A posição da Argentina nos mercados globais está em risco mais uma vez, depois de o país ter agido nesta semana para restringir ainda mais o acesso a dólares em meio à queda das reservas internacionais, decisão que analistas dizem que abalará a tão necessária recuperação econômica e a confiança dos investidores.
Na terça-feira, o banco central apertou o controle para compra de dólares, aumentando para 35% a tributação da compra de dólares, limitada a uma cota mensal de 200 dólares, e afirmou que os pagamentos feitos com cartão no exterior seriam incluídos nessa cota. A autoridade monetária também limitou o acesso corporativo à moeda estrangeira.
A decisão desencadeou uma venda de títulos e ações locais, enquanto a cotação do dólar nos mercados paralelos disparou, ampliando a enorme diferença com a taxa oficial. Isso também colocou em risco a inclusão da Argentina no índice MSCI para mercados emergentes.
“Isso mostra desespero total”, disse Agustín Monteverde, economista da consultoria Massot Monteverde & Asociados, em Buenos Aires. “Eles acabaram de pendurar uma placa no pescoço que diz ‘colapso’.”
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Os controles mais rígidos evidenciam como o governo de esquerda peronista local está penando para atenuar as políticas intervencionistas que há muito perseguem o país, rico em recursos, apesar de ter fechado um importante acordo recente de reestruturação da dívida.
O banco central agora se encontra em uma posição precária, com as reservas líquidas caindo a 6,8 bilhões de dólares, incluindo as reservas de ouro, de acordo com uma estimativa do J.P. Morgan, apesar dos controles de capital implementados no ano passado.
Em nota, o Barclays afirmou que os controles iriam “comprar algum tempo”, mas as medidas, juntamente com a previsão do país de um déficit fiscal profundo de 4,5% em 2021, apontaram sinais preocupantes.
“Essa é mais uma evidência de que as autoridades não estão dispostas a lidarem com os desequilíbrios fiscais e monetários que estão causando a fuga de capitais e a drenagem das reservas. E elas enfraquecem as perspectivas de crescimento.”
A nação sul-americana está caminhando para uma contração econômica de 12% neste ano, o que marcaria o terceiro ano consecutivo de recessão, e acaba de sair de seu nono default soberano após reestruturar quase 110 bilhões de dólares em dívida em moeda estrangeira.
A Argentina enfrenta negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para postergar mais de 40 bilhões de dólares em pagamentos devidos nos próximos anos. Os investidores disseram que controles mais rigorosos podem complicar essas negociações.
Os controles de capital criaram uma divergência de quase 90% entre as cotações oficiais e paralelas do peso, enquanto o banco central imprimiu dinheiro para ajudar a apoiar medidas governamentais de emergência para combater as consequências da pandemia do coronavírus.
Enquanto isso, a demanda por dólares permanecia alta, com os argentinos há muito desconfiados com a estabilidade de sua moeda e a alta inflação, e temerosos de uma repetição das medidas draconianas de governos anteriores, incluindo conversões forçadas de depósitos em dólares para pesos.
As reservas do banco central estão oficialmente em 42,5 bilhões de dólares, embora em termos líquidos possam estar a níveis tão baixos quanto de 2,9 bilhões de dólares, excluindo o ouro, calcula o J.P. Morgan. Isso seria inferior aos 10,1 bilhões de dólares comparáveis no fim do ano passado.
(Reportagem adicional de Rodrigo Campos)
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