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Mercados de capitais globais quebram recordes durante 3º trimestre

Matthew Toole
Matthew Toole
Director, Deals Intelligence

Apesar da pandemia de Covid-19, e do consequente fechamento das economias ao redor do globo, os mercados de capitais têm apresentado resultados excepcionais até agora. Matthew Toole, Diretor de Deals Intelligence da Refinitiv, explica o porquê.


  1. No terceiro trimestre de 2020, os mercados de capitais bateram uma série de recordes. Para se ter uma ideia, apenas na esfera dos bancos de investimento, foram cobrados mais de US$ 90 bilhões em tarifas.
  2. Já o setor de M&A, atingiu um valor recorde de US$ 496 bilhões em mega transações durante o terceiro trimestre, o dobro do trimestre anterior.
  3. Enquanto isso, emissões de mercados de capital de dívida global (DCM) totalizaram US$ 8 trilhões durante os primeiros nove meses deste ano, outro recorde.

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Embora as transações de M&A tenham ficado compreensivelmente comprometidas no segundo trimestre, um aumento na atividade dos mercados de capitais (a partir da primavera no hemisfério norte) fez com que as tarifas dos bancos de investimento chegassem a recordes históricos nos primeiros nove meses de 2020.

Aliás, foram tantos recordes quebrados neste ano que até agora os dados estão sendo tabulados.

Tendências nos mercados de capitais

Os cerca de US$ 91 bilhões obtidos em taxas pelos bancos de investimento até o terceiro trimestre vão diretamente para o livro dos recordes, e apontam um aumento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço foi impulsionado por um aumento de 29% em títulos e de 70% em ações (conforme IPOs foram canceladas), o que compensou a queda de 11% em empréstimos e de 16% em M&A.

Parece incrível, mas todos os meses de 2020, exceto março, exibiram melhor desempenho do que o mês correspondente em 2019. Além disso, em janeiro, fevereiro, abril, junho, agosto e setembro tivemos as taxas mais altas para o período em todos os tempos.

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Os EUA ainda são presença dominante no mercado de títulos e M&A –tanto como adquirentes quanto alvos. Além disso, se destacam por um altíssimo índice de IPOs e emissões de ações ordinárias nas bolsas de valores norte-americanas.

Já no outro lado do globo, a Ásia conseguiu o feito de ultrapassar a Europa em 2020 como geradora de tarifas para todos os produtos de bancos de investimento.

M&A começam a disparar

No acumulado do ano, contamos com US$ 2,3 trilhões em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), uma queda de cerca de 18% em relação a 2019.

Mas, apesar do ensaio de retomada econômica global durante o verão não ter sido suficiente para compensar a fase de lockdown, já vemos grandes negócios em andamento e um índice recorde de mega M&As programadas.

Somente no terceiro trimestre, o valor global apurado com esse tipo de transação foi o dobro do visto no período anterior –e nos EUA, o triplo.

Em meio a um cenário como o atual, de incerteza sobre as perspectivas sanitárias e econômicas, o desempenho do mercado de M&A deixou muita gente de surpresa.

Se analisadas em conjunto, pode-se até dizer que as tarifas bancárias nesse mercado ainda estão baixas. Porém, é preciso chamar atenção para a performance daquelas instituições financeiras menores, que se encaixam no conceito de boutique. Essas conquistaram uma fatia inédita para a categoria: 39% do valor das tarifas apuradas no setor, em comparação aos 31% capturados pelos cinco maiores bancos. Sete dos dez maiores M&A do terceiro trimestre envolveram pelo menos um consultor dessas instituições menores.

O terceiro trimestre de 2020 também bateu recorde na área de mega negócios, com US$ 496 bilhões em apenas 37 transações. Isso foi mais do que o dobro do valor alcançado durante o mesmo período do ano passado, e o melhor desempenho de qualquer terceiro trimestre da história para mega-negócios de M&A.

Já um segmento que ficou longe de um bom desempenho foi o de M&A internacional. O montante total apurado não passou de US$ 803 bilhões, quase o mesmo valor de 2019 (mas com menos negócios no mercado intermediário).

Os negociadores recuaram ao considerar os desdobramentos da introdução de fronteiras mais rígidas sobre pessoas e bens na esteira da Covid-19, além do clima de crescente protecionismo dos últimos anos.

As M&As internacionais realizadas durante a primavera no hemisfério norte apuraram taxas de execução bem abaixo dos US$ 50 bilhões, nível aquem dos outros anos desta década.

Contudo, alguns negócios de grande porte, como a aquisição de postos de gasolina Speedway pela 7-Eleven (US$ 21 bilhões), ajudaram a elevar o valor do terceiro trimestre para US$ 360 bilhões.

Em relação ao panorama para os negócios, uma pesquisa com os participantes de nosso webinar Q3 Deep Dive indicou que 39% esperam que ‘Reestruturação e redução’ dominem as fusões e aquisições no próximo trimestre, seguido pela consolidação. Ninguém espera um retorno ao expansionismo geográfico tão cedo.

Ouça: Deal Making in Uncertain Times — A deep dive into Q3

Domínio tecnológico

Conforme antecipado pela Refinitiv DealMakers Sentiment Survey no início do ano, o setor de tecnologia lidera nos mercados de M&A, respondendo por 17% de todas as transações. Esse domínio aconteceu pela última vez quando as pessoas estavam preocupadas com o Bug do Milênio.

Constatamos que o segmento de tecnologia de médio porte sofreu um declínio muito menor do que os outros, amparado pelo crescimento e investimentos de capital privado, o que ajudou na saúde do setor como um todo.

Mais abaixo na tabela classificativa, está o setor de saúde. Em relação a valor, ele teve um desempenho fraco, com grandes quedas anuais. Mas é preciso ficar de olho no enorme mercado composto por negócios abaixo de US$ 10 bilhões e de US$ 5 bilhões.

Enquanto isso, os mais afetados pela pandemia –varejo e produtos básicos de consumo— precisarão de algum tempo até descobrir quais são os modelos operacionais, riscos e avaliações para o médio prazo. Só depois disso eles poderão retomar atividades que envolvam algum tipo de risco.

Private equity e SPACs

Um segmento do mercado em que investidores realmente estão se arriscando é o de private equity.

Após um ano de arrecadação recorde de fundos em 2019, já vimos mais de 5.500 transações nos primeiros nove meses de 2020, uma marca histórica. Isso alçou a percentagem de negócios financiados por patrocinadores para 16%, seu nível mais alto desde antes da crise financeira global.

No mesmo caminho, estão as Special Purpose Acquisition Companies (SPACs). A categoria voltou com força, e nos primeiros nove meses do ano já tivemos 118 IPOs de SPACs que levantaram US$ 41 bilhões.

Considerado um nicho de mercado no passado, a qualidade das SPACs tem conquistado investidores em peso. Parece que estamos apenas nos estágios iniciais de uma grande trajetória para a categoria, que não pode ser ignorada –nem que seja apenas pelo grande volume de capital que tem atraído.

Outro segmento bastante animado no momento é o mercado de dívidas globais, obviamente. Ele levantou US$ 8 trilhões no terceiro trimestre, impulsionado por emissões soberanas, corporativas e de agências sobre negócios que estariam bem se não fosse a pandemia. O setor também lucrou com várias incursões oportunistas de empresas de tecnologia que deram as caras nesse mercado apenas para aproveitar os descontos recordes disponíveis.

Enquanto isso, a forte demanda por investimentos mais conscientes continua a apoiar o financiamento sustentável, com um recorde histórico para títulos verdes, títulos de sustentabilidade e títulos sociais. Embora o segmento esteja crescendo a partir de uma pequena base, os bancos estão se organizando em torno desse tema e, por isso, devemos continuar observando-o.

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