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Segundo semestre de 2022 foi marcado pela pior desaceleração já vista no setor global de M&A

Matthew Toole
Matthew Toole
Director, Deals Intelligence

Desde o início de 2022, sempre se soube que seria difícil para o setor de fusões e aquisições manter o nível de atividade do ano anterior. O que ninguém imaginava, no entanto, era que o tombo seria tão grande –e em todas as regiões do globo.


  1. Do mês de junho até o fim de 2022, o valor das operações globais de M&A encolheu 33%.
  2. E a maioria das quedas vistas nos mercados internacionais se estendeu até o quarto trimestre do ano passado, com exceção dos EUA, onde houve um certo nivelamento.
  3. Também vimos um recuo dos patrocinadores de private equity, em linha com o mercado.

Será que, como dizem, depois da enchente, agora é a hora da seca?

Bem, talvez ainda seja prematuro para cravar algo assim, mas após o ano de 2021, de plena expansão, os acordos de fusão e aquisição em todo o mundo sofreram um grande revés, e o segundo semestre de 2022 apresentou atividade 33% menor do que os seis meses anteriores –o maior recuo para um segundo semestre desde o início dos registros, em 1980.

E, em comparação ao mesmo período do ano passado, o declínio foi ainda mais dramático: 37%, o que representa a queda mais acentuada desde 2001.

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O valor total arrecadado no setor de M&A no segundo trimestre de 2022, US$ 3,6 trilhões, derivou principalmente de negócios maiores, fazendo com que o número de transações caísse 17%, a mínima em dois anos.

Já a fatia dos maiores negócios –aqueles de onze dígitos— teve retração de 31% em valor durante todo o ano passado, enquanto o segmento dos mega negócios como um todo (aqueles que valem mais de US$ 5 bilhões) despencou 41% em valor, para US$ 1,1 trilhão, com quase a metade das transações de 2022.

No mercado chamado de intermediário (entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões) a situação é semelhante: queda de 44% na arrecadação e de 42% em número de operações.

Ainda há poucos sinais, porém, de que o mercado atingiu seu piso, já que vimos essa fraqueza se acentuando nos últimos três meses do ano, o que representou o período trimestral mais lento desde abril-junho de 2020. ´

É importante dizer, também, que as retrações em 2022 foram generalizadas, sem nenhuma região, tipo de negócio ou setor poupado das quedas de dois dígitos na arena de M&A.

EUA em destaque

Em meio ao marasmo geral, acreditamos que os Estados Unidos podem ser a exceção. No acumulado do ano, o mercado norte-americano liderou o recuo dos negócios de M&A, com um declínio de 38%, para US$ 1,5 trilhão –mal superando 2020, ano que a maioria dos deal makers esperava esquecer.

Há, contudo, alguns sinais de que podemos estar chegando a uma espécie de platô (ou a alguma posição ainda melhor), e a alta de 23% na arrecadação do quarto trimestre está entre eles.

Já na Europa, nenhum vislumbre de esperança parece ser possível, com a atividade da região afundando 39% em 2022 e os negócios somando apenas US$ 850,7 bilhões, a mínima de três anos.

Ao contrário dos EUA, no continente europeu a situação piorou ainda mais no quarto trimestre: a arrecadação do setor de M&A baixou 41% em comparação aos três meses anteriores.

A Europa também foi a região onde vimos o maior número de fracassos nas transações de fusões e aquisições, com 43% dos negócios interrompidos envolvendo um alvo europeu, a maior participação desde 2008.

A Ásia-Pacífico seguiu na mesma toada do velho continente, com o setor de M&A caindo 32% em 2022 e atingindo somente US$ 830,7 bilhões em valor de negócios, a pior baixa em dois anos.

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Patrocinadores cautelosos, SPACs deixados de lado

Ao contrário de outros períodos de alta volatilidade nos últimos anos, as Companhias com Propósito Específico de Aquisição (SPACs, na sigla em inglês) e os investidores de private equity não conseguiram socorrer o setor de M&A.

O segmento de fusões e aquisições apoiadas por patrocinadores encolheu 36% em 2022 (total de US$ 784,5 bilhões). No entanto, apesar desse recuo, ainda conseguiu manter uma fatia histórica (22%) do mercado geral de M&A.

Também vimos uma queda acentuada na atividade de private equity na Ásia, com aquisições patrocinadas caindo 54% –para US$ 123,1 bilhões, maior baixa em três anos.

Mas, mais uma prova do nível frenético de atividade de 2021 (e que não deve se repetir tão cedo) é que, mesmo após esse enorme declínio, 2022 ainda foi o segundo ano mais movimentado para M&As apoiadas por private equity já registrado.

As SPACs, por sua vez, representaram apenas 3% dos negócios em 2022, abaixo dos 10% do ano anterior.

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Três grandes negócios envolvendo gigantes da tecnologia

O segmento de tecnologia responde por 36% das transações do setor global de M&A. No entanto, vale destacar que 20% do mercado de fusões e aquisições em 2022 foi composto por apenas três mega negócios: a fusão de $ 68,7 bilhões da Microsoft com a Activision Blizzard; a aquisição de US$ 68,3 bilhões da VMware pela Broadcom; e a compra do Twitter pela X Holding de Elon Musk, por US$ 40,3 bilhões.

Já as M&As envolvendo empresas do segmento de energia caíram 19%, representando 13% do mercado total. Logo atrás, tivemos o  setor industrial, com 12%. Enquanto isso, os negócios do setor financeiro foram particularmente atingidos, caindo 44% e somando apenas US$ 390,7 bilhões ao longo de 2022.

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Situação das M&As transfronteiriças

Em meio a esse mercado em crise, os negócios internacionais foram particularmente afetados, com uma queda de 46% em 2022 (para US$ 1,1 trilhão).

Os adquirentes norte-americanos foram responsáveis por 40% das fusões e aquisições mundiais em 2022, totalizando US$ 450,8 bilhões. Sozinhos, eles responderam por um quarto dos negócios, e o Reino Unido, por 10%.

Por outro lado, as aquisições da China no exterior representaram apenas 2% da atividade internacional. Mesmo assim, o país asiático continua sendo o principal comprador dos mercados emergentes, com a Índia em um distante segundo lugar.

Já as taxas de bancos de investimento acompanharam o ritmo de atividade do mercado, diminuindo 33% em relação ao recorde do ano anterior, com uma arrecadação de apenas US$ 110,5 bilhões. Em consequência, os mais prejudicados foram os mercados de capitais, que viram as taxas caírem 66% no acumulado do ano. Com exceção do CITIC, todos os dez principais bancos que costumam faturar alto com taxas de M&As tiveram quedas percentuais de dois dígitos em relação a 2021 (e um deles viu seus ganhos caírem para menos da metade).

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