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Políticas apoiadas por Yellen devem ajudar ativos de risco, mas levantam preocupações de longo prazo

Lewis Krauskopf
Lewis Krauskopf
Correspondente,Thomson Reuters

O apoio inequívoco da indicada pelo presidente eleito Joe Biden ao Tesouro, Janet Yellen, a um plano de recuperação da pandemia alimenta o otimismo de investidores que a recuperação dos ativos continuará, ao mesmo tempo que aumenta preocupações com uma maciça elevação da dívida governamental.

Em sua audiência de confirmação no Senado nesta terça-feira, a ex-chair do Federal Reserve pediu aos parlamentares que “agissem grande” em relação ao próximo pacote de alívio ao coronavírus, depois de Biden ter apresentado na semana passada uma proposta de estímulo de 1,9 trilhão de dólares como parte de uma agenda de política doméstica de pesados gastos públicos.

Embora se espere que o plano forneça um importante impulso à economia, investidores afirmaram que o estímulo maciço também pode aumentar os já enormes déficits e elevar os yields dos Treasuries, ao mesmo tempo que alimenta um rali que alguns temem já ter inflado bolhas em vários ativos.

Outros aspectos do plano de Biden, como o aumento dos impostos sobre as empresas e os ricos, também tiveram uma recepção mista.

“Obviamente, ela sente que a economia precisa dessa assistência e é uma questão de convencer o Senado”, disse Peter Cardillo, economista-chefe para mercado da Spartan Capital Securities. “Eu acredito que eles vão aprovar, veremos outro grande pacote e isso é positivo no curto prazo, mas negativo no longo prazo.”

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Desde que os democratas conquistaram o controle do Senado no início deste mês, abrindo caminho para um estímulo maior, o índice S&P 500 subiu cerca de 2%, com força particular de instituições financeiras, pequenas empresas e outras ações que devem apresentar bom desempenho em uma economia em recuperação.

Yellen discutiu algumas das preocupações de longo prazo do mercado na audiência desta terça-feira, durante o qual ela pediu aos parlamentares que aumentem os gastos neste momento e paguem as dívidas mais tarde.

“A trajetória fiscal de longo prazo é motivo de preocupação. É algo que iremos examinar… Mas também é importante que os Estados Unidos invistam”, disse Yellen ao Senado. “É importante lembrar que estamos em um ambiente de taxas de juros muito baixas.”

Yellen também disse que concordou que o plano de corte de impostos corporativos do presidente Donald Trump em 2017 melhorou a competitividade das empresas norte-americanas, e que Biden não estava propondo aumentar os impostos corporativos ao nível anterior a 2017. Mas ela disse que também é importante que as empresas e indivíduos ricos paguem sua parte justa.

“Como secretária do Tesouro, ela tem uma agenda bastante progressista que espera vender”, disse Jack Ablin, diretor de investimentos da Cresset Capital Management.

“Eu realmente acho que ela tem que caminhar sobre uma linha tênue entre se apresentar como uma formuladora de políticas sensatas, mas ao mesmo tempo abraçar os planos fiscais bastante abrangentes do presidente eleito Biden.”

Como chair do Fed e vice-chair anteriormente, Yellen presidiu o banco central durante um período de baixas taxas de juros, em que a economia emergia da crise financeira. Em um movimento que poderia minar qualquer crítica a ela por ser muito “dovish” acerca das políticas monetárias, ela estava no comando do Fed quando este tomou a controversa decisão, em dezembro de 2015, de elevar os juros do nível até então estabelecido, de zero.

Depois de o presidente do país, Donald Trump, ter pedido frequentemente um dólar mais fraco para impulsionar as exportações norte-americanas, Yellen afirmou nesta terça-feira a posição do Tesouro acerca do dólar, dizendo que o valor da divisa norte-americana e de outras moedas deveria ser determinado pelos mercados. Segundo Yellen, os Estados Unidos devem se opor às tentativas de outros países de manipularem artificialmente os valores das moedas para obter vantagens comerciais.

Win Thin, chefe global de estratégia cambial do BBH, disse em uma nota que os comentários de Yellen sobre a dinâmica da moeda constituíam parte de um esforço “destinado a sinalizar uma ampla mudança na política monetária em relação ao governo Trump”.

“Se nada mais, os mercados não estarão mais sujeitos à volatilidade relacionada a tuítes e isso é uma coisa boa”, disse ele.

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