Em seu mais recente encontro, o G7 se comprometeu a destinar US$ 100 bilhões por ano para um plano de investimento sustentável que impulsionaria novos projetos de infraestrutura verde em todo o mundo, mas com foco especialmente na África. Veja, neste post, como essa iniciativa tem sido absorvida pelas comunidades de investimento público e privado.
- O G7 prometeu disponiblizar US$ 100 bilhões anuais até 2025 para o financiamento de um projeto de investimento sustentável. O principal foco da iniciativa, porém, é a infraestrutura da África, já que o continente pretende se “reconstruir melhor” após o impacto da Covid-19.
- A África possui recursos naturais abundantes, que podem ajudar, entre outras coisas, no desenvolvimento da energia solar e hidrelétrica. A região também é rica em depósitos minerais.
- Até agora, no entanto, o aporte de investimento privado nesse projeto tem estado aquém do esperado.
Será que o apoio do G7 será suficiente para ajudar a África a desenvolver uma infraestrutura mais sustentável?
No comunicado da Cúpula do G7, que ocorreu no mês de junho em Carbis Bay, na Inglaterra, os membros do G7 se comprometeram com um investimento ambicioso: destinariam anualmente, até 2025, US$ 100 bilhões de fontes públicas e privadas para ajudar a estimular o desenvolvimento de “tecnologias, infraestrutura, ecossistemas, negócios, empregos e economias que irão abrir caminho para um futuro resiliente, com emissões líquidas zero e que não deixa ninguém para tras.”
O documento se dirige sobretudo às nações em desenvolvimento, dizendo que o G7 reconhece os desafios específicos que o financiamento da transição para economias com emissões líquidas zero representa para esses países, e defendem seus compromissos bilaterais e multilaterais de apoiar esses parceiros no contexto de esforços transparentes de descarbonização.
Investimento sustentável no continente africano
A nota emitida pelo G7 destaca particularmente a África, explicando: “À medida que avançamos com planos de recuperação para apoiar nossas economias e reconstruir melhor –em linha com a “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”—, por meio de medidas inovadoras e apoio orçamental maciço, os países em desenvolvimento, especialmente na África, não podem ser deixados para trás.
“Estamos profundamente preocupados com o fato de que a pandemia tenha atrasado o avanço em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e que continue a exacerbar as desigualdades globais.”
É difícil argumentar sobre a lógica desse foco. Para se ter uma ideia, apesar de a África contribuir com apenas 4% do total de emissões de carbono do mundo, é o continente mais vulnerável às mudanças climáticas. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), um aquecimento de 2 graus Celsius reduziria a produção agrícola na África Subsaariana em 10%.
Os modelos meteorológicos preditivos mais recentes, que cobrem um período de cinco anos, de 2020 a 2024, sugerem aquecimento contínuo e diminuição das chuvas, especialmente no Norte e Sul da África, e aumento da precipitação na região do Sahel.
Recursos naturais renováveis na África
É bom lembrar, no entanto, que o compromisso do G7 é mais do que apenas boa vontade com um continente que está na linha de frente das mudanças climáticas há anos. A África também é o lar de alguns dos maiores tesouros naturais do mundo.
Sete dos dez países mais ensolarados do planeta estão lá, o que torna a região o “cenário dos sonhos” para projetos solares; e sua vasta rede de rios é um patrimônio com enorme potencial hidrelétrico. Além disso, a África concentra a maioria dos depósitos de cromo e platina do globo, os quais são essenciais para o desenvolvimento de tecnologia verde, como baterias e células de combustível.
Ou seja, a combinação única entre urgência e oportunidade inexplorada pôs o continente sob os holofotes, como o epicentro do investimento em infraestrutura sustentável.
Essa postura é tão fundamental para os objetivos de sustentabilidade global que o presidente da União Europeia, Charles Michel, comentou na conclusão da cúpula: “A África precisa estar no centro de nossas futuras relações internacionais”. Ecoando essa declaração, o presidente francês Emanuel Macron chegou a pedir “um investimento maciço nas economias africanas”.
Embora todos os líderes mundiais pareçam concordar que a região está em uma posição única para se tornar um centro de industrialização e crescimento descarbonizado, os críticos questionam se apenas assumir esse compromisso é suficiente.
Catherine Pettengell, diretora da Climate Action Network, disse à Reuters que achava que o G7 falhou em aceitar o desafio de chegar a um acordo sobre compromissos concretos sobre o financiamento do clima. “Esperávamos que os líderes das nações mais ricas do mundo saíssem da cúpula deixando dinheiro sobre a mesa, não apenas palavras. ”
Os investidores privados vão dar as caras?
Embora US$ 100 bilhões por ano até 2025 seja uma promessa significativa, ainda existem vários detalhes que precisam ser resolvidos antes que um plano real de ação para a África possa ser desenvolvido. O principal deles é responder à pergunta: os investidores privados vão colaborar?
Até agora, não foi esse o caso.
Segundo dados da Refinitiv que rastreiam o investimento total em infraestrutura sustentável pelos países do G7 nos últimos cinco anos, as nações do G7 investiram cerca de US$ 22 bilhões em projetos de infraestrutura sustentável em seus próprios países, mas apenas US$ 3 bilhões na África.
E mais: entre os países do G7, o investimento privado em programas africanos de infraestrutura sustentável tem diminuído desde 2017, quando foi destinado US$ 1,5 bilhão ao continente; no ano seguinte, esse número já despencou para US$ 72 milhões. E até o momento, em 2021, foram investidos apenas US$ 42 milhões nesses projetos.
Para um movimento global, esse é um começo nada favorável. Entretanto, conforme os maiores governos do mundo forem colocando seu poder (e seus dólares) por trás da iniciativa, será possível capturar os corações e mentes dos investidores privados. Mas, por enquanto, ainda há um longo caminho a percorrer até que o movimento ganhe impulso entre os investidores institucionais, condição essencial do sucesso desse projeto.