Com as atuais mudanças no clima global, a probabilidade de que riscos físicos afetem sua empresa torna-se cada vez maior. Diante dessa nova realidade, incorporar análises climáticas no planejamento dos negócios pode ajudar as organizações a navegar por esse novo cenário, além de criar ótimas oportunidades para os investidores.
- Os riscos físicos associados à mudança do clima já atingem empresas no mundo todo. Eles surgem, por exemplo, na forma de eventos climáticos extremos ou maiores custos de energia e passivos de carbono, que podem significar atrasos no desenvolvimento de projetos, como construções, ou mesmo danos aos ativos.
- O papel da Força-Tarefa para Divulgação Financeira Relacionada ao Clima (TCFD, na sigla em inglês) é melhorar a compreensão das implicações do chamado “risco climático físico”.
- Para se adaptar ao impacto dos riscos físicos relacionados às mudanças climáticas, organizações dos mais variados setores da economia precisarão incorporar a análise climática em todas as previsões e planejamentos, além de serem capazes de avaliar os perigos em diversos cenários e períodos de tempo.
A cada ano, observamos os efeitos das mudanças climáticas tendo um impacto maior no cenário de investimentos e na saúde financeira das empresas.
E, se falharmos em mitigar essa urgente crise global, provavelmente teremos ainda mais ameaças relacionadas a eventos climáticos extremos, custos de energia e passivos de carbono –problemas que, por sinal, já vêm afetando corporações ao redor do mundo e podem resultar em atrasos no desenvolvimento e construções de projetos, queda da produção e danos aos ativos, entre outras consequências.
Faça o download do artigo completo: “Navigating Climate-Related Physical Risks”
Quais são os riscos relacionados às mudanças no clima?
A Força-Tarefa para Divulgação Financeira Relacionada ao Clima (TCFD) é uma iniciativa impulsionada pelo mercado e foi estabelecida pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) do G20. Seu papel é principalmente aprimorar a divulgação de informações financeiras relacionadas ao clima.
De acordo com a TCFD, os riscos climáticos se enquadram em duas categorias:
- Riscos de transição: consistem em riscos financeiros que podem resultar do processo de transição para uma economia de baixo carbono.
- Riscos físicos: são aqueles decorrentes dos efeitos físicos das mudanças climáticas sobre meios de subsistência, atividades e bens. Bons exemplos de risco físico são o aumento das secas (com a consequente escassez de água e maior ocorrência de incêndios florestais) e de danos materiais para as empresas devido a ciclones cada vez mais frequentes.
Até agora, no entanto, as avaliações de risco climático vinham se concentrando especialmente nos riscos de transição.
Mas, com a crescente atenção para a nova realidade do clima global e a maior disponibilidade de dados climáticos, os riscos físicos também têm começado a ganhar destaque. Inclusive, na COP 27, realizada no final de 2022 no Egito, as negociações em torno de um fundo de “perdas e danos” para os países em desenvolvimento –aqueles especialmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas– estiveram sob os holofotes durante todo o evento.
Bem, mas o que isso significa para os investidores? E, principalmente: como dados corporativos e modelos climáticos podem ajudar as empresas a entender melhor os riscos físicos associados a seus investimentos e implementar planos de adaptação para gerenciá-los enquanto apoiam a transição para uma economia de baixo carbono?
Novo cenário global
O mundo está enfrentando uma nova realidade, em que nos deparamos com eventos climáticos mais frequentes e extremos, como furacões, secas prolongadas, ciclones, inundações e ondas de calor –todos os quais estão previstos para aumentar tanto em gravidade quanto em frequência.
Portanto, não há outra saída: temos que aprender a nos adaptar a esses episódios climáticos extremos.
Em 2021, por exemplo, as perdas globais decorrentes de desastres naturais foram estimadas em US$ 280 bilhões. Para se ter uma ideia, somente os Estados Unidos amargaram mais de US$ 65 bilhões em prejuízos com o furacão Ida, e a Europa, cerca de US$ 50 bilhões com grandes inundações (1).
Nos últimos 20 anos, as perdas seguradas por catástrofes naturais têm seguido uma tendência ascendente, com crescimento anual de 5% a 7% (2).
Perdas anuais (seguradas) decorrentes de eventos climáticos e média móvel de 10 anos (linha preta)

Embora menos “espetaculares” do que os fenômenos climáticos extremos, os efeitos crônicos (e interligados) de longo prazo, como escassez de água e rendimentos decrescentes, deverão ser mais debilitantes a longo prazo.
Assim, o fracasso em amenizar as mudanças climáticas seria algo catastrófico, colocando bilhões de pessoas em risco e causando danos e perdas anuais estimados em mais de US$ 20 trilhões até o final deste século (3).
Obviamente, os inúmeros esforços de mitigação para manter o aquecimento global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme descrito no Acordo de Paris, limitariam de forma significativa esses impactos.
Porém, mesmo nesse “cenário dos sonhos”, os riscos climáticos físicos continuarão a crescer nas próximas décadas. E a dura realidade é que sociedades, empresas e investidores precisarão se adaptar para viver (e fazer negócios) em um planeta mais quente.
Alguns efeitos físicos da crise climática global
O problema é que em um mundo mais quente, teremos que lidar com riscos extremos e crônicos que deverão impactar os negócios em toda a sua cadeia de valor, seja com interrupção do fornecimento de matérias-primas, impacto na demanda do mercado ou falhas nos sistemas de entrega.
E, para setores de capital intensivo, os impactos físicos e operacionais nos ativos de uma empresa –como danos relacionados a inundações em instalações de produção e diminuição da produtividade devido ao calor— estão entre as principais ameaças.
Por exemplo, os riscos para o setor de mineração e sua cadeia de suprimentos são indiscutíveis.
Com muitas minas localizadas em ambientes físicos remotos e desafiadores, os efeitos das mudanças climáticas, incluindo padrões climáticos extremos e a escassa disponibilidade de recursos críticos, como água, inevitavelmente aumentam os desafios dos negócios.
A agroindústria é outro exemplo de setor que enfrenta riscos físicos elevados, com investimentos de longo prazo, medidas de adaptação e desenvolvimentos tecnológicos necessários para diminuir os impactos do aumento das temperaturas e da imprevisibilidade do nível de precipitação sobre o rendimento das culturas.
Como reagir aos riscos (e oportunidades)
Em todos os setores da economia, as equipes de gestão das organizações terão que incorporar análises climáticas em suas previsões e planejamentos, além de serem capazes de avaliar as principais ameaças em diferentes cenários e períodos de tempo.
Com uma estratégia de adaptação sólida e maior ênfase em práticas sustentáveis e eficiência, as empresas têm que se preparar para minimizar os impactos desse ambiente em mudança.
Além disso, é necessário uma completa análise dos riscos relacionados ao clima para entender os impactos das operações nas regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas.
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- MunichRe, 2022. Weather disasters in USA dominate natural disaster losses in 2021, Press Release. Last accessed on 28 November 2022.
- SwissRe, 2022. Natural catastrophes in 2021: the floodgates are open. Last accessed on 12 January 2023.
- Kompas, T., Pham, V. H., & Che, T. N., 2018. The effects of climate change on GDP by country and the global economic gains from complying with the Paris Climate Accord. Earth’s Future, 6, 1153–1173.