A direção das SPACs (special purpose acquisition companies) durante este ano pode determinar seu status a longo prazo tanto nos mercados de capitais quanto no de M&A, já que, entre os deal makers, o grande receio é de que elas desapareçam tão rapidamente quanto surgiram.
- Apenas 19% dos entrevistados para a Refinitiv Deal Makers Sentiment Survey previram crescimento no segmento de SPACs (special purpose acquisition companies).
- Na América do Norte, inclusive, onde a atividade desse setor é maior, as mudanças regulatórias dos EUA diminuíram bastante o otimismo.
- No entanto, os participantes da nova pesquisa da Refinitiv ainda acreditam que há entusiastas desse mercado.
Cerca de 50% dos negociadores que responderam a nossa Deal Makers Sentiment Survey 2022 esperam que o número de lançamentos de “empresas de aquisição de propósito específico” (special purpose acquisition companies, ou SPACs) caia este ano. Apenas 19% dos respondentes apostam que o segmento registrará algum tipo de crescimento em 2022.
A cautela predominante contrasta com o período de extrema empolgação em torno desse novo mercado visto nos últimos dois anos, quando a atividade, até então insignificante, explodiu e atingiu um pico de US$ 35 bilhões em novas listagens de SPACs em março de 2021. Isso ocorreu à medida que essa maneira inovadora de “hackear” os investidores do mercado de ações se tornou mainstream (pelo menos nos EUA).
Depois disso, contudo, a expansão do setor acabou arrefecendo um pouco, e movimentou entre US$ 5 bilhões e US$ 12 bilhões por mês durante o resto do ano.
No final do outono no hemisfério norte, quando havia sinais de reaquecimento nesse mercado, a Refinitiv conduziu uma sondagem com deal makers para avaliar as perspectivas para o ano seguinte. No entanto, com as turbulências do primeiro trimestre de 2022, as SPACs ficaram praticamente congeladas.
Declínio esperado no mercado de SPACs
Na América do Norte, onde até agora se via a maior parte da atividade desse setor, uma série de mudanças regulatórias dos EUA jogaram um balde de água fria sobre a confiança dos negociadores, e, atualmente, mais da metade dos entrevistados espera um declínio no número de novas SPACs.
Isso tem ocorrido porque, com as novas regras, as SPACS não poderão mais pegar atalhos em seus processos de verificação, sendo obrigadas a realizar a due diligence antes de abordar uma empresa e durante todo o processo de fusão.
Ou seja, mesmo que o players do setor retomem o otimismo, esses novos regulamentos tornarão os procedimentos muito mais longos, reduzindo drasticamente a quantidade de negócios que podem ser concluídos em determinado período.
Entretanto, vale dizer que esse tom de cautela contrasta com o consenso de que os patrocinadores das SPACs continuarão, sim, a investir no mercado. Nossa pesquisa indica que 41% esperam novos investimentos no segmento em 2022.
O sentimento também é positivo em relação às perspectivas de as SPACs colocarem seu capital para trabalhar com sucesso, com 86% dos negociadores globais antecipando um amplo sucesso na aquisição de empresas-alvo adequadas.
Mas, afinal, as SPACs vieram para ficar?
Em nossas entrevistas com mais de 470 deal makers em todo o mundo, os temas “SPACs” e “SPACs versus IPOs” se mostraram recorrentes, mesmo para aqueles fora dos mercados de ações.
Isso, claro, é reflexo do crescimento repentino desse mercado, mas a grande questão é se esse aquecimento será algo passageiro (um ponto fora da curva nesse segmento) ou se as SPACs vão se tornar uma característica permanente –e importante— do cenário de Equity Capital Markets (ECM) e de M&A.
As descobertas da Refinitiv Deal Makers Sentiment Survey 2022 indicam um panorama um tanto sombrio, mas, afinal, este primeiro trimestre foi complicado para todas as estratégias de risco.
O que inferimos desta nova sondagem é que os acontecimentos deste ano –sejam eles do ponto de vista de desempenho, regulação ou de sentimento dos participantes do mercado— serão decisivos para selar o destino dessa estratégia inovadora que comprovou a existência de uma demanda para o mercado regulatório de arbitragem dos processos de IPOs.