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Incertezas do mercado de gás europeu

Wayne Bryan
Wayne Bryan
Director, European Gas Research, Refinitiv

Para o setor de gás europeu, este próximo ano –que, seguindo a tradição, teve início em outubro—, deverá ser dominado por duas grandes incertezas: desafios climáticos e problemas de abastecimento.


  1. O “ano do gás” de 2021 –período que se estendeu de outubro de 2021 a outubro de 2022— foi marcado por uma volatilidade sem precedentes nos preços na Europa, mas vários países acabaram intervindo para mitigar o déficit de abastecimento provocado pela Rússia.
  2. No entanto, ainda permanecem algumas dúvidas sobre como essa oferta extra pode ser assimilada.
  3. O consumo (e, portanto, o custo) de gás natural na Europa também deverá ser definido pelo clima. Por enquanto, as previsões de curto prazo são de temperaturas relativamente amenas, mas isso sempre pode mudar.

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Neste post, apresentamos diversos fatores que podem impactar os preços do gás natural neste “ano de 2022” (que vai até outubro de 2023). Vale dizer, contudo, que a guerra na Ucrânia tem feito com que desafios na cadeia de suprimentos e o clima sejam hoje considerados predominantes na cotação do gás nos próximos meses.

Impulsionadores do preço do gás

Fatores que podem provocar queda das cotações

  • Inverno ameno nas bacias do Atlântico e do Pacífico.
  • Aumento considerável das remessas de GNL e da capacidade de regaseificação em todo o Noroeste da Europa.
  • Se a campanha europeia pela redução de consumo surtir efeito, pode haver uma queda mais forte do que prevista no consumo da Local Distribution Zone (LDZ), termo que se refere à quantidade total de gás utilizada pelos consumidores ligados às redes de distribuição.
  • Queda acentuada da demanda industrial, em linha com a crescente fraqueza econômica e alta pressão inflacionária globais.
  • Manutenção da produção norueguesa em nível máximo neste inverno.

Fatores que podem fazer com que os preços se mantenham altos

  • Incapacidade de armazenamento de gás, especialmente se a Europa passar por um prolongado período com temperaturas abaixo do normal.
  • Elevação na demanda de gás para geração de energia.
  • Incertezas sobre a geração nuclear francesa e baixo equilíbrio hídrico no Noroeste da Europa.
  • Interrupções significativas na produção da Noruega e do Reino Unido.
  • Danos à infraestrutura de gás europeia.
  • Menor geração de energia renovável (especialmente devido à queda da velocidade do vento na Alemanha). Devemos lembrar que a intermitência da geração de energias renováveis ​​transforma-se em um grande risco em “mercados apertados” como este.
  • Interrupção das exportações de GNL dos EUA.
  • Declínio na produção e subsequente corte dos suprimentos de gás de Groningen.
  • Recuperação da economia chinesa (o que pode levar ao crescimento na demanda de GNL).
  • Cessação dos fluxos russos via Velke Kapusany.

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O Noroeste da Europa está começando um novo “ano do gás” sem que o fornecimento russo esteja normalizado. Apesar desse fato, no entanto, os estoques encontram-se relativamente saudáveis: em 1º de outubro, o armazenamento europeu chegava aos 88% (bem acima da meta de 80% para 1º de novembro), e agora estão em 94%, a caminho de ultrapassar a meta mínima de 85% para o final do ano.

O verão europeu de 2022 –que marcou o fim do “ano do gás 2021/2022– foi o mais volátil já observado nos mercados de energia da Europa, na esteira de uma longa sucessão de eventos que fez com que os preços disparassem. A exigência russa de pagamento em rublos, interrupção do fluxo que passava pela Ucrânia, problemas nas turbinas da estação de compressão de Portovoya e explosões inexplicáveis ​​nos dutos Nord Stream 1 e 2 afetaram o fornecimento e aumentaram o grau de volatilidade.

Fornecimento de gás

Catar, Nigéria, Noruega e Estados Unidos intensificaram (de forma sem precedentes) o fornecimento de gás natural para o Noroeste da Europa, cujo transporte contribuiu para altos níveis de reservas em muitos países do continente. Além disso, China, Índia e Paquistão consumiram muito menos gás natural do que o previsto devido aos preços elevados e à demanda doméstica mais fraca, o que exacerbou a queda na demanda global.

Segundo nossas previsões, o Noroeste da Europa deverá importar mais 18 bilhões de metros cúbicos (bcm) de gás natural este ano. Diante desse panorama, a principal dúvida é se a Europa poderá acomodar rápida e facilmente esse grande aumento nas importações e se algum problema na cadeia de suprimentos poderá interromper o fluxo. Por exemplo, a Noruega, que elevou seu fornecimento de gás natural, tem obras de engenharia programadas para o verão de 2023, o que certamente afetará o fornecimento; e a Holanda tem apresentado um constante declínio em suas entregas de gás.

Tempo

O outono com temperaturas amenas na Europa veio acompanhado, até agora, por um abrandamento dos preços.

Principais mercados globais de gás

Previsão de 45 dias para o Noroeste da Europa exibindo o consumo na LDZ (doméstico).

O maior desafio, no entanto, são os preços de longo prazo durante o inverno. Nossa previsão de demanda para este inverno é baseada na média do clima dos últimos vinte anos. Ele sugere que o consumo total no Noroeste da Europa (NOVO) estará em linha com o ano passado. Também levamos em consideração que a interrupção da demanda industrial que vem sendo observada nos últimos meses permanecerá no horizonte.

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Previsão

Com essas incertezas em mente, delineamos um cenário base para o período que vai do inverno de 2022 (WIN22) ao verão de 2024 (SUM24). Fizemos isso tentando avaliar qual seria o nível de oferta e de demanda e o que isso significaria em termos de armazenamento e de interrupções de demanda.

  • Nossa previsão para o fornecimento total de GNL para o Noroeste da Europa, incluindo o Reino Unido, é de 52 bcm durante o WIN22 –aumento de 18 bcm no inverno, com os EUA respondendo pela maior parte disso.
  • A competição com os mercados asiáticos será acirrada, principalmente se observarmos um ressurgimento da demanda chinesa e/ou um inverno mais frio do que a média na Bacia do Pacífico.
  • A capacidade da Europa de mudar seu nível de demanda e reduzir o consumo de gás será fundamental no próximo inverno e no verão seguinte. A menos que os dois invernos seguintes sejam amenos, o mercado europeu permanecerá “apertado”, e em nosso cenário está prevista a necessidade de interrupção da demanda como forma de equilibrar a região noroeste.
  • O crescimento robusto da capacidade de regaseificação (conversão de gás natural liquefeito) no Noroeste da Europa deve ajudar a trazer mais GNL para a região, mas não será capaz de compensar totalmente os cortes na oferta russa.
  • A Noruega, que registrou um recorde de exportações no “ano do gás” 2021-22 (117bcm), continuará maximizando a sua produção. As exportações de verão, no entanto, deverão ser menores, pois está programada uma manutenção de infraestrutura no SUM23.
  • Nosso cenário base de demanda foi calculado a partir do clima médio dos últimos 20 anos. Ele indica que o consumo total (LDZ e não LDZ) no Noroeste da Europa ficará em linha com o ano passado. Para isso, levamos em consideração a diminuição da demanda industrial que vem sendo observada nos últimos meses e que deverá se manter.
  • O clima continua sendo uma das maiores incertezas para a previsão de demanda e terá impacto significativo na capacidade europeia de equilibrar o mercado. Nossa principal conclusão é que, a menos que os dois próximos invernos sejam amenos, sem o gás russo, o mercado europeu permanecerá apertado e haverá a necessidade de se cortar a demanda para equilibrar o mercado do Noroeste da Europa. E, no caso de um período prolongado de temperaturas abaixo do normal, há um elevado risco de escassez de gás.

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