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Sua empresa está preparada para lidar com os riscos relacionados à crise climática?

Florian Gallo
Florian Gallo
Senior Research Lead, Physical Climate Risk, LSEG

Com as atuais mudanças no clima global, a probabilidade de que riscos físicos afetem sua empresa torna-se cada vez maior. Diante dessa nova realidade, incorporar análises climáticas no planejamento dos negócios pode ajudar as organizações a navegar por esse novo cenário, além de criar ótimas oportunidades para os investidores.


  1. Os riscos físicos associados à mudança do clima já atingem empresas no mundo todo. Eles surgem, por exemplo, na forma de eventos climáticos extremos ou maiores custos de energia e passivos de carbono, que podem significar atrasos no desenvolvimento de projetos, como construções, ou mesmo danos aos ativos.
  2. O papel da Força-Tarefa para Divulgação Financeira Relacionada ao Clima (TCFD, na sigla em inglês) é melhorar a compreensão das implicações do chamado “risco climático físico”.
  3. Para se adaptar ao impacto dos riscos físicos relacionados às mudanças climáticas, organizações dos mais variados setores da economia precisarão incorporar a análise climática em todas as previsões e planejamentos, além de serem capazes de avaliar os perigos em diversos cenários e períodos de tempo.

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A cada ano, observamos os efeitos das mudanças climáticas tendo um impacto maior no cenário de investimentos e na saúde financeira das empresas.

E, se falharmos em mitigar essa urgente crise global, provavelmente teremos ainda mais ameaças relacionadas a eventos climáticos extremos, custos de energia e passivos de carbono –problemas que, por sinal, já vêm afetando corporações ao redor do mundo e podem resultar em atrasos no desenvolvimento e construções de projetos, queda da produção e danos aos ativos, entre outras consequências.

Faça o download do artigo completo: “Navigating Climate-Related Physical Risks”

Quais são os riscos relacionados às mudanças no clima?

A Força-Tarefa para Divulgação Financeira Relacionada ao Clima (TCFD) é uma iniciativa impulsionada pelo mercado e foi estabelecida pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) do G20. Seu papel é principalmente aprimorar a divulgação de informações financeiras relacionadas ao clima.

De acordo com a TCFD, os riscos climáticos se enquadram em duas categorias:

  1. Riscos de transição: consistem em riscos financeiros que podem resultar do processo de transição para uma economia de baixo carbono.
  2. Riscos físicos: são aqueles decorrentes dos efeitos físicos das mudanças climáticas sobre meios de subsistência, atividades e bens. Bons exemplos de risco físico são o aumento das secas (com a consequente escassez de água e maior ocorrência de incêndios florestais) e de danos materiais para as empresas devido a ciclones cada vez mais frequentes.

Até agora, no entanto, as avaliações de risco climático vinham se concentrando especialmente nos riscos de transição.

Mas, com a crescente atenção para a nova realidade do clima global e a maior disponibilidade de dados climáticos, os riscos físicos também têm começado a ganhar destaque. Inclusive, na COP 27, realizada no final de 2022 no Egito, as negociações em torno de um fundo de “perdas e danos” para os países em desenvolvimento –aqueles especialmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas– estiveram sob os holofotes durante todo o evento.

Bem, mas o que isso significa para os investidores? E, principalmente: como dados corporativos e modelos climáticos podem ajudar as empresas a entender melhor os riscos físicos associados a seus investimentos e implementar planos de adaptação para gerenciá-los enquanto apoiam a transição para uma economia de baixo carbono?

Novo cenário global

O mundo está enfrentando uma nova realidade, em que nos deparamos com eventos climáticos mais frequentes e extremos, como furacões, secas prolongadas, ciclones, inundações e ondas de calor –todos os quais estão previstos para aumentar tanto em gravidade quanto em frequência.

Portanto, não há outra saída: temos que aprender a nos adaptar a esses episódios climáticos extremos.

Em 2021, por exemplo, as perdas globais decorrentes de desastres naturais foram estimadas em US$ 280 bilhões. Para se ter uma ideia, somente os Estados Unidos amargaram mais de US$ 65 bilhões em prejuízos com o furacão Ida, e a Europa, cerca de US$ 50 bilhões com grandes inundações (1).

Nos últimos 20 anos, as perdas seguradas por catástrofes naturais têm seguido uma tendência ascendente, com crescimento anual de 5% a 7% (2).

Perdas anuais (seguradas) decorrentes de eventos climáticos e média móvel de 10 anos (linha preta)

Fonte: Swiss Re, 2022

Embora menos “espetaculares” do que os fenômenos climáticos extremos, os efeitos crônicos (e interligados) de longo prazo, como escassez de água e rendimentos decrescentes, deverão ser mais debilitantes a longo prazo.

Assim, o fracasso em amenizar as mudanças climáticas seria algo catastrófico, colocando bilhões de pessoas em risco e causando danos e perdas anuais estimados em mais de US$ 20 trilhões até o final deste século (3).

Obviamente, os inúmeros esforços de mitigação para manter o aquecimento global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme descrito no Acordo de Paris, limitariam de forma significativa esses impactos.

Porém, mesmo nesse “cenário dos sonhos”, os riscos climáticos físicos continuarão a crescer nas próximas décadas. E a dura realidade é que sociedades, empresas e investidores precisarão se adaptar para viver (e fazer negócios) em um planeta mais quente.

Alguns efeitos físicos da crise climática global

O problema é que em um mundo mais quente, teremos que lidar com riscos extremos e crônicos que deverão impactar os negócios em toda a sua cadeia de valor, seja com interrupção do fornecimento de matérias-primas, impacto na demanda do mercado ou falhas nos sistemas de entrega.

E, para setores de capital intensivo, os impactos físicos e operacionais nos ativos de uma empresa –como danos relacionados a inundações em instalações de produção e diminuição da produtividade devido ao calor— estão entre as principais ameaças.

Por exemplo, os riscos para o setor de mineração e sua cadeia de suprimentos são indiscutíveis.

Com muitas minas localizadas em ambientes físicos remotos e desafiadores, os efeitos das mudanças climáticas, incluindo padrões climáticos extremos e a escassa disponibilidade de recursos críticos, como água, inevitavelmente aumentam os desafios dos negócios.

A agroindústria é outro exemplo de setor que enfrenta riscos físicos elevados, com investimentos de longo prazo, medidas de adaptação e desenvolvimentos tecnológicos necessários para diminuir os impactos do aumento das temperaturas e da imprevisibilidade do nível de precipitação sobre o rendimento das culturas.

Como reagir aos riscos (e oportunidades)

Em todos os setores da economia, as equipes de gestão das organizações terão que incorporar análises climáticas em suas previsões e planejamentos, além de serem capazes de avaliar as principais ameaças em diferentes cenários e períodos de tempo.

Com uma estratégia de adaptação sólida e maior ênfase em práticas sustentáveis e eficiência, as empresas têm que se preparar para minimizar os impactos desse ambiente em mudança.

Além disso, é necessário uma completa análise dos riscos relacionados ao clima para entender os impactos das operações nas regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas.

Faça o download do artigo completo: “Navigating Climate-Related Physical Risks”

  1. MunichRe, 2022. Weather disasters in USA dominate natural disaster losses in 2021, Press Release. Last accessed on 28 November 2022.
  2. SwissRe, 2022. Natural catastrophes in 2021: the floodgates are open. Last accessed on 12 January 2023.
  3. Kompas, T., Pham, V. H., & Che, T. N., 2018. The effects of climate change on GDP by country and the global economic gains from complying with the Paris Climate Accord. Earth’s Future, 6, 1153–1173.