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Quais as perspectivas para os metais diante da desaceleração da economia global?

Tamara Thorne
Tamara Thorne
Senior Metals Analyst, Refinitiv

Com a demanda por minério de ferro abalada pela queda do consumo chinês e a crise energética europeia, analistas revelam suas expectativas para os mercados de commodities metálicas nos próximos meses.


  1. A combinação do enfraquecimento da demanda da China com a perspectiva de uma recessão econômica global teve impacto negativo no desempenho dos preços do minério de ferro este ano.
  2. O panorama do mercado de minério de ferro no curto e médio prazo permanece volátil devido a desafios estruturais significativos no setor imobiliário chinês, além da crise de energia na Europa, desaceleração do crescimento mundial, alta da generalizada da inflação e problemas nas cadeias de suprimentos ao redor do globo.
  3. A produção de aço europeia deve diminuir neste trimestre. Isso porque, com a queda da demanda e os altos custos dos insumos, as margens das usinas devem cair ainda mais nos próximos meses, como mostra o Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês).

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Os conflitos globais vêm gerando impacto significativo no mercado de metais. Se examinarmos, por exemplo, a oscilação dos preços dessas commodities desde o início da guerra na Ucrânia, vemos que níquel, alumínio e cobre foram os mais afetados. E a cotação do minério de ferro despencou 33% desde então.

No entanto, se não há dúvidas de que o choque no preço do níquel foi causado diretamente pela invasão russa da Ucrânia, o mesmo não podemos dizer sobre o minério de ferro, que vem sendo desvalorizado em função da menor demanda da China.

Fonte: Eikon Refinitiv. Index 24 February 2022=100

Refinitiv – Commodities metálicas e aço: cobertura global do mercado de metais que engloba dados de câmbio, fundamentos e previsões de oferta e demanda

Minério de ferro: guerra na Ucrânia afeta exportações

De acordo com dados da Refinitiv, os fluxos marítimos globais de minério de ferro (em navios que saíram dos portos) caíram 3% no terceiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2021. Esse declínio é atribuído a menores embarques da Índia e da Ucrânia, que diminuíram em 44% e 88%, respectivamente, durante o período.

A participação da Ucrânia nas exportações globais de minério de ferro ficou em torno de 1,5% no ano passado. Em 2022, com a guerra e a suspensão de operações nas usinas, houve muitos problemas logísticos, mas, mesmo assim, o país conseguiu embarcar 438.000 toneladas do metal em setembro, o que representa um aumento colossal (132%) em relação ao mês anterior.

Já a enorme redução das exportações marítimas da Índia foi provocada por um novo imposto governamental de 50% (introduzido em maio deste ano) sobre todos os embarques de minério de ferro do país.

Enquanto isso, no último trimestre os embarques dos três maiores exportadores (Austrália, Brasil e África do Sul) permaneceram praticamente inalterados em relação a 2021; a única anormalidade parece ter sido chuvas mais fortes do que o esperado na Austrália.

No que diz respeito às importações, a China foi responsável pela compra de 69% dos embarques globais de minério de ferro no ano passado. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da China, o setor de construção respondeu por 39% do uso de aço no país.

Os analistas de mercado ressaltam, contudo, que esses números são bem menores do que os esperados para a potência asiática, e que a demanda doméstica de aço na China tem sido fraca devido a desafios estruturais no setor imobiliário e à manutenção de rígidas políticas anti-Covid-19.

Aço: demanda em baixa na Europa

Com uma combinação de escalada inflacionária, desaceleração econômica e altos custos de energia, a Europa viu a sua demanda de aço cair para o nível mais baixo dos últimos meses.

Fonte: S&P Global, Comissão Europeia, Refinitiv Datastream via Eikon Refinitiv

Segundo a Eurofer, em 2021, 37% do aço acabado foi usado no setor de construção. Mas, em setembro, o Índice de Confiança na Construção da UE caiu para 1,6, queda de 1,8 pontos em relação a agosto e a mínima em dezoito meses.

Por outro lado, num tom mais positivo, devemos lembrar que 16% do aço acabado foi empregado na indústria automotiva, e em setembro os novos registros de automóveis de passageiros na UE atingiram 650.305 unidades, crescimento de 4,4% em relação a 2021 (após treze meses consecutivos de declínio).

Fonte: Comissão Europeia, ACEA. Refinitiv Datastream via Eikon Refinitiv

O impacto dos altos custos de energia

No curto prazo, os custos de energia seguirão como o principal fator por trás das perspectivas sombrias para a indústria siderúrgica e a economia europeia. Isso porque a maioria dos altos-fornos (blast furnaces ou BFs) na Europa é particularmente vulnerável a tarifas de energia mais altas.

Além dos preços em franca escalada, as siderúrgicas também estão sob pressão devido às licenças de carbono e ao aumento dos gastos com logística. Portanto, os custos gerais do setor, incluindo BFs de reinício e operação no pós-pandemia, além de financiamento comercial, cresceram significativamente. E, claro, tudo isso cria as condições perfeitas para fechamentos de usinas.

*Fechamento adiado e implementado plano de redução de produção. Não se conhece o impacto no resultado.
Fonte: S&P Global, Refinitiv. Nota: estimativas de capacidades

Quais são as perspectivas?

Diante do que foi exposto, vemos claramente que a associação do enfraquecimento da demanda na China à expectativa de uma recessão econômica global prejudicou o desempenho dos preços do minério de ferro este ano. No entanto, no longo prazo, a previsão para a demanda de minério de ferro permanece positiva.

Ao mesmo tempo, o panorama dos mercados de curto e médio prazo segue volátil. Isso ocorre devido a sérios desafios estruturais no setor imobiliário chinês, além da crise energética na Europa, desaceleração do crescimento global, aumento da inflação e interrupções nas cadeias de suprimentos em todo o mundo.

Em relação à demanda downstream, a produção de aço europeia deve cair, já que as margens das usinas devem diminuir ainda mais no segundo semestre deste ano em função da menor demanda e dos altos custos dos insumos. Assim, mais cortes de produção são esperados no quarto trimestre.

E, por último, há ainda a política antiinflacionária do BCE, que deve prejudicar a indústria da construção e a demanda dos consumidores por automóveis.

Refinitiv – Commodities metálicas e aço: cobertura global do mercado de metais que engloba dados de câmbio, fundamentos e previsões de oferta e demanda