Investidores esperavam que 2022 seria o ano em que a recuperação do mercado da crise da Covid-19 finalmente se consolidaria e a vida começaria a parecer um pouco mais normal. Mas eles estavam muito errados.
A invasão da Ucrânia pela Rússia combinada à inflação global em alta deram início a discussões sobre novas ordens geopolíticas e econômicas mundiais, estabelecendo alguns marcos impressionantes no processo.
Uma perda de 10 trilhões de dólares nas ações mundiais seguida de uma recuperação de 9 trilhões de dólares, uma queda nos mercados de títulos, o que está se tornando o rali mais forte das commodities desde a 1ª Guerra Mundial e o aumento mais rápido das taxas de juros globais em décadas.
Acrescente a isso o maior país do mundo sendo arrancado do sistema financeiro global, o maior rebaixamento de classificação de crédito soberano já visto e derrotas para o iene e ações chinesas e o quadro completo fica claro.
O principal impulsionador dos custos de empréstimos globais, o rendimento do Treasury de 10 anos, saltou de menos de 1,5% para 1,8% e derrubou 5% do índice global de ações da MSCI somente em janeiro.
Agora esse retorno está em 2,4%, e os yields das notas de dois anos dos EUA tiveram sua maior alta trimestral desde 1981. Mais de 200 pontos-base de elevações nas taxas de juros do Fed também são esperadas este ano, o que, caso se realize, seria a maior escalada em um ano civil desde 1994.
Os principais mercados de ações globais terminarão março em alta, mas todos devem registrar seu pior trimestre desde que a pandemia de coronavírus causou estragos pela primeira vez em 2020.
Essas mudanças sísmicas foram acompanhadas por altas de 40% nos preços do petróleo e do gás.
Somando-se ao aumento de 57% no níquel e a um salto de 31% nos preços do trigo, ambos impulsionados pela guerra na Ucrânia, e analistas do Bank of America estimam que as commodities estão a caminho de seu melhor ano desde 1915.
Essa “operação militar especial”, como Moscou a chama, fez a Rússia ser atingida por sanções ocidentais sem precedentes e levou alguns dos maiores fundos de investimento do mundo a falar em uma nova ordem mundial.
As empresas russas que tinham ações listadas em Londres e Nova York as removeram, o rublo não pode mais ser negociado livremente e os títulos governamentais e corporativos do país foram todos ejetados dos principais índices de investimento.
O presidente Vladimir Putin retaliou dizendo que lugares “hostis” como a Europa, onde a Alemanha obtém mais da metade de seu gás da Rússia, terão que começar a pagar pelas coisas em rublos.
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Montanha Russa nos Mercados Emergentes
Um transbordamento mais amplo afetou os mercados emergentes e atingiu os mais vulneráveis, mas impulsionou outros.
O Egito, que importa proporcionalmente mais trigo do que qualquer outro país, foi forçado a desvalorizar sua moeda em 15% e pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional, assim como a Tunísia e um Sri Lanka há muito resistente.
A dívida de mercados emergentes atualmente tem o segundo pior trimestre já registrado, com queda de quase 10% em uma base de retorno total, atrás apenas da baixa de 13,3% que a Covid induziu no primeiro trimestre de 2020.
Enquanto isso, países ricos em commodities, como o Brasil e a África do Sul, têm as moedas com melhor desempenho do mundo, com alta de 17% e 10%, respectivamente, desde o início do ano. O dólar australiano está no topo dentre as economias avançadas.
Alerta de Curva de Rendimento
Nesta semana também houve uma temida –embora breve– “inversão” de uma parte importante da curva de rendimento de títulos dos EUA que tem sido precursora de recessões econômicas.
É a primeira vez que isso acontece desde 2019, enquanto o avanço mais amplo dos retornos globais significa que a pilha de 18 trilhões de dólares em títulos de rendimento negativo que existia há alguns anos –em que os investidores pagavam pelo privilégio de emprestar– está quase no fim.
Também houve uma baixa de 9% no iene, ativo considerado seguro, em relação ao dólar este mês, a maior queda de uma moeda do G10 desde a da libra em 2016 por causa do Brexit.
A desvalorização trimestral ligeiramente menor do iene de 6% e uma baixa de 2% do euro significa que o dólar marcará sua terceira alta trimestral consecutiva ante os seus principais pares, embora na verdade esteja recuando em relação às moedas de mercados emergentes, apesar da ansiedade que os acontecimentos na Ucrânia causaram.
O rublo perdeu quase metade de seu valor logo após a invasão à Ucrânia, mas controles de capital rígidos e intervenções do banco central desde então o deixaram em uma queda mais administrável de 15% no ano.