Pela primeira vez na história, o petróleo chegou a ser negociado abaixo de zero. Certamente não foi a primeira vez que a oferta de uma mercadoria superou a demanda. Pense nos produtores de commodities agrícolas que jogam seus produtos fora para sustentar os preços, ou nas empresas que queimam ou expelem gás natural na atmosfera quando a cotação está muito baixa. Nunca, no entanto, havia ocorrido de o valor do petróleo chegar a zero e depois entrar em território negativo. Alessandro Sanos, diretor de desenvolvimento de mercado de commodities da Refinitiv, analisa por que isso aconteceu.
- A combinação do colapso da demanda devido às quarentenas causadas pela Covid-19 com o excesso de produção e queda dos preços resultantes da quebra do acordo OPEP+ levou as estruturas de armazenamento à capacidade máxima.
- Em geral, a renovação dos contratos WTI (West Texas Intermediate), referência para o mercado norte-americano da commodity, é um processo tranquilo. Mas o que aconteceu nessa ocasião específica foi que os detentores desses contratos não conseguiram revendê-los no dia anterior ao seu vencimento.
- A atenção estará voltada para a capacidade de armazenamento e para os contratos WTI que vencem em junho. Se a demanda não se recuperar em breve, o limite de manutenção de estoques nos dutos de Cushing e nos arredores forçará os investidores a liquidar novamente suas posições na data de vencimento desses contratos, empurrando mais uma vez o WTI para patamar negativo.
Por que isso aconteceu?
O preço do petróleo bruto depende de muitos fatores, como qualidade, oferta e demanda. Quando há um desequilíbrio entre esses dois últimos, a capacidade de armazenamento atua como um tipo de amortecedor. Ou seja, se a demanda cai, o excesso de petróleo que foi produzido passa a ser armazenado em tanques, navios-tanque ou oleodutos.
Mas, recentemente, a combinação do colapso da demanda devido às quarentenas causadas pela Covid-19 com o excesso de produção e queda dos preços resultantes da quebra do acordo OPEP+ levou as estruturas de armazenamento à capacidade máxima.
Para se ter uma ideia, nos últimos meses, a curva do preço do petróleo já havia mudado de “backwardation” para “contango”, o termo que descreve quando os preços spot de commodities estão sendo negociados mais baixos do que os de contratos futuros.
Contratos WTI: curvas históricas e em tempo real
Mas há também outra razão para o tombo sem precedentes que fez os preços do petróleo ingressaram em território negativo, e essa é intrínseca à natureza do contrato NYMEX WTI.
A terça-feira passada, 21 de abril, era a data final de negociação dos contratos futuros WTI para entrega em maio. Quando se vêem próximos ao vencimento do contrato, os traders podem tanto renovar sua exposição para o mês seguinte como receber (fisicamente) 1.000 barris de petróleo bruto em Cushing, Oklahoma, cidade famosa por abrigar a maior encruzilhada de oleodutos do mundo (“Pipeline Crossroad of the World”).
Níveis de armazenamento e fluxos dos oleodutos em Cushing, Oklahoma
Renovar o contrato WTI para o mês seguinte costuma ser uma negociação bem tranquila. Mas, nessa ocasião específica, quem estava com esse contrato em mãos não conseguiu revendê-lo no dia anterior ao vencimento.
Isso pode ter ocorrido por três motivos. Primeiro, porque não havia muito espaço sobrando nos pontos de armazenamento e nos oleodutos em Cushing. Ou então, pelo fato de alguns investidores, atraídos pelos baixos preços, terem comprado os contratos WTI de longo prazo sem a real compreensão de seu aspecto físico. Por fim –e isso certamente virá à tona nos próximos dias—, é possível que algo mais tenha acontecido nos bastidores.
Já os contratos do Brent –tipo de petróleo referência para os mercados europeu e asiático e que leva o nome de um campo de produção no Mar do Norte— não foram impactados de forma expressiva porque, diferentemente do WTI, são liquidados em dinheiro e não fisicamente, em produto.
O que isso significa?
Essa renovação sem precedentes de contratos não implica necessariamente que os preços do petróleo continuarão caindo. Na verdade, logo após a queda histórica, os preços retornaram ao patamar positivo.
A atenção agora estará voltada para a capacidade de armazenamento e para os contratos WTI que vencem em junho. Se a demanda não se recuperar em breve, o limite de manutenção de estoques nos dutos de Cushing e nos arredores forçará os investidores a liquidar novamente suas posições na data de vencimento desses contratos, empurrando mais uma vez o WTI para o negativo. E mais: se o armazenamento global se esgotar, o contrato do Brent poderá seguir o mesmo caminho do WTI.
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