É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. Mas Jamie McGeever, da Reuters, observa que isso não é razão para desculparmos os analistas do mercado de ações pelos seus prognósticos, na maioria das vezes, incrivelmente otimistas.
- Quando a lenda do beisebol Yogi Berra (famoso também por suas frases de efeito) disse que é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro, ele com certeza não tinha em mente os analistas do mercado financeiro. Mas a afirmação do célebre jogador norte-americano, também expressa de maneira semelhante por outros, provavelmente se aplica tanto a previsões sobre o comportamento de ações, títulos e moedas quanto a qualquer outra coisa –como, por sinal, os incontroláveis eventos de 2022 (mais uma vez) ressaltaram.
- Dito isso, destacamos aqui como os analistas de Wall Street são notoriamente otimistas –ou bullish, para usar o termo preferido no mercado financeiro. Alguns dizem que é por causa das taxas que os bancos de investimento recebem das empresas constituintes do S&P 500, e por que ser otimista é bem melhor para angariar negócios. Além disso, como os mercados de ações costumam sempre subir, os anos de baixa são, por definição, surpresas.
- No entanto, é exatamente nesse momento que os clientes gostariam que seus bancos e consultores de investimento fizessem jus à sua remuneração.
As opiniões aqui expressas são do autor, colunista da Reuters.
Não é muito fácil fazer estimativas sobre quando ocorrerá ou não uma crise. Mas, em geral, elas sucedem um lento acúmulo de desequilíbrios financeiros, aumento das taxas de juros ou gatilhos específicos. Foi dessa forma com a Grande Depressão, os choques do petróleo dos anos 1970, a explosão da bolha da internet e o Lehman Brothers.
E, por incrível que pareça, alguns dos maiores crashes financeiros já registrados, como a Segunda-Feira Negra de outubro de 1987 e o tombo dos mercados no início da pandemia, em março de 2020, ocorreram em anos marcados pelo desempenho positivo dos mercados.
Ou seja, o poder de recuperação de quem investe em ECMs é imenso; assim como com o seu otimismo, o que pode explicar por que os analistas quase sempre preveem que o próximo ano será bom. E 2022 não foi exceção.
Uma pesquisa da Reuters realizada com quarenta e cinco analistas em 1º de dezembro de 2021 mostrou que a previsão mediana para o S&P 500 no fim de 2022 era de 4.910 pontos, o que no momento da publicação se traduzia em um avanço de 7,5%. Já a previsão de crescimento de ganhos médios foi de pouco menos de 8%.
O problema é que no final do ano passado o S&P 500 estava abaixo de 4.000 pontos, com baixa de 17% no acumulado do ano e a caminho de uma de suas maiores quedas em oitenta anos! E o crescimento dos lucros do quarto trimestre também foi negativo.

É verdade que quase ninguém previu a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, o caos que isso desencadeou nos mercados de commodities e de energia e, na sequência, a explosão da inflação global. Afinal, esses eventos significaram um grande golpe para as ações e outros ativos de risco.
Entretanto, não podemos ignorar que as pressões inflacionárias já se mostravam fortes em dezembro de 2021, com cadeias de suprimentos globais obstruídas e o presidente do Fed, Jerome Powell, e a secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertando (com poucos dias de diferença) que a inflação não era mais transitória.
Mesmo depois da invasão da Ucrânia pelo exército de Putin, que começou em 24 de fevereiro e trouxe a guerra às portas da Europa, a confiança de Wall Street (segundo alguns, arrogância) manteve-se em alta. Pesquisa da Reuters de maio do ano passado mostrou que a previsão mediana para o S&P 500 em dezembro de 2022 foi de 4.400 pontos, indicando, na época, um ganho de 11,7%.

Previsões de mercado mantêm-se otimistas
Diante da natureza desse complexo jogo, de previsões macroeconômicas e financeiras, uma coisa é certa: se você vai errar, torça para que a maioria de seus colegas também o façam. E podemos dizer que foi exatamente isso o que aconteceu este ano.
Em 7 de dezembro passado, Jim Reid, do Deutsche Bank, observou que apenas 19% dos setecentos e cinquenta entrevistados (a maioria deles, clientes) para a pesquisa do banco no final de 2021 achavam que o S&P 500 registraria um retorno negativo em 2022, e apenas 3% previam um declínio de mais de 15%.
E o mais espantoso é que isso tenha ocorrido apesar de os respondentes terem dito, corretamente, que os dois maiores riscos para 2022 eram inflação acima do esperado e um ciclo agressivo de aperto do Federal Reserve.
Mesmo assim, quase ninguém previu o quão poderosa seria a inflação e a resposta do Fed; apenas 2% dos entrevistados acreditavam que a alta dos preços ao consumidor nos EUA estaria acima de 7% até o final de 2022, e a estimativa média de aumento da taxa de juros era de 50 pontos base.
As previsões para o mercado de títulos dos EUA foram ainda mais desequilibradas: somente 2% dos participantes da sondagem do Deutsche Bank imaginaram que o rendimento do Tesouro de 10 anos terminaria 2022 acima de 3,0%, e apenas quatro indivíduos (!) disseram que ficaria acima de 3,5%. Atualmente, está em 3,48%.
“Se você for uma dessas quatro pessoas (entre as 750), envie-me um e-mail para me contar suas previsões para os próximos doze meses”, brincou Reid em uma nota de 7 de dezembro.
Bem, ninguém sabe o que 2023 nos reserva, mas as perspectivas gerais para Wall Street são, mais uma vez, bastante positivas. Sondagem da Reuters com quarenta e um estrategistas publicada em 29 de novembro passado “revelou” que o S&P 500 terminará este ano em 4200 pontos, alta de quase 7% em relação ao último fechamento de 2022.
Analistas do Citi, no entanto, avaliam que o consenso é muito otimista, e que os preços atuais do mercado de ações dos EUA sugerem um crescimento de lucros neste ano de não mais de 4%. Eles dizem ainda que uma recessão de ganhos está chegando e apontam que a queda média nos ganhos durante as recessões anteriores, ao longo do último meio século, foi de 28%. Portanto, otimistas, cuidado!
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