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Por que o setor de transporte de contêineres encontra-se em desaceleração?

Amrit Singh
Amrit Singh
Lead Shipping Analyst, LSEG
Wadsworth Sykes
Wadsworth Sykes
Macroeconomic/ESG Proposition Specialist, Refinitiv

Especialistas da Refinitiv analisam o forte declínio nas taxas de transporte de contêineres, sem descartar a probabilidade de volatilidade adicional ao longo de 2023.


  1. Após atingirem patamares recordes em 2021, diante do enfraquecimento da onda global de Covid-19, as taxas de transporte de contêineres caíram.
  2. O declínio foi impulsionado pela instabilidade na economia global –com a guerra na Ucrânia atuando como catalisador para uma inflação galopante e as consequentes pioras no custo de vida em inúmeros países—, enquanto bancos centrais em todo o mundo aumentaram as taxas de juros.
  3. Em linha com as previsões do Fundo Monetário Internacional e da Organização Mundial do Comércio, os dados da Refinitiv apontam para uma fraca demanda no setor de transporte de contêineres em 2023.

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Diante da quantidade cada vez maior de produtos industrializados e intermediários transportada atualmente em grandes navios de carga ao redor do planeta, a atividade do setor global de transporte de contêineres é uma ótima fonte de informações sobre o sentimento geral do consumidor e a demanda por produtos manufaturados.

Nos últimos meses, os índices de frete de contêineres despencaram. Isso ocorreu logo após um período de grande aceleração na atividade do segmento na esteira da retomada econômica do pós pandemia.

Nas principais rotas da China para o leste e o oeste dos EUA, o Freightos Baltic Index indicou uma queda de 80% nas taxas à vista em relação aos números de setembro de 2021, o que coloca o mercado em níveis próximos aos de 2019.

Isso ocorre devido à fraqueza da economia global, principalmente em países como China, EUA e na Europa, que enfrentam hoje queda na demanda devido ao aumento da inflação e piora generalizada do custo de vida por causa da guerra na Ucrânia.

Outros fatores que contribuem para os índices atuais são a pouca demanda que costuma haver antes do Ano Novo Lunar chinês e as interrupções no fornecimento causada pelos recorrentes lockdowns relacionados a Covid-19 no país, além de muitos varejistas com estoques acumulados.

Freightos Baltic Index – China para Costa Oeste e Leste dos EUA

Fonte: Refinitiv Eikon

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Como pode ser visto nos gráficos abaixo, o volume de frete de contêineres diminuiu de agosto a novembro de 2022 em Los Angeles, em sintonia com a queda, no ano passado, no embarque em portos importantes, como Xangai, na China, devido às restrições relacionadas à Covid-19.

Chegada de contêiners no porto de Los Angeles (% m-m)

Fonte: Refinitiv Eikon

Embarque de contêineres em Xangai (TEU)

Fonte: Refinitiv Eikon

Interrupções nas cadeias de suprimentos causadas por congestionamento no embarque de navios porta-contêineres nos principais portos de carga e descarga da China e dos EUA começaram a diminuir, levando a um aumento na frota de navios porta-contêineres disponíveis ao redor do globo. E, com a maior oferta, obviamente caem os preços dos fretes.

Embarque de contêineres: tempo de espera em diferentes portos:

Los Angeles

Fonte: Refinitiv Eikon
Fonte: Refinitiv Eikon

Xangai

Fonte: Refinitiv Eikon

Como resultado da queda nas taxas spot, as empresas de contêineres passaram a gerenciar ativamente a sua capacidade operacional, reduzindo a velocidade das viagens e fazendo o que chamam de “blank sailings” (cancelamento de uma ou mais escalas e até de viagens programadas).

Assim, a velocidade média da frota de porta-contêineres grandes e médios diminuiu cerca de 10% em comparação ao ano de 2021. Com essa redução de velocidade, as empresas procuram cortar o suprimento de porta-contêineres ao mesmo tempo em que reduzem custos de combustível.

A correção da oferta devido a navios mais lentos ou ociosos deverá ajudar a restabelecer o equilíbrio entre oferta e demanda, o que, com o tempo, deverá elevar as taxas de frete.

Velocidade média da frota de porta-contêineres (navios médios e grandes)

Fonte: Refinitiv Eikon

Perspectivas econômicas e comerciais

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o crescimento global para este ano será lento, em torno de 2,7%; e entidade só não deverá cortar ainda mais essa previsão devido à aparente força do mercado de trabalho e a contenção dos preços do petróleo.

No entanto, prevalecem as incertezas, devido a vários fatores como a escalada da guerra na Ucrânia, probabilidade de eventos climáticos extremos, agitações sociais em alguns países e ataques cibernéticos.

E, se por um lado, o FMI espera que a China contribua novamente para o crescimento global a partir de meados de 2023 –dependendo de suas políticas para a Covid-19—, por outro, acredita que a economia dos Estados Unidos sofrerá uma leve recessão.

Já a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que o volume global de comércio de mercadorias cresça 1% neste ano, abaixo da previsão anterior de 3,4%. Um dos riscos seria o aumento das taxas de juros como forma de domar a inflação, o que poderia levar a um aperto excessivo, desencadeando recessão em alguns países e pressionando as importações para baixo.

Até o momento, contudo, as taxas de importação e exportação mostram que as tendências de navegação diferem ao redor do globo. Por exemplo, as importações que a Alemanha faz da Rússia não diminuíram tanto quanto as suas exportações para a Rússia, causando o maior déficit comercial de todos os tempos do ponto de vista alemão.

Comércio entre Alemanha e Rússia

Perspectivas de transporte de contêineres

Dadas as perspectivas do FMI e da OMC para 2023 (e com a China mantendo suas atuais políticas para a Covid-19), prevemos que o crescimento geral da demanda por contêineres será fraco em 2023, mas há otimismo com a melhora esperada para a última parte do ano.

Crescimento da frota de contêineres (LHS: TEUs e RHS: % de crescimento)

Fonte: Refinitiv Eikon

Em termos de crescimento da frota de contêineres, dado o período anterior de altas taxas de frete e grandes encomendas de contêineres, acreditamos em um aumento na oferta de tonelagem de cerca de 6,8% em 2023 e 2024, conforme dados da Refinitiv Eikon.

Prevemos ainda alguma quantidade de desmantelamento de tonelagem em 2023 e 2024 devido ao impacto dos novos Regulamentos Marítimos Internacionais para o Indicador de Intensidade de Carbono (CII) e Índice de Eficiência Energética de Navio Existente (EEXI).

Como visto nos gráficos anteriores, o congestionamento e os tempos de espera nos principais portos de carga e descarga estão diminuindo, e é improvável que restrinjam a oferta de contêineres.

Esperamos alguma volatilidade nas taxas de frete de contêineres, dependendo da exposição individual das linhas de contêineres às taxas spot e contratuais, ao mesmo tempo em que extraímos algum prêmio na ecotonelagem moderna.

No entanto, a experiência anterior do transporte de contêineres e sua capacidade de gerenciar a capacidade para restaurar o equilíbrio entre oferta e demanda levará a um declínio nas taxas, mas não aos níveis pré-pandêmicos.

Em suma, não acreditamos em um colapso do setor, mas, sim, que este ano será bastante desafiador para o transporte de contêineres ao redor do globo.

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