muitas dessas iniciativas só se concretizarão daqui a algum tempo, o que podemos fazer agora? Bem, há uma série de projetos interessantes tomando forma em um prazo mais curto e que podem atrair financiamentos.
Nesta semana, fiquei impressionado com um artigo que saiu na imprensa indiana sobre os planos da companhia Acme Solar, de energias renováveis, de desenvolver um projeto de hidrogênio verde e amônia de US$ 2,5 bilhões em parceria com a Oman Company for the Development of the Special Economic Zone (Tatweer), em Duqm.
Isso me fez lembrar de como a Índia conseguiu obter fertilizante do Golfo na época pré transição energética. Empresas indianas apoiadas pelo estado financiaram esquemas de fertilização em Omã e na Jordânia –por meio da Oman-India Fertilizer Company (Omifco) a partir de 2002, e da Jordan-India Fertilizer Company (JIFCO) de 2011 em diante.
A Índia sempre teve laços particularmente estreitos com Omã e, mesmo no mundo dos negócios totalmente diferente de hoje em dia, essa proximidade permanece.
Óbvio que a Acme Solar não é uma entidade estatal em busca de garantir fertilizantes, mas uma grande empresa que construiu o maior portfólio de energia solar (3GW) em casa e agora está olhando para o exterior. E, faz questão de explicar, escolheu Omã para o seu primeiro projeto comercial de amônia verde em grande escala devido à localização estratégica, apoio recebido de órgãos governamentais e a alta irradiação solar no país.
Megaprojetos de hidrogênio verde
O hidrogênio verde é produzido pela divisão da água em hidrogênio e oxigênio por meio de um eletrolisador, processo alimentado por eletricidade gerada a partir de fontes de energia limpa, como eólica e solar. Em seguida, o hidrogênio é misturado com nitrogênio para formar amônia.
A Acme, que espera produzir 2.200 toneladas de amônia por dia, já está desenvolvendo um esquema piloto em Rajasthan.
Como muitas das iniciativas relacionadas a hidrogênio, essa de Duqm parece bem ambiciosa, sobretudo pelos US$ 2,5 bilhões envolvidos.
É claro que megaprojetos levam algum tempo para serem desenvolvidos –e esse da Omifco demorou anos, mesmo com o apoio direto de dois importantes países—, mas aqueles com uma lógica industrial definida são os que merecem a nossa atenção no momento.
Em Teesside, no Reino Unido, a BP, organização com uma longa história em financiamento de projetos, acaba de anunciar a criação da H2Teesside.
Ela deverá ser a maior usina de hidrogênio do Reino Unido até 2030, com capacidade de produzir 1GW de hidrogênio azul. Isso representa cerca de um quinto da meta de 5GW de capacidade de hidrogênio estabelecida para o Reino Unido até o final da década.
O hidrogênio azul é obtido por meio da conversão de gás natural em hidrogênio e do armazenamento das emissões de CO2 de sua produção.
De fato, muita coisa pode ocorrer até 2030 (ou mesmo 2027, ano em que a construção deve ser iniciada) e é difícil que esse projeto não acabe evoluindo para alguma outra coisa nesse meio tempo.
Apenas o começo
A H2Teesside será associada ao Net Zero Teesside (NZT), rede que está sendo planejada para captura e armazenamento de carbono (CCUS).
O hidrogênio fornecido poderá ser usado, por exemplo, para o aquecimento de residências da região ou até mesmo para o sistema de transporte.
Tive acesso às principais ideias do governo sobre o modelo de negócios do NZT, e posso dizer que há ainda muitas lacunas a serem preenchidas, sobretudo em relação ao financiamento.
Ótimo que todo esse trabalho esteja começando, mas isso é apenas o “começo do começo”.
Explosão na América Latina
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a Fortescue Metals da Austrália (por meio da afiliada Fortescue Future Industries, ou FFI) e a brasileira Prumo Logistica (por meio da afiliada Porto do Açu Operacoes) assinaram um memorando de entendimento (MoU) para avaliar a oportunidade de desenvolver projetos industriais verdes baseados em hidrogênio no porto.
Porto do Açu é outro nome conhecido nos círculos de financiamento devido à construção de seu 3GW LNG, cuja primeira fase de 1,3 GW foi bancada em 2018 por uma equipe liderada pela Prumo Logística, BP e Siemens.
O novo empreendimento prevê a construção de uma planta de hidrogênio verde com capacidade de 300 MW, capaz de produzir 250.000 toneladas métricas de amônia verde por ano. O memorando de entendimento (MoU) estabelece as bases para iniciativas relacionadas a energia solar no local e a construções eólicas offshore, nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Aqui também, a empreitada depende de obtenção de financiamento.
A América Latina parece ser hoje um hub para projetos de hidrogênio, e o Chile surge em posição de destaque.
Como destacou recentemente a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), à medida que a demanda por hidrogênio de baixo carbono aumenta em todo o mundo, esta é uma oportunidade para a América Latina exportar o combustível a custos imbatíveis, já que a região conta com alta irradiação solar e ventos fortes.
Para que isso seja possível, no entanto, esse novo mercado global para o hidrogênio ainda precisa se consolidar; pelo menos com a amônia, o mercado já está aí.
Do outro lado do Atlântico, outra região bem posicionada são os primos da América Latina, Espanha e Portugal. A energia solar ibérica barata poderia atender às necessidades de hidrogênio da Europa, mas isso é para quando essa demanda realmente aumentar.
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